Sem hesitação nem pretensiosismo, afirmo que a comunidade blogger cinéfila é uma das mais dinâmicas em Portugal. Segue um exemplo.
A convite do João Palhares, autor do Cine-Resort, fui desafiado a escolher um plano que, na minha experiência enquanto cinéfila, me tenha marcado ao ponto do assombramento. Esta foi a resposta.
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Infelizmente desconhecido pela maioria da cinefilia ocidental contemporânea mas enorme sucesso da cena internacional art-house dos anos 60, WOMAN IN THE DUNES (assinado por Hiroshi Teshigahara, um dos principais nomes da Nova Vaga Japonesa) é composto por 123 minutos de planos assombrosos, tornando-o no título que me era obrigatório escolher como resposta ao convite para a presente rubrica.
História surreal e inquietante sobre um professor universitário que, inexplicavelmente, fica retido numa casa rodeada por um buraco de areia, tendo por única companhia a bizarra moradora daquela inusitada e frágil construção, WOMAN IN THE DUNES é um filme extremamente simbólico no registo filmado da areia. Esta não só é responsável pelo cativeiro do protagonista, Teshigahara usa-a como metáfora para a sociedade japonesa do seu tempo e, sobretudo, fonte de análise à própria condição humana.
Essa premissa é estabelecida logo na sequência inicial do filme, onde os grãos de areia são salientados num intenso close-up, até se afastar gradualmente para mostrar a solidão do professor, caminhando e escalando entre a imensidão das dunas de uma praia deserta. Mais tarde, a infiltração de areia por todas as frinchas da casa é demonstrada como algo de sujo, fugidio e inesperado, mais forte que o destino e vontade de seres humanos.
E, no conjunto de planos agora destacados, a areia revela-se um obstáculo imprevisível, apossada de vontade própria, “desejosa” de sitiar a Humanidade e ridicularizar a sua incessante necessidade de controlar a Natureza. O modo como os grãos deslizam, fragmentam-se e agigantam-se perante os vãos esforços do protagonista constitui um dos meus momentos inesquecíveis, e que mais prazer me dá em partilhar, enquanto espectador de Cinema.
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Obrigado, João, pelo convite!
sábado, julho 02, 2011
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1 comentário:
Mais uma vez, obrigado pela participação. E pela menção, aqui no blog, também.
Cumps
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