domingo, fevereiro 10, 2013

Visões Exteriores #4



«Ambas as versões da femme fatale, a versão noir clássica e a versão pós-moderna, são defeituosas e cairam na armadilha ideológica; e afirmamos que a saída para esta armadilha está em ESTRADA PERDIDA de David Lynch, um filme que funciona de facto como uma espécie de metacomentário da oposição entre a femme fatale noir clássica e a pós-moderna. (...)»



«Em ESTRADA PERDIDA, o universo noir das mulheres corrompidas e dos pais obscenos, do assassínio e da traição — o universo em que penetramos após a misteriosa mudança de identidade Fred/Pete, o herói masculino do filme —, é confrontado, não com a vida idílica da província, mas com a vida conjugal na magalópole suburbana asséptica, insípida e "alienada". Assim, em vez da oposição clássica entre superfície idílica hiper-realista e o seu inverso pavoroso, temos a oposição entre dois homens: o horror fantasmático do universo noir medonho, feito de sexo perverso, traição e assassínio, e o desespero (talvez muito mais perturbante) da nossa vida quotidiana monótona e "alienada", marcada pela impotência e pela desconfiança.»

The Art of the Ridiculous Sublime: On David Lynch's Lost Highway, por Slavoj Žižek, in 'Lacrimae Rerum', edição Orfeu Negro, 2008.

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