domingo, novembro 13, 2005

OS IRMÃOS GRIMM (2005), de Terry Gilliam



Após anos de travessia no deserto da frustração e de projectos cancelados, será que Terry Gilliam encontrou o seu "oásis" na obra mais comercial da sua carreira? Devo acrescentar, porém, que a interrogação anterior não é, de forma alguma, um comentário depreciativo a OS IRMÃOS GRIMM, a mais recente entrada na filmografia do único Monty Python americano.

Encontramo-nos em território familiar para os fãs de Gilliam: uma história fabulista, onde o realizador se sente como peixe na água. E o melhor toque de classe do filme são as personagens que dão nome ao título. Os irmãos Will (Matt Damon) e Jake (Heath Ledger) Grimm, figuras sobejamente conhecidas em todo o mundo ocidental pela sua recolha e divulgação de contos infantis, revelam-se aqui como um duo de charlatões, obtendo o seu ganha-pão explorando os medos e a ignorância de aldeões, onde se fazem passar por "caçadores de bruxas e de todo o genéro de feitiços malévolos" — o único senão é que esses feitiços foram criados por eles mesmos...

No entanto, e numa Alemanha ocupada pelo exército de Napoleão, este modo de vida idílico encontrará o seu fim quando, na tentativa de apaziguar os receios das populações, o invasor contrata à força os dois irmãos para desmascarar um suposto grupo de falsos caçadores de magia negra na vila de Marbaden, onde 11 crianças desapareceram no bosque amaldiçoado da localidade. Contudo, os encantamentos são bem reais e a origem dos mesmos provêm, aparentemente, do desejo de beleza eterna da Rainha Má (Monica Bellucci), figura copiada do conto da Branca de Neve — sim, ela também recita «Espelho meu, espelho meu, há rainha mais bela do que eu?»



Apesar da vertente mais comercial da presente obra, Terry Gilliam não desperdiça o material que tem em mãos, conseguindo "injectar-lhe" todos os condimentos conhecidos da sua carreira. Por vezes soturno, por outras jocoso, mas sempre plenamente imbuído do elemento fantástico, ficamos com a sensação de que o realizador pretendeu, acima de tudo, divertir-se (e esta teoria ganha maior consenso se nos lembrarmos das tormentas por que tem passado nos anos mais recentes).

No entanto, existe um factor que Gilliam nunca descura: os protagonistas. Matt Damon e Heath Ledger estão perfeitos na construção das suas personagens, cujo teor dramático-cómico assenta, que nem uma luva, no ambiente do filme, contribuíndo para tal o trabalho de caracterização — o qual, supostamente, terá sido causa de quezílias entre realizador e produtores. Peter Stormare é um "gozo" enquanto Cavaldi, bizarro torturador italiano ao serviço de França, capaz de roubar todas as cenas em que intervém (para quando um spin-off da sua personagem?). Monica Bellucci, infelizmente, continua a ser considerada pelos produtores americanos como um "bombom visual", restringida a frases soltas e decotes generosos, sendo-lhe negada a oportunidade de demonstrar as capacidades artísticas de que a Europa é testemunha.



Concluindo, Gilliam sempre foi um realizador de imaginários. Filmes como OS LADRÕES DO TEMPO (1981), BRASIL - O OUTRO LADO DO SONHO (1985) e 12 MACACOS (1995) são templos de alucinação e de riqueza no detalhe. Todavia, considero este OS IRMÃOS GRIMM como uma obra transitória: uma forma de relançar a sua carreira, capaz de cativar público e box-office, mas nunca a nossa imaginação. Esperemos pelo regresso em força de Terry Gilliam, ele está bem próximo.

2 comentários:

gonn1000 disse...

Um filme apenas curioso, que só cativa na última meia hora. Razoável, mas longe de essencial.

Anónimo disse...

Foi um dos que me escapou nesta vaga de filmes. A ver quando sair em DVD.

Cumps.

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