quarta-feira, outubro 31, 2012

Novembro na Cinemateca Portuguesa



Chantal Akerman, Luís Noronha da Costa, Victor Erice, Isaki Lacuesta, Jose Luis Guerín, José Mojica Marins, Júlio Bressane, Ozualdo Candeias.

Programação sempre essencial, variada e resistente a qualquer "despacho do Senhor Ministro de Estado e das Finanças".

When Movie Marketing Goes Very Right #4

Poster internacional para STOKER, de Chan-wook Park:





terça-feira, outubro 30, 2012

Curiosidade da Semana



Os "gags de filmagens", esse extra tão popular de DVD e Blu-Ray, nunca teve uma dimensão tão histórica.

Humphrey Bogart, fora do sisudo glamour a que nos habituou, jocoso e paciente perante os erros dos colegas mas frustrado com os seus. Imperdível:



[Fonte: Turner Classic Movies.]

domingo, outubro 28, 2012

VISÕES DE MADREDEUS (2012), de Edgar Pêra



Cine-diários dos Madredeus, de 1987 a 2006, da Europa ao Oriente. — Doclisboa 2012.



Documentário poético e experimental, VISÕES DE MADREDEUS extravasa os cânones do género do filme-concerto através do olhar sempre irrequieto e invulgar de Edgar Pêra e, acima de tudo, do que só um longo processo de maturação (afinal de contas, este é o produto de quase vinte anos a filmar os Madredeus) poderia ajudar a consolidar.



Do Teatro Ibérico até à "conquista" de Tóquio, com recursos que vão do Super 8 ao videotape, esta visão íntima do agrupamento musical fundado por Pedro Ayres de Magalhães é construída sem qualquer carácter biográfico directo — a evolução de Teresa Salgueiro, desde a tímida adolescência até ao seu "bailante" desprendimento em palco, a transformação da ambição e sucesso dos Madredeus, etc., apresentam-se subtilmente, sem legendas nem abundante voz-off. Apenas as imagens (mais ou menos nítidas), os sons (dos diegéticos aos totalmente distorcidos) e os acordes de O Pastor, Vaca de Fogo, Vem (Além de Toda a Solidão) e Haja o Que Houver configurados sob a égide criativa do cineasta português esteticamente mais inconformado da actualidade.

A experiência sensorial final é fresca, única e revigorante. Poderá não ser do agrado de todos, mas merece toda a exposição pública que lhe concederem.

KILLER JOE (2011), de William Friedkin



A mãe do traficante de 22 anos Chris Smith (Emile Hirsch) rouba-lhe droga no valor de seis mil dólares. De repente, Chris passa a ter uma dívida em mãos e muito pouco tempo para a pagar. Desesperado, descobre que a mãe tem um seguro de vida que vale muito dinheiro e contrata os serviços de Killer Joe (Matthew McConaughey), um polícia com um negócio paralelo: matar pessoas.

Normalmente, Joe exige pagamento adiantado, mas desta vez aceita Dottie (Juno Temple), a atraente irmã de de Chris, como garantia até o dinheiro ficar disponível... se alguma vez ficar.
— filmSPOT.pt



A manipulação do espectador de cinema revela-se, por vezes, no modelo mais simples e no veículo menos esperado.

Quase cartoonesco na sua violência e no comentário social, KILLER JOE percorre um caminho estreito entre a comédia surreal e o tenebroso realismo, assinalando não só o regresso de William Friedkin (realizador de OS INCORRUPTÍVEIS CONTRA A DROGA, O EXORCISTA e VIVER E MORRER EM LOS ANGELES, provavelmente o seu último grande filme) a um pico de forma na provocação emocional que os títulos supracitados reuniram, como consegue elaborar, contundente e ironicamente, acerca da figura do redneck norte-americano — quem diria que este "estereótipo cinematográfico" ainda poderia facultar tanta singularidade? — para narrar a queda criminosa e amoral de uma família.



Ancorado, mas não dependente, na assombrosa performance de Matthew McConaughey ('Joe' é o papel da sua carreira e, depois do que mostrou em MAGIC MIKE e MORRE... E DEIXA-ME EM PAZ, estamos perante o caso mais flagrante de actor em "reabilitação" da actualidade), temos um protagonista capaz de se revelar elegante, sedutor, metódico e sádico no espaço de uma sequência — polivalência a que a eficaz transposição da peça de teatro, assinada por Tracy Letts, "obriga" —, em confronto com todo um elenco (sobretudo, Juno Temple e Gina Gershon) representativo de uma classe média a viver acima das suas "possibilidades éticas e de bons costumes".



E não haverá tempo para catarses nem mote para redenções. Ao invés disso, KILLER JOE oferece-nos um clímax burlesco e perturbador, propositadamente horrendo, cómico e penoso de se assistir — o papel "erótico" da Kentucky Fried Chicken, neste particular, já é de antologia —, e o final em aberto, tão perverso e desconcertante como o protagonista, assegura a brilhante excentricidade do filme.



Este é um estranho e sombrio "jogo" de William Friedkin, exactamente o mesmo com que Joe agita a família Smith: oferece-nos primeiro o que desejamos, mas cedo faz-nos duvidar desse desejo. E a autonomia do "jogo" só depende de nós e da nossa resistência à manipulação. No nosso caso, agradecemos o ludíbrio.

Extremamente recomendado.

sexta-feira, outubro 26, 2012

SHUT UP AND PLAY THE HITS (2012), de Will Lovelace e Dylan Southern



A 2 de Abril de 2011, os LCD Soundsystem deram o seu último concerto em Madison Square Garden. O líder James Murphy decidira desmembrar uma das bandas mais famosas e influentes da sua geração no pico da sua popularidade. A extravagância de quase quatro horas esgotou de imediato e levou os milhares de espectadores às lágrimas de alegria e tristeza. — Doclisboa.



Para quem nunca ouviu falar de James Murphy nem dos LCD Soundsystem, SHUT UP AND PLAY THE HITS constituirá um agradável e, por registar o seu concerto de despedida, irónico cartão-de-visita a um singular percurso musical.

Situando-se entre o documentário e o filme-concerto (é nesta última "categorização" que Will Lovelace e Dylan Southern se desmarcam de outros títulos), explica o fenómeno cultural aqui abordado através das imagens, captadas por 13 câmaras e efusivamente montadas, de um Madison Square Garden lotado, da visão de fãs em lágrimas após os últimos acordes do concerto, do dia seguinte de James Murphy (com pequenos momentos que vão do jocoso ao comovente) determinado a não abandonar a música mas empenhado em não ficar "atolado" pela fama maciça.







No fim — do filme e dos LCD Soundsystem —, somos eficazmente brindados com o poder emocional que só um último concerto pode encerrar, ao mesmo tempo que realça o introspectivo perfil cultural de James Murphy. "Acho que o maior falhanço da minha vida será desistir", afirma ele a certa altura. Contudo, SHUT UP AND PLAY THE HITS será, com o tempo, tudo menos um falhanço para Murphy, para os realizadores e para nós. Muito recomendado.


Hollywood Buzz #185

O que se diz lá fora sobre CLOUD ATLAS, de Tom Tykwer, Andy Wachowski e Lana Wachowski:



«It fascinates in the moment. It's getting from one moment to the next that is tricky. Surely this is one of the most ambitious films ever made.»
Roger Ebert, Chicago Sun-Times.

«As inventive narratives go, there's outside the box, and then there's pioneering another dimension entirely, and this massive, independently financed collaboration among Tom Tykwer and Wachowski siblings Lana and Andy courageously attempts the latter.»
Peter Debruge, Variety.

«CLOUD ATLAS is certainly out to be a "visionary" mindbender, but the film's secret is that it's a nimbly entertaining and light-on-its-feet Hollywood contraption, with the actors cast in multiple roles as if playing a game of dress-up.»
Owen Gleiberman, Entertainment Weekly.

«Not quite soaring into the heavens, but not exactly crash-landing either, CLOUD ATLAS is an impressively mounted, emotionally stilted adaptation of British author David Mitchell's bestselling novel.»
Jordan Mintzer, The Hollywood Reporter.

«Tykwer and the Wachowskis' other twist on this karmic hokum — to cast each of their actors in multiple roles across the stories, regardless of age or race — is less successful.»
Henry Barnes, The Guardian.

TCN Blog Awards 2012



Já está em marcha a edição 2012 dos TCN Blog Awards, iniciativa promovida pelo Miguel Reis do Cinema Notebook.

À semelhança do ano passado, o Keyzer Soze foi novamente honrado com três nomeações. E são elas:

. Melhor Artigo de Cinema: O Fim da Película: O Fim da Cinefilia?;

. Melhor Blogue Individual Cinema/TV;

. Blogger do Ano.

De realçar que o Keyzer Soze está também representado, por três vezes mas de forma "externa", na categoria de Melhor Iniciativa, pelas suas colaborações no Círculo de Críticos Online Portugueses (CCOP); na rubrica Filmes que toda a gente gosta, mas eu não (do blog Cine31); e em The X-Files - 10 Anos, a "elegia" do Imagens Projectadas a uma década sem a série Ficheiros Secretos.

Se consideram o Keyzer Soze's Place meritório de arrecadar alguma "estatueta", num evento que decorrerá em data e local ainda por determinar, podem deixar o vosso voto aqui nas categorias em que o blog está nomeado.

Desde já, o meu agradecimento aos membros da ACADEMIA TCN que colocaram o Keyzer Soze's Place neste privilegiado lote, numa iniciativa onde interessa, apenas e acima de qualquer competitividade, a celebração da blogosfera de Cinema e TV portuguesa.

P.S: não deixem de visitar o Cinema Notebook e consultar todos os nomeados.

quarta-feira, outubro 24, 2012

Agenda Cinematográfica



Apresentação da edição especial do DVD É NA TERRA NÃO É NA LUA, de Gonçalo Tocha (com a presença do autor).

A edição que vai ser apresentada conta com 20 sequências inéditas, montadas e organizadas para este DVD, cerca de duas horas de material extra destacando-se a edição em livro do caderno de bordo. Este livro é uma espécie de diário que o realizador foi escrevendo durante as filmagens na ilha do Corvo, que duraram quatro anos.

segunda-feira, outubro 22, 2012

Agenda Cinematográfica

:: 9500 CINECLUBE DE PONTA DELGADA ::

UM AMOR DE JUVENTUDE (2011), de Mia Hansen-Løve



Aos quinze anos Camille apaixona-se desesperadamente por Sullivan, um rapaz quatro anos mais velho que sonha partir para a América do Sul. Passam juntos um belo verão mas o mundo de Camille desaba quando ele parte no final de 1999 e volta a desabar quando ele, uns meses depois, deixa de lhe escrever.

Anos mais tarde, Camille estuda Arquitectura, conhece Lorenz, um arquitecto famoso e volta a ganhar confiança em si própria. Camille e Lorenz formam um casal sólido e ela está agora em condições de abrir o seu atelier, mas eis que Sullivan reaparece, oito anos depois...

"UM AMOR DE JUVENTUDE confirma a originalidade, a profundidade do olhar e a inteligência narrativa que demonstravam já os dois filmes anteriores de Mia Hansen-Løve."
Florence Maillard, in CAHIERS DU CINÉMA.



Visões Exteriores #1



«O excesso de teoria enjoa e mata. Não gosto da escrita sobre cinema que pareça um peru emproado. Prefiro o peru bêbado. Nunca serei devoto da prosa escolástica de André Bazin ou do sucedâneo Serge Daney. Os filmes ficam apertados num espartilho, mais apertados do que Vivien Leigh no corpete com que a criada lhe esmaga as costelas em "Gone With the Wind". E quando se vai a ver até parece que já é mais importante o espartilho do que o corpinho que está lá dentro. Mil vezes a apaixonada e sedutora emoção do americano João Bénard ou a delirante liberdade ficcional da cabeça inglesa de David Thomson, para falar de dois dos meus escritores favoritos de filmes, actrizes e realizadores.

Bénard e Thomson escrevem textos conversados com a realidade do cinema, com o que se passa no ecrã e com o que se passou fora dele. Qualquer deles podia ter contado a história do encontro de Spielberg e John Ford.

Andava Spielberg a fazer o desmame da escola secundária, sonhando ser realizador de cinema, quando alguém lhe arranjou um encontro com Ford. A secretária mandou-o entrar e esperar. Ford tinha ido almoçar e estava a chegar. Quarenta minutos depois, o velho realizador irrompeu imponente, a cara coberta de marcas de bâton que a secretária se apressou a limpar com lenços de papel, o abismado miúdo Steven com os seus sonhos enfiados entre o rabo e a cadeira.

Ford mandou-o entrar: "Então, queres ser um
picture maker?" Não se sabe se Spielberg abanou a cabeça. O que é que sabes de arte?" Nessa altura já Spielberg nem cabeça tinha para abanar. O velho apontou um quadro na parede e trovejou ao miúdo: "O que é que vês ali?" Spielberg começou a falar dos índios que lá estavam. Ford interrompeu-o aos gritos: "Não, não, onde é que está a linha de horizonte?" Em cima, disse o balbuciante dedo de Spielberg. "OK. E o que vês no quadro ao lado?" Spielberg voltou a falar de cavaleiros, mas Ford explodiu: "Não, não, não, onde é que está o horizonte?" Em baixo, sussurrou o jovem aprendiz. Ford olhou-o nos olhos e deu-lhe um conselho ameaçador: "Se nunca puseres a linha de horizonte a meio do quadro e se fores capaz de sentir porque é que o colocaste bem em cima ou bem em baixo talvez possas ser um bom picture maker. E agora, get the fuck out of here.

A história do cinema foi feita por mil marcas de bâton que nunca veremos, alimentada pelos sonhos de miúdos ainda com fraldas e pela voz de Júpiter de velhos patriarcas. Uma multidão de episódios que se recorta contra a altíssima linha de horizonte que namora a eternidade ou esse baixíssimo horizonte que nos atira para abismos compulsivos e infernais.
»

A Linha de Horizonte, por Manuel S. Fonseca, in Atual, 20 de Outubro de 2012.

segunda-feira, outubro 15, 2012

W Magazine

Para celebrar os 40 anos da W Magazine, quatro actrizes protagonizam quatro capas — uma edição de coleccionador onde "o tempo está do lado" de Rooney Mara, Mia Wasikowska, Scarlett Johansson e Keira Knightley.

Quatro décadas de actividade editorial, quatro décadas de zeitgeist cultural, quatro décadas de uma visão peculiar sobre o fenómeno da fama em Cinema que o Keyzer Soze tem demonstrado apreço.


Rooney Mara, 1970's


Mia Wasikowska, 1980's


Scarlett Johansson, 1990's


Keira Knightley, 2000's

[Fonte: W Magazine.]

sexta-feira, outubro 12, 2012

Hollywood Buzz #184

O que se diz lá fora sobre ARGO, de Ben Affleck:



«ARGO the real movie about the fake movie, is both spellbinding and surprisingly funny.»
Roger Ebert, Chicago Sun-Times.

«Ultimately, the thrill of ARGO is in watching how the illusion-making of movies found such an unlikely application on the world political stage, where the stakes were literally life and death.»
Peter Debruge, Variety.

«It's a doozy of a story and so borderline ridiculous that it sounds - ta-da! - like something that could have been cooked up only by Hollywood.»
Manohla Dargis, The New York Times.

«ARGO is never less than wildly entertaining, but a major part of its power is that it so ominously captures the kickoff to the world we're in now.»
Owen Gleiberman, Entertainment Weekly.

«ARGO is a crackerjack political thriller told with intelligence, great period detail and a surprising amount of nutty humor for a serious look at the Iran hostage crisis of 1979-81.»
Todd McCarthy, The Hollywood Reporter.

sábado, outubro 06, 2012

MOONRISE KINGDOM (2012), de Wes Anderson



Numa ilha ao largo da costa da Nova Inglaterra nos anos 60, um rapaz e uma rapariga apaixonam-se e fogem de casa. Várias facções da cidade mobilizam-se para os procurar, e a própria cidade vira-se do avesso — o que pode não ser assim tão mau. — MUBI.com



Grandioso elogio ao sépia e ao poder da direcção artística — dêem-lhe quantos prémios entenderem que daqui não surgirá oposição — enquanto departamento, nesta indústria, essencial para a adequada criação de atmosfera: e estamos conversados no que diz respeito aos méritos de MOONRISE KINGDOM.

Obra menor de Wes Anderson, impingindo a sua marca autoral em cada sequência, em cada enquadramento, em cada fotograma, em cada milésimo de segundo do filme, MOONRISE KINGDOM esbanja um elenco de garantido talento (o caso de Tilda Swinton demonstra-se, nesse sentido, pragmático), é narrativamente cabotino, tematicamente desprovido de originalidade e esteticamente cansativo, não obstante conseguir destacar-se de outros títulos neste último aspecto.

E a amálgama de referências cinematográficas que exibe está longe de se assumir como qualidade intrínseca ao filme. Se, em muitos dos seus preceitos, esta história excêntrica de amor infantil invoca Stanley Kubrick nos seus zooms e movimentos de câmara, Jacques Tati no seu cenário de comicidade rural, ou René Clément nos seus jovens-adultos protagonistas, fica aqui o repto: a antecipada e plena admiração dos autores supra-citados rapidamente devolverá a MOONRISE KINGDOM uma mediania que nunca deveria ter sido empolgada.

Tal como se dizia nos meus tempos de ensino preparatório, "é um 3 muito perto da negativa"...

Hollywood Buzz #183

O que se diz lá fora sobre FRANKENWEENIE, de Tim Burton:



«This isn't one of Burton's best, but it has zealous energy. It might have been too macabre for kids in past, but kids these days, they've seen it all, and the charm of a boy and his dog retains its appeal.»
Roger Ebert, Chicago Sun-Times.

«While FRANKENWEENIE is fun, it is not nearly strange or original enough to join the undead, monstrous ranks of the classics it adores.»
The New York Times, A.O. Scott.

«This beautifully designed canine-resurrection saga feels, somewhat fittingly, stitched together from stray narrative parts, but nonetheless evinces a level of discipline and artistic coherence missing from the director's recent live-action efforts.»
Justin Chang, Variety.

«FRANKENWEENIE is a cool little flipbook of historical Burtonian style. It even brings back old friends, including BEETLEJUICE's Winona Ryder and Catherine O'Hara.»
Lisa Schwarzbaum, Entertainment Weekly.

«It is nonetheless imaginative in a highly familiar and ultimately tedious way.»
Todd McCarthy, The Hollywood Reporter.

quarta-feira, outubro 03, 2012

Curiosidade da Semana



Bolaji Badejo é um dos heróis menos conhecidos para o sucesso e influência artística de ALIEN — O 8º PASSAGEIRO (1979).

Descoberto acidentalmente por um dos directores de casting do filme, a peculiar estrutura física deste artista gráfico de origem nigeriana foi a chave para o pleno "funcionamento" de um dos monstros mais icónicos do cinema de ficção-científica dos últimos 30 anos.

Neste vídeo, recentemente divulgado, assistimos a uma série de aterradores testes de câmara levados a cabo por Ridley Scott, onde se pode testemunhar como o alien de H.R. Giger ganhou vida no grande ecrã:



E, com uma publicação desta natureza, das duas uma: ou pesadelos garantidos ou uma tremenda vontade de rever o filme...

[Fonte: CinemaBlend.]

terça-feira, outubro 02, 2012

Dias de Festival de Veneza

O testemunho, único e pessoal, do Diogo Lima em Veneza.

Estudante de cinema, mas já duplamente premiado no Panazorean Film Festival com PDL-LIS, e o melómano autor do blog Edição Limitada, fruiu, recentemente, da invejável oportunidade de acompanhar o Festival de Veneza em primeira mão. Em discurso directo, eis o seu relato de dez dias em Veneza.




Há coisa de três semanas um grupo de 27 jovens (um por cada nacionalidade da UE) teve a oportunidade de visitar o Festival Internacional de Cinema de Veneza e de integrar uma série de conferências e workshops promovidos pela secção independente Venice Days, a casa-mãe da iniciativa promovida pelo Parlamento Europeu, Europa Cinemas com colaboração do site Cineuropa.org. Eu fui o português seleccionado em representação do Cinema City Classic Alvalade (ao qual aproveito para deixar, mais uma vez, um enorme obrigado!) e este é um relato muito compacto da minha experiência.

Não te apercebes que vais viver um dos melhores momentos da tua vida quando recebes um e-mail a dizer que foste seleccionado para ir a um dos maiores festivais do mundo. Não te apercebes disso quando recebes as passagens de avião ou quando, a 20 minutos da viagem para o aeroporto, perdes as chaves do cadeado que — maravilha das maravilhas — já está posto na mala.

Não te apercebes disso quando chegas ao Marco Polo e encontras o gajo de Malta com quem vais apanhar o barco para o Lido nem quando te dão as chaves para ficares num apartamento com uma holandesa, uma lituana e um dinamarquês.

Os primeiros momentos de conversa que tens com o resto do pessoal dão-te logo a entender que há ali uma "conexão latina" — Portugal, França, Itália e Espanha dão-se sempre às mil maravilhas. Independentemente de nacionalidades, o gelo quebra-se com todos à medida que a vergonha se perde.

A rotina constrói-se e entranha-se involuntariamente em cada um. Depois de acordar às 7, grunhem-se dois dedos de conversa entre um espresso e um croissant no Caffè Bahiano (com um daqueles muy tugas azulejos a dizer "evite ressacas, mantenha-se bêbado"). Seguem-se as conferências matinais, o almoço numa das piores "cantinas" que este mundo já viu dar à luz e uma tarde entre passeatas e doses cavalares de longas-metragens que se estendem até à meia-noite, hora em que num inglês mais ou menos abrutalhado se trocam opiniões e se criam laços fortalecidos por uma Nastro Azzurro ou por uma Spritz numa esplanada qualquer.

A correria para as filas pré-filme (condição à qual até o detentor de uma mera credencial da Giornate Degli Autori está sujeito) faz parte da rotina e é como uma imperial: quando se está acompanhado sabe melhor. Rapidamente se dá com o jeito ao recinto quando tanta vez se procura pelas Sala Darsena, Volpi, Pasinetti, PalaBienale...

"Signore e signori, vi preghiamo di prendere posto, la proiezione sta per iniziare."

Poucas vezes senti um arrepio tão forte quando vi pela primeira vez a animação introdutória do festival, obra do italiano Simone Massi (http://www.youtube.com/watch?v=oYdnOUAWKu0). Infelizmente a primeira sessão acaba por ser um prenuncio da mediania a que os meus olhos foram sujeitos nos dias que se sucederiam.

As expectativas depressa foram abaixo: WOMAN’S TALES — uma série de curtas realizadas por mulheres financiada pela MIU MIU — e PINOCCHIO — uma animação de Enzo D’Alò capaz de dar ataques epilépticos até ao homem mais são numa narrativa demasiado curta e compactada para uma história tão grande — revelaram-se desilusões para quem estava à espera de algo mais.

Apesar do vasto leque de narrativas desastrosas e personagens inconstantes/inconsistentes, Veneza não tem o nome que tem por magia; houve tempo para revelações como QUEEN OF MONTREUIL, de Solveig Anspach, a afirmação de Jesper Ganslandt (BLONDIE) como um realizador muito a ter em conta ou a mesmerizante aventura de Harmony Korine pelos meandros da degradante cultura pop actual em SPRING BREAKERS. TABU, de Miguel Gomes (nomeado para o LUX PRIZE da UE), é definitivamente um arthouse crowd pleaser. IO SONO LI, de Andrea Segre, uma calma e melancólica abordagem à história de uma chinesa no meio de pescadores italianos. THE MASTER, de Paul Thomas Anderson, deixou-me com as voltas trocadas (tanto no bom como no mau sentido). TAI CHI ZERO, um Scott Pilgrim chinês com cheiros de Spielberg.

As manhãs eram preenchidas com panel sessions com gente do mundo do cinema como Giorgio Gosetti, director do Venice Days; Derek Malcolm, crítico internacional; Solveig Anspach, realizadora islandesa; Frédéric Boyer, o director artístico do Tribeca Film Festival; Domenico LaPorta, editor do Cineuropa.org.

Não te apercebes que estás a viver um dos melhores momentos da tua vida a meio da experiência. Discutes isso com quem te acompanha diariamente, mas estás demasiado ocupado a absorver tudo à tua volta. Os workshops e panel sessions, as noites passadas entre discussões infrutíferas sobre a qualidade do trabalho de Terrence Malick e danças ao som dos hits que só os italianos sabem condicionar numa playlist.

A quilometragem vai pesando nas pernas à medida que o Lido se vai tornando habitat natural e até o Hotel Des Bains de MORTE EM VENEZA, pelo qual passamos diariamente, se torna quase invisível. Há tempo para uns desvios em S. Maria Elizampetta ou até mesmo a Veneza que todo o mundo conhece, mas o percurso de 20 minutos a pé entre apartamento e casino vai parecendo cada vez mais e mais longo. Até a Spritz já começa a saber bem.

E chegamos ao último dia de festival: na cerimónia de encerramento concentram-se centenas de jornalistas e jovens com acreditações em frente a um LCD pequeníssimo para tanta gente. Sabem-se os vencedores dos cobiçados leões e batem-se palmas aos vencedores. A tensão é maior que numa final de campeonato europeu. O Leão de Prata vai para THE MASTER, palmas. Tudo em aberto para o Leão de Ouro. É PIETÀ, de Kim-Ki Duk. Um favorito do juri, crítica e público com um realizador estranhamente carismático que faz até os jornalistas berrarem um "Yes!".

Começas a aperceber-te à séria que viveste uma das melhores experiências da tua vida quando te começas a despedir a pouco e pouco das outras 20 e quantas pessoas que fizeram parte dos últimos dez dias. Mais do que uma série de conferências, filmes e debates, o 27 Times Cinema foi uma oportunidade para discutir, conhecer e aprofundar sabedoria com outros europeus com a mesma sede, alargar horizontes (e até arranjar oportunidades de emprego!) e afins.

Pouco me importa que Toronto esteja a ganhar relevância no panorama dos festivais; Veneza ficará para sempre no coração deste vosso companheiro que vos escreve como o primeiro grande (e grandioso) festival de cinema. E só por aí já dá para perceber que a coisa foi MESMO boa.

--//--

Obrigado, Diogo, por teres aceite o convite em partilhar a tua experiência nos Venice Days!

segunda-feira, outubro 01, 2012

Regresso da Pausa



Os tempos mudaram, os sabáticos cessaram. O Keyzer Soze está de volta.

[imagem (também) retirada do filme O GRANDE SALTO, dos irmãos Coen.]

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