sábado, julho 21, 2012
COSMOPOLIS (2012), de David Cronenberg
Nova Iorque, num futuro não muito distante. Eric Parker (Robert Pattinson), um milionário de 28 anos, sonha em viver numa civilização à frente da nossa e observa uma nuvem negra a formar-se por cima de Wall Street.
Enquanto é conduzido através de Manhattan para cortar o cabelo, o olhar ansioso de Eric fixa-se no câmbio da moeda chinesa: está a subir contra todas as expectativas e contra a sua aposta em como tal não iria suceder. Eric Parker está a perder o seu império a cada segundo que passa.
COSMOPOLIS acompanha a evolução criativa empreendida por David Cronenberg nos últimos anos — UM MÉTODO PERIGOSO (revisto aqui) assinalou a ruptura total com a sua filmografia anterior.
O que aqui se assiste é a transposição — talvez demasiada — do romance homónimo de 2003 assinado por Don DeLillo, onde o protagonista (Pattinson, embora não sendo actor brilhante, exibe uma inexpressividade capaz de funcionar em prol do filme) assume-se como metáfora do sistema económico-financeiro: um indivíduo que procura ganhar dinheiro, controlar os mercados e "compreender o mundo" através de cartografia monetária, indiferente às mudanças que ocorrem a poucos metros de si e/ou no exterior da sua limusina.
Num filme cujos temas, aparentemente, já se demonstram datados (observamos apenas as consequências, sobejamente apreendidas pela sociedade, de atitudes danosas que levaram à crise financeira actual), são, no entanto, entendíveis as razões que atraíram Cronenberg para esta história.
A nível visual, COSMOPOLIS está em harmonia com o que o realizador canadiano tem explanado durante toda a sua carreira — um percurso artístico que explorou, através do apelidado "terror venéreo", temas como a relação entre tecnologia e corpo humano, identidade e alienação. Contudo, tal abordagem nunca foi estanque; Cronenberg procurou desenvolver e apurar o tratamento dos assuntos que abordou.
Nessa busca por uma evolução constante do seu estilo, conclui-se que COSMOPOLIS é totalmente cronenbergiano. Basta observar alguns títulos anteriores do cineasta e encontrar diversas correlações visuais.
. Apresentação de cenários herméticos, isolados e austeros, normalmente com vincada figuração de motivos tecnológicos e/ou futuristas.
SCANNERS (1981)
VIDEODROME (1983)
IRMÃOS INSEPARÁVEIS (1988)
COSMOPOLIS (2012)
. Atracção sexual e "corpos rigorosamente vigiados" pela objectiva...
VIDEODROME (1983)
IRMÃOS INSEPARÁVEIS (1988)
CRASH (1996)
COSMOPOLIS (2012)
. ...os quais estão sujeitos a mutação/deformação/destruição, recorrentemente proporcionada por motivos tecnológicos (armas, veículos, instrumentos cirúrgicos).
VIDEODROME (1983)
CRASH (1996)
PROMESSAS PERIGOSAS (2008)
COSMOPOLIS (2012)
. Caos pessoal e o fim da "aventura", contrastando com a representação, no início de cada filme, confiante, ordeira e quase em simetria com a direcção artística dos protagonistas.
VIDEODROME (1983)
IRMÃOS INSEPARÁVEIS (1988)
CRASH (1996)
COSMOPOLIS (2012)
. Repetição de "lemas" proferidos por diversas personagens ao longo do filme.
VIDEODROME (1983)
CRASH (1996)
EXISTENZ(1998)
COSMOPOLIS (2012)
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6 comentários:
Como já tive oportunidade de te dizer, apresentas-nos aqui uma excelente explicação das características Cronenberguianas que muitos não encontraram em Cosmopolis. Ao observar esta comparação, não me parece que possam ainda existir dúvidas.
Excelente trabalho.
Cumprimentos cinéfilos :*
Depois daquele Dangerous Method fiquei um pouco ampreensivo em relação a este novo Cronenberg...
"O que aqui se assiste é a transposição — talvez demasiada — do romance homónimo de 2003 assinado por Don DeLillo"
Também fiquei com essa sensação. Não li o livro, mas o filme por vezes parece ser precisamente uma transposição directa de páginas de prosa.
Excelente artigo e sim é Cronemberguiano até aos genes :P
Abraço
Inês, acho que o Cosmopolis consegue sumarizar bem a carreira de Cronenberg.
Com este artigo, também pretendi cativar a atenção para outros títulos da sua filmografia. Espero tê-lo conseguido :)
Cumps cinéfilos :*
O Provedor, apenas posso recomendar que vejas o filme. Talvez te surpreenda pela positiva.
Já agora, eu gostei bastante do A Dangerous Method :)
Cumps cinéfilos.
Loot, obrigado pelas tuas palavras.
Sim, julgo que o ponto menos forte de Cosmopolis é estar demasiado preso à sua fonte literária.
Com um pouco mais de "liberdade cinematográfica", julgo que o filme poderia ser mesmo muito bom.
Cumps cinéfilos.
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