Como a blogosfera cinéfila nacional divergiu, este mês, sobre MILLENNIUM 1 — OS HOMENS QUE ODEIAM AS MULHERES, de David Fincher.
«O mistério e o suspense perduram do início ao fim e é impossível odiar a mulher do filme: Lisbeth Salander (e Rooney Mara) irá apaixonar.»
Inês Moreira Santos, Espalha-Factos.
«O diabo está nos detalhes, como diz o ditado popular. E esses detalhes estão espalhados pelo filme.»
O Projeccionista, A Última Sessão.
«OS HOMENS QUE ODEIAM AS MULHERES é um filme vazio. Um material como este, merecia mais, muito mais. »
João Gonçalves, Modern Times.
terça-feira, janeiro 31, 2012
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26 comentários:
Boa escolha, divergência aqui não faltou. :)
Obrigada pelo destaque.
Cumprimentos cinéfilos.
Para mim a review do meio, a supostamente de opinião mista, é a mais certeira com tudo aquilo que acho do filme.
A Rooney Mara é fenomenal mas a sueca Noomi Rapace é superlativa, tão incontornável que até Hollywood já a foi buscar...
Inês: de nada :) a tua crítica foi das mais positivas que li sobre filme, simplificaste-me a escolha :)
ArmPauloFer: acho que as duas actrizes foram bastante eficazes na sua "versão" da Lisbeth Salander — embora, e pessoalmente, também prefira a de Noomi Rapace.
Obrigado pelos comentários!
Eu achei o filme do fincher uma treta e concordo com o realizador do original: se o filme já existe, porque não vê-lo em vez de gastar mais dinheiro em fazê-lo de novo? O Deixa-me Entrar foi outro caso de um remake absolutamente desnecessário e incompetente na sua cópia ao original e com as alteraçãoes da narrativa a serem todas para pior.
Armindo, não é só a Noomi Rapace, o Michael Niqvist (o Blomkvist) também está na América, já foi o vilão de dois filmes: Identidade Misteriosa e Missão Impossível 4.
Ricardo: raramente estou de acordo com remakes, mas acho que se trata de um regresso à boa forma do Fincher. Depois de "devaneios" chamados Benjamin Button e A Rede Social, é revigorante observar que o realizador continua bem num género que ele conhece bem.
Sam, só pode ter essa opinião quem não viu o original. i.é, o Fincher pode não ter feito uma coisa má, mas um remake tem de trazer uma mais valia em relação ao original e não vi mais valia nenhuma. aliás, as alterações no guião não trouxeram nada de novo. Blomqvist foi condenado, mas sem pena de prisão (o original acaba com ele a entrar na cela); a salander apaixona-se por Blonqvist (no original apenas o respeita e vê como amigo) - aquele final com o casaco foi ridículo: depois de tudo o que fez para expor o vilão que pôs o Blonqvist na cadeia, que valor pode ter um blusão; no original a lesbianice foi deixada para o 2º filme e também a revelação de que ela queimou o pai - aqui foi tudo despachado no 1º, de forma trôpega...
Ricardo eu sei que sim. Já vi o Niqvist no "Abduction".
na minha opinião aceito mais facilmente a personagem no original sueco, que é um tipo estafado do processo, com problemas pessoais e descredibilizado na imprensa, porque ele demonstra isso pela linguagem corporal, que ainda transmite a ideia de ser uma pessoa comum de quase meia-idade (tal como está no conceito da personagem). No filme do Fincher, temos um jornalista, que apesar de tudo isso, continua confiante, apresenta sinais de preocupação estética (vestuário principalmente e porte atlético - custa até a acreditar que a outra até é filha dele...).
O filme do Fincher está bem feito (som, cinematografia, planos de camera e tal mas...), tudo isto num serviço que lembra o estilo de Zodiac (que gosto muito) mas que não o sinto descolar do sueco para algo melhor.
Classificação:
original sueco - 9/10
remake americano - 7/10
os abusos do tutor são muito mais chocantes no Oplev, com Fincher foi tudo muito encenado, frouxo. o próprio actor que fez de tutor não tinha arcaboiço para o personagem (diz na trivia do IMDb que ele até se fechou no quarto de hotel um dia inteiro, a chorar, depois de filmar a cena de violação)...
O filme do Oplev fez 10 milhões de bilheteira em território americano e o remake tem tido receitas muito medianas (encontrei esta expressão na wiki, mas o filme é muito recente para valores concretos). Ao menos o público compreendeu que mais do mesmo não é necessariamente melhor do que menos.
Armindo e ainda me estava a lembrar da total amoralidade do Blonqvist do remake, que tem a Salander pelo beicinho e continua a meter-se na cama com a editora, uma relação que não passa de amizade colorida e que destruiu o casamento dele e não o dela - como é mencionado - ou seja, ele mantém relações sexuais com uma mulher casada, descaradamente. se isto não é uma grande falha de carácter, não sei o que seja.
Ricardo: (sobre o tutor, o novo Blonqvist...) concordo plenamente contigo. Tudo verdade!
E o final do filme de Fincher? Ele perdeu quase 10 minutos a mostrar a Lisbeth "feminina" em vestidos sem efeito nenhum, quando isso nos é dado no sueco em breves momentos e ficamos assombrados pela surpresa (e tudo o que acarreta o que a sumida andou a fazer).
O Fincher alterou muita coisa para potenciar, á americana, a criação de um triângulo amoroso descabido (no que se tornou um final aborrecido até).
Não digo mais nada... fico por aqui.
Ambos são bons filmes... mas o sueco é ainda mais excelente. E prova que não foi preciso nenhum Fincher para mostrar como deve ser esta história.
Ricardo: mais do que fazer comparações entre versões cinematográficas, dou maior importância à fidelidade que as mesmas possuem relativamente aos livros.
Acho que tanto o filme sueco como este remake são fieis a Stieg Larsson, e considero, em algumas nuances, que Fincher está mais próximo dos livros que o original sueco. Até posso concordar que a revelação do passado de Lisbeth, logo no primeiro filme, possa ser abrupta — mas desastrada? É ainda muito cedo para o ajuizar.
Ah! E também acho que a Lisbeth Salander de Rooney Mara está "suave" demais... (em comparação tanto com a representada nos livros como na composição de Rapace).
O Se7en e o Fight Club são filmes que constam da minha lista de perdição e o realizador destes dois filmes podia ter feito algo fabuloso com Os Homens Que Odeiam As Mulheres.
a razão que não posso deixar de comparar os dois filmes e de rebaixar o remake é porque este foi entregue a alguém que já fez coisas fabulosas e aqui se limitou a ir by the numbers.
Quanto à porcaria do final do remake e do interesse em criar um triângulo amoroso: para o Blonqvist, a Salander é uma espécie de anjo negro: descobriu o assassino, salvou-o da morte certa e ainda lhe restituiu a credibilidade enquanto jornalista, ao tornar público os podres do que o condenou por difamação. isto, aliado à confiança com que salander se move, tornam-na numa criatura mística e maravilhosa, capaz de interessar e excitar o melhor jornalista do mundo - mas, no remake, é ao contrário: o intelecto dela não lhe serve de nada, porque o blonqvist gosta é da sua colega de trabalho casada. não lhe adiantou ter-se divorciado por esse affair?
Ricardo, Hann??
Eu vi o original sueco e há tantas referências lésbicas nesse como no Americano.
A Lisbeth apaixona-se por ele em ambos, a forma como se entrega é que é diferente.
Nuances, nuances, Loot.
O filme sueco põe coisas nas entrelinhas que o fincher optou por fornecer a lupa.
o blonkvist estava impressionado com a lisbeth como se ela fosse uma fada sininho e esta sentia que podia confiar nele, o que era tão raro para ela num homem que a levou a uma prova de devoção como a de lixar o Wennerström. mas essa ligação dos dois baseou-se em respeito e amizade, não em amor ou paixão, ela não se apaixonou por ele nem teve ciúmes, nem sequer nos capítulos seguintes, o 2 e o 3.
Novamente isto é só do conhecimento dos 1ºs filmes.
Em relação a parte lésbica não acho ser tão nuance, fincher mostra mais, apenas isso.
A 2º aceito vá, apesar de achar que há ali paixão, há obviamente respeito e amizade também. é por isso que há paixão até.
Quanto aos ciúmes do que vi nem espaço ela deu para os ter que não o continuou a ver, fez apenas uma visita à prisão onde lhe dá um curto beijo e é nesse beijo que se vê bem que há ali sentimento.
Talvez no do Fincher a parte da admiração não se note tanto sim, precisamente porque o Daniel Craig não teve uma abordagem tão política ao Mikael como no Sueco. Nesse aspecto este perde para o sueco. toda a históra neo-nazi não é tão bem retratada.
já vi o sueco há 2 anos e tanto quanto me lembro, a única menção a safismo que vi foi a lisbeth acordar com uma mulher ao lado, quando o mikael vai visitá-la pela primeira vez.
quanto ao amor, isso é coisa para a geração americana que gosta de twillight. no filme sueco, há apenas uma mulher confusa e revoltada que encontrou um homem com um intelecto que podia respeitar e que "não odiava as mulheres". não nos esqueçamos de que o título é em plural, Os Homens que odeiam as mulheres, onde se inclui o pai da Lisbeth e o seu tutor violador.
e ainda bem que foi assim, porque já basta de meninas a quererem finais à disney.
o fincher força um triângulo amoroso que só mancha o carácter do blonkvist, porque a editora é uma mulher casada.
Ah é verdade em relação ao pai. Epá isso também se sabe no sueco mostra ela em flashback a queimá-lo. OK não dizem que é o pai mas é previsível.
E no do fincher mostram mais o quê? ela a engatar e a beijar na boca a rapariga? Epá OK no Sueco só mostram a dormir podiam ser "só" amigas... ya... pois...
De acordo com a personalidade dela é normal que ela se sinta mais segura com mulheres.
E sim o filme do Fincher é mais romântico nunca disse o contrário. Tal não quer dizer que no Sueco ela não goste realmente dele também.
o sueco deixa as coisas indefinidas e os pesadelos dela a queimar o pai são desfocados, não se percebem bem. não é a mesma coisa que ela estar em pelota na cama com um gajo e dizer-lhe que pegou fogo a pelo menos 80% do pai.
romântico? lol a lisbeth passa por oferecida (deita-se com o mikael sem pedir licença e continua a dormir com ele sem terem uma relação definida e depois admira-se que ele lhe ponha os cornos) e ele passa por um cínico amoral porque se continua a deitar com a mulher cujo affair destruiu o seu casamento e quase o dela.
além do que ele não vale nada como investigador - foi a filha que identificou as notas como bíblicas e foi a lisbeth que associou nomes às vítimas e localizou o assassino em cada cenário de morte. ele limitou-se a ver dois blazers com o mesmo crachá. o que, convenhamos, não prova coisa nenhuma, porque os crachás são invenções para grupos de pessoas: alunos de uma escola, membros de uma equipa desportiva, funcionários de uma fábrica, etc. Ou seja, ele nem sequer provou que o homem do crachá fosse o martin venger, apenas que devia trabalhar para as industrias venger.
Vamos lá ver que está-se a alongar demais. Eu sempre disse que no do Fincher as coisas eram ditas de forma mais directa, apenas realcei que no Sueco também são ditas ao contrário do que afirmavas. Quer dizer podem não ter as coisas expostas em cima da mesa mas para bom entendedor...
Uma mulher que se deita com um homem sem pedir licença e logo a seguir se mete a dormir não é romântico? caramba é maravilhoso.
Quanto aí já disse que a abordagem da relação dos dois é bastante diferente nos dois filmes.
Ambos chegam à mesma conclusão sobre o assassino, o Mikael e a Lisbeth. A Lisbeth é uma grande pesquisadora e tem memória fotográfica, nisso ela é impecável.
Mas não é um Sherlock, nenhum dos dois é :)
O que eu gostava de saber é de onde veio o providencial taco de golf com que a lisbeth atacou o martin venger, porque o desporto dele era a caça e nunca se viu um taco em casa dele...
Grande discussão! :) E ainda bem que assim é, prova que o filme para a "polémica" deste mês foi bem escolhida.
Todos os argumentos que têm apresentado parecem-me válidos e atestam, acima de tudo, que os filmes são mais díspares do que se poderia julgar.
Não escondo que prefiro a adaptação sueca, mas acho que Fincher (o qual, sem dúvida, já fez muito melhor) não desperdiçou o material que tinha entre mãos.
Obrigado aos dois pelo debate.
sim, sim, mas e o taco de golfe? :P
Erros de lógica/continuação, todos os filmes têm :D
curiosamente, já havia um taco de golfe no filme sueco. tinha muito mais lógica se a lisbeth americana tivesse usado a espingarda que o martin venger deixou à vista na cozinha.
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