THE DEPARTED - ENTRE INIMIGOS (2006), de Martin Scorsese
Se, porventura, utilizasse nas minhas críticas a infame "classificação por estrelas", daria a este THE DEPARTED três. E isto pode parecer estranho vindo da minha parte, que sempre fui um aguerrido defensor da visão do cineasta norte-americano e estou convicto de que o indivíduo perfila uma carreira sem passos em falso... até agora.
Rico em conteúdo temático (as causas de a corrupção e a lealdade, no seio das forças judiciais e criminosas, andarem constantemente de mãos dadas), implacável na sua concretização (mais um excelente trabalho de montagem de Thelma Schoonmaker, colaboradora habitual do realizador) e magnífico no casting (DiCaprio continua a mostrar indícios de uma qualidade expressiva crescente e imparável, e Nicholson É Nicholson). Contudo, a principal falha reside no aspecto que menos se esperava numa obra de Scorsese: não é original no que se refere ao argumento. Não por ser um remake do fantástico INTERNAL AFFAIRS (Andrew Lau, 2002), mas sim, sobretudo, pela incapacidade de gerir os vários twists que afectam, substancialmente, o último quarto de hora do filme.
Não sou um profundo apreciador das reviravoltas em catadupa em Cinema. Acredito que se trata de um conceito mais adaptável às séries de TV, como PERDIDOS bem o demonstrou. Títulos como SETE PECADOS MORTAIS (1995, David Fincher), OS SUSPEITOS DO COSTUME (1995, Bryan Singer) e O SEXTO SENTIDO (1999, M. Night Shyamalan) expuseram, eficazmente, o potencial de choque do twist final. Foi uma moda, e deveria ter ficado por aí. A partir desse momento, até a categoria dos filmes de um desses vanguardistas — a saber, Shyamalan — ficou posta em causa devido ao constante e súbito volte-face dos acontecimentos no clímax. Scorsese resolveu experimentar e, na minha opinião, não foi feliz.
No entanto, THE DEPARTED não é uma má experiência. Após duas excelentes incursões pelo cinema épico [GANGS DE NOVA IORQUE (2002) e O AVIADOR (2004)], as quais testemunharam um Scorsese pleno de vitalidade, é sempre bom vê-lo regressar às suas histórias de gangsters no coração de uma grande cidade. Trocando Nova Iorque por Boston, e com De Niro a ceder o lugar a Jack Nicholson, THE DEPARTED descreve a investigação policial, crua e intensa, para a captura de Frank Costello (Nicholson), o principal mafioso da metrópole. Para tal, o agente Billy Costigan (DiCaprio) é destacado para se infiltrar no seio da organização criminosa. Ao mesmo tempo, Costello procura controlar a situação por interposta pessoa. No caso, Colin Sullivan (Matt Damon), tenente da polícia estatal e amigo de Costello desde tenra idade.
É mesmo devido ao trabalho dos actores que o filme, apesar da sua complexidade narrativa, nunca perde fôlego. Se sobre Nicholson e DiCaprio pouco mais há a dizer, Damon não está menos mal e Mark Wahlberg consegue roubar todas as cenas em que entra e, inevitavelmente, tem direito a um dos twists mais desconcertantes de todo o filme. Destaque igual para Vera Farmiga, decididamente a merecer um filme só para ela.
Bottom line? Estamos perante um passo ao lado na carreira de Scorsese. Não é um passo atrás. Se todos os filmes "medianos" que estreiam anualmente fossem assim...
domingo, dezembro 03, 2006
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1 comentário:
Boa crítica e concordo!
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