Os argumentos intricados dos irmãos Coen, repletos de ironia e acrimonia, sempre deveram muito aos film-noir dos anos 40, mas essa influência nunca foi assumida com tanta desfaçatez como em O BARBEIRO. Pegando em elementos característicos como infidelidade, chantagem e assassinato, esta história de um barbeiro com um plano para extorquir dinheiro e montar um negócio de limpeza a seco desenvolve-se com um sentido de timing perfeito e é filmado num preto-e-branco com grandes contrastes e profundidade de campo.
Billy Bob Thornton traz à personagem principal as quantidades certas de laconismo, perfídia e existencialismo, sendo facilmente reconhecível o silencioso sofrimento de alguém que se sente preso a uma vida de que não gosta e cuja necessidade de mudar apenas é condenável por resvalar para o crime. Frances McDormand e James Gandolfini aparecem em grande forma em papéis mais secundários.
Apesar de estar rodeado por pessoas com menos qualidades que ele (Ed Crane ainda tenta, por exemplo, ajudar a filha adolescente de um vizinho a ser pianista, levando-a a um professor que não lhe reconhece grande talento) o mundo dos irmãos Coen é implacável e o pessimismo da dupla revela-se nas constantes curvas e contra-curvas que as situações tomam, acabando por não oferecer saídas a ninguém. O rigor da escrita e visual fazem de O BARBEIRO um clássico em potência, que se alimenta de clássicos de outras épocas.
Elenco
. Billy Bob Thornton (Ed Crane), Frances McDormand (Doris Crane), Michael Badalucco (Frank Raffo), Richard Jenkins (Walter Abundas), Scarlett Johansson (Birdy Abundas), Adam Alexi-Malle (Jacques Carcanogues), Jon Polito (Creighton Tolliver), Tony Shalhoub (Freddy Riedenschneider), James Gandolfini (Big Dave Brewster)
Palmarés
. Festival de Cannes: Melhor Realizador (Joel Coen)
. BAFTA: Melhor Fotografia (Roger Deakins)
. Satellite Awards: Melhor Fotografia (Roger Deakins)
. National Board of Review: Melhor Actor (Billy Bob Thornton)
Combinando excentricidade, humor subversivo, ironia mordaz e muita violência, os irmãos Coen são dos autores mais idiossincráticos da actualidade. Da sua filmografia, repleta de originalidade e de um constante tributo ao cinema clássico norte-americano, destacam-se SANGUE POR SANGUE (1984), BARTON FINK (1991), FARGO (1996), O GRANDE LEBOWSKI (1998) e ESTE PAÍS NÃO É PARA VELHOS (2007).
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