Ninguém fica imune ao poder das estações e ao seu ciclo anual de nascimento, crescimento e envelhecimento. Nem mesmo dois monges, como os presentes em PRIMAVERA, VERÃO, OUTONO, INVERNO... E PRIMAVERA, que partilham um remoto mosteiro flutuante, num lago rodeado pelas montanhas. À medida que as estações se sucedem, todos os aspectos das suas vidas são preenchidos com uma intensidade que os conduz a uma enorme espiritualidade — e à tragédia. Porque também eles não conseguem resistir à escalada da vida, aos anseios, sofrimentos e às paixões que nos arrebatam a todos.
O filme narra a jornada de um jovem monge de 10 anos, cujo nome permanecerá incógnito, desde a sua infância até à maturidade. Sob o olhar atento do Velho Monge, o jovem experimenta a perda da inocência por intermédio de um encadeado de acontecimentos dispostos da mesma forma episódica como a divisão temporal do título: brincadeiras que se transformam em crueldade; o despertar do amor quando uma mulher entra neste mundo fechado; o poder assassino do ciúme e da obsessão; o preço da redenção; e a iluminação da experiência. Assim como as estações continuam a alternar até ao final dos tempos, também este mosteiro permanecerá como a morada do espírito do protagonista, suspenso entre o agora e o eterno.
O cinema de Kim-Ki Duk notabilizou-se pela natureza visceral, chocante e agitada de obras como O BORDEL DO LAGO (2000) e HWAL (2005). Pelo contrário, PRIMAVERA, VERÃO, OUTONO, INVERNO... E PRIMAVERA afirma a vertente delicada e "mundana" do seu realizador, que aqui utiliza a mudança das estações como uma metáfora para a vida. E se essa não se revela como uma abordagem original, a concretização é de uma beleza particularmente invulgar, destinada a amplificar emocionalmente a história e respectiva profundidade espiritual.
Num filme que levanta questões sobre a forma como vivemos, e como as nossas acções e as da natureza podem ter consequências inesperadas anos mais tarde, PRIMAVERA, VERÃO, OUTONO, INVERNO... E PRIMAVERA restaura a esperança de que o mundo possa enfrentar os seus problemas e retirar ilações para o futuro.
Elenco
. Su Oh-yeong (Velho monge), Kim Ki-duk (Monge adulto), Kim Young-min (Monge jovem adulto), Seo Jae-kyeong (Monge jovem), Ha Yeo-jin (Rapariga), Kim Jong-ho (Monge em criança)
Palmarés
. Festival Internacional de Locarno: Prémio do Júri da Juventude (Kim Ki-Duk), Prémio C.I.C.A.E. (Kim Ki-Duk), Prémio Don Quixote (Kim Ki-Duk), Prémio Netpac (Kim Ki-Duk)
. Festival Internacional de San Sebastián: Prémio do Público (Kim Ki-Duk)
Cineasta orgulhoso do seu estatuto, a nível mundial, de autor outsider, tal condição tem-lhe permitido explanar, idiossincraticamente, a sua visão pessimista, brutal e confrangedora da Humanidade. Da sua filmografia, destacam-se O BORDEL DO LAGO (2000), BAD GUY (2001), SAMARITANA (2004), FERRO 3 (2004) e PIETA (2012, Leão de Ouro no Festival de Veneza).
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