domingo, março 06, 2011

Críticas da Semana

Breve resumo dos filmes visualizados esta semana.

FILME DO DESASSOSSEGO (2010), de João Botelho



Inspirado pelo livro fragmentado de Bernardo Soares, João Botelho torna palpável os sonhos e inquietações do seu autor (Cláudio da Silva).

Exibido em Ponta Delgada por ocasião do primeiro aniversário do 9500 Cineclube, eis uma obra para a qual é quase impossível delinear sinopse desenvolvida. De cariz episódico, os actores declamam prosa(?), existem sequências capazes de confundir o espectador mais erudito na bibliografia de Fernando Pessoa — destaca-se o "delírio" de uma ópera cujo significado teima em escapar-me — e Cláudio da Silva oscila entre o bom e o sofrível. Com a fabulosa fotografia que só o cinema digital permite e interessantes anacronismos na direcção artística, revela-se um filme exageradamente maçudo "embrulhado" em papel muito bonito. Conclusão: CONVERSA ACABADA já foi mesmo há muito tempo...

ORLANDO (1992), de Sally Potter



No seu leito de morte, a Rainha Isabel I concede a um jovem nobre chamado Orlando uma propriedade e oferta monetária generosas se ele cumprir o último desejo da monarca: nunca envelhecer. Durante vários séculos até aos tempos modernos, e mantendo a sua aparência jovial, Orlando divaga sobre amor, diplomacia, arte e sexo.

O tipo de extravagância que apenas o cinema britânico contemporâneo poderia conceber, leva ao extremo a irónica androginia do romance de Virginia Woolf (Tilda Swinton interpreta um protagonista masculino, Isabel I surge-nos personificado por Quentin Crisp) e é aí que reside o principal atractivo do filme. O requintado trabalho visual (nomeadamente, guarda-roupa e cenários) não esconde o seu escasso conteúdo — em suma, um date movie para espectadores mais exigentes.

HANYO/THE HOUSEMAID (2010), de Im Sang-soo



Eun-yi (Jeon Do-yeon) é contratada como empregada doméstica para servir numa casa de classe média-alta e, pouco depois, inicia uma relação amorosa com Hoon (Lee Jung-jae), a principal figura da família, que se revelará desastrosa para aquele lar...

Remake do lendário filme assinado por Kim Ki-young em 1960, Im Sang-soo hesita entre o melodrama, a comédia negra e o surrealismo sem nunca conseguir afirmar o grandioso e inebriante potencial existente. Todavia, e como é habitual no cinema sul-coreano, o seu sufocante conjunto de tons saturados e apertados ângulos de câmara cria a permanente atmosfera de suspense e erotismo, tanto implícito como literal, que o argumento raramente transmite.

STELLET LICHT/LUZ SILENCIOSA (2007), de Carlos Reygadas



No seio de uma rígida comunidade menonita, Johan está dividido entre o amor que sente pela sua numerosa família e o adultério com outra mulher que se desenrola perante uma manifesta conivência da sociedade em redor. Entre uma existência bucólica, cercada por elementos naturais que têm tanto de apaziguador como de opressivo, a fé de um homem simples será testada da maneira mais fatídica possível.

Prémio do Júri de Cannes em 2007, o que de início surge-nos como história de adultério, revela-se uma obra de surpreendente misticismo que invejaria Carl Theodor Dreyer, onde os ciclos da natureza pautam o conflito interior do protagonista e a captação de calmos e prazenteiros momentos familiares, num peculiar contexto social, estão impregnados de simbolismo. A direcção de fotografia, recheada de fenomenais panorâmicas, evidencia Carlos Reygadas como um dos cineastas visuais e temáticos mais interessantes da actualidade.

3 comentários:

Unknown disse...

While I do agree that a depressing film can be a great experience


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Maria Brandão disse...

Pois eu gostei imenso do "embrulho" (fotografia, guarda-roupa, maquilhagem) e dos delírios...até me esqueci de dormir :)

Sam disse...

Maninha, eu também gostei muito do embrulho, aliás destaquei-o no texto.

Mas há limites para os "delírios"... ;)

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