domingo, março 26, 2006

V DE VINGANÇA (2006), de James McTeigue



E não poderia ter havido melhor estreia para o cinema de grande orçamento de 2006. V DE VINGANÇA, a estreia como realizador de James McTeigue, 1º assistente dos irmãos Wachowski durante a rodagem da trilogia Matrix, é filme-espectáculo sem sinónimo de "vazio" e um tour de force no que diz respeito aos vários temas (bastante actuais e bem dissimulados, por sinal) que são lançados ao longo das duas horas da sua duração.

Mantendo uma tendência recente no cinema norte-americano — refiro-me à adaptação para o grande ecrã de graphic novels —, V DE VINGANÇA apresenta-nos um anti-herói invulgar (o "nome de código V"), um homem empenhado em actos terroristas de grande escala mas por quem é impossível nutrir outro sentimento que não seja a empatia. Detentor de um passado obscuro e doloroso, este é o principal gatilho para as nuances da sua personalidade e respectivo comportamento. Aliás, são várias as vezes que V (uma magnífica performance física de Hugo Weaving) refere, como impulsionador da sua causa, a repressão a que foi sujeito, pelo governo ditatorial apresentado no filme, como o fio condutor para o seu desejo de vingança. Desejo esse que também é o guião de todo o filme, até ao seu explosivo e ambíguo clímax. Juntamente com a rebelde Evey Hammond (Natalie Portman), V debita um arsenal de argumentos e convicções que incitam, imediatamente, à revolta sem limites por parte de um e qualquer cidadão.



Apesar de toda a sua qualidade visual, rica em referências históricas aos piores regimes políticos que a Humanidade já conheceu, é por demais evidente o esforço, através da elaboração da narrativa, em pôr a nu as inquietações que assolam o planeta nos nossos dias. Talvez não seja por acaso que a acção do filme decorra em 2020, ou seja, num futuro pouco longínquo. Quase que se pode dizer que V DE VINGANÇA tenta ser uma obra profética, que poderá dar muito que falar daqui a 14 anos. O mérito pertence inteiramente a Larry e Andy Wachowski, que conseguiram esboçar um argumento complexo (mas nunca demasiado entrelaçado) e palavroso (mas nunca entediante), sobretudo se nos lembrarmos que partiram de um meio — a banda desenhada — já de si arriscado enquanto base para um filme. De realçar, igualmente, a absoluta ausência, no filme, de alguma mão mais "intrusa" da dupla Wachowski — as únicas sequências que nos podem fazer recordar MATRIX são as em câmara lenta e, mesmo assim, não passam de sugestões vagas — o que demonstra alguma competência do duo enquanto produtores.

V DE VINGANÇA foi planeado como objecto de entretenimento, é-o em todo o seu firmamento, contudo não escapará a um olhar mais atento aos seus contornos políticos. A prová-lo, temos Timothy O'Connor, crítico do The Exponent, peremptório ao afirmar que este «é o filme mais politicamente carregado desde FARENHEIT 9/11». Por isso, estamos perante um título que vai conhecer constante alusão, nos difíceis tempos vindouros, sempre que alguém mencionar a frase "terrorismo e as suas origens".

Estarei eu a empregar um discurso demasiado indistinto? Alguma dúvida, é simples: basta ir ver o filme.



2 comentários:

Anónimo disse...

Eu adorei e achei genial :)!

Cumprimentos

brain-mixer disse...

Grandioso!! Dá a entender que enganaram os "produtores engravatados": "Epá, fazemos assim um filme brain-dead com muitas explosões e fogo-de-artifício!", e depois foi o que saiu... Um grande filme de culto, capaz de fazer comichaõ a muita política mundial!!

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