domingo, março 03, 2013

O Cinema dos Anos 2000: O Fabuloso Destino de Amélie, de Jean-Pierre Jeunet




Filme de irresistível encanto, a capacidade que O FABULOSO DESTINO DE AMÉLIE POULAIN tem demonstrado em perdurar, durante a última década, no imaginário popular dos espectadores, revela a qualidade inerente à mensagem e virtuosidade de uma obra que colocou Jean-Pierre Jeunet — não obstante as suas delirantes experiências dos anos 90 chamadas DELICATESSEN (1991) e A CIDADE DAS CRIANÇAS PERDIDAS (1995) — no "mapa" dos novos autores europeus.

Não são apenas os olhos expressivos, o sorriso ameninado e o vigor emocional de Audrey Tautou, enquanto a Amélie do título, a determinarem o apreço universal, de índole pública e crítica, a O FABULOSO DESTINO DE AMÉLIE POULAIN. De um ponto de vista meramente factual, é impossível não destacar a importância do seu sucesso nos mercados externos à Europa (nomeadamente, o dos Estados Unidos, contrariando a "fobia", naquele território, a filmes com legendas), permitindo, assim, o surgimento de um novo player geográfico no seio da indústria cinematográfica internacional, cujos efeitos ainda se sentem.

No entanto, essa realidade é inteiramente fruto da originalidade fantasiosa do filme e de uma protagonista embrenhada na incessante busca por uma venturosa realização pessoal. Tanto a sua — que se poderá manifestar na união amorosa com Nino Quincampoix (Mathieu Kassovitz) ou em descobrir a identidade do misterioso indivíduo que lhe surge, amiúde, entre os despojos de vários photomatons parisienses — como a dos outros, através do seu altruísmo casamenteiro e humano. O reconhecimento, no espectador, das diversas atitudes de Amélie funciona a um nível puramente emotivo e sensorial, capitalizado pelo sedutor virtuosismo da câmara de Jeunet, repleta de planos impossíveis, realismo mágico e uma Paris simultaneamente notória e etérea.

O FABULOSO DESTINO DE AMÉLIE POULAIN, comédia de enganos baseada numa "filosofia" de joie de vivre que desejamos experimentar, é uma obra que se mantém puramente original, cuja influência parece exprimir-se com maior frequência fora do próprio Cinema. Apelidá-lo de filme de culto é fazer-lhe justiça, mas "AMÉLIE filme" e "Amélie personagem" são indissociáveis do Cinema dos Anos 2000.

por Samuel Andrade.

Elenco
Audrey Tautou (Amélie Poulain), Mathieu Kassovitz (Nino Quincampoix), Rufus (Raphaël Poulain), Lorella Cravotta (Amandine Poulain), Serge Merlin (Raymond Dufayel), Jamel Debbouze (Lucien), Clotilde Mollet (Gina), Claire Maurier (Madame Suzanne), Isabelle Nanty (Georgette), Dominique Pinon (Joseph), Artus de Penguern (Hipolito), Yolande Moreau (Madeleine Wallace), André Dussollier (narrador).


Palmarés
. BAFTA: Melhor Argumento Original (Guillaume Laurant e Jean-Pierre Jeunet), Melhor Direcção Artística (Aline Bonetto)
. Césares: Melhor Filme, Melhor Realizador (Jean-Pierre Jeunet), Melhor Banda Sonora (Yann Tiersen), Melhor Direcção Artística (Aline Bonetto)
. Prémios da Academia Europeia: Melhor Filme, Melhor Realizador (Jean-Pierre Jeunet), Melhor Fotografia (Bruno Delbonnel)
. Prémios Goya: Melhor Filme Estrangeiro
. Independent Spirit Awards: Melhor Filme Estrangeiro


Sobre Jean-Pierre Jeunet

Realizador auto-didacta, demonstrou desde muito cedo predilecção pelo cinema fantástico, de natureza grotesca, como demonstrado em DELICATESSEN (1991) e A CIDADE DAS CRIANÇAS PERDIDAS (1995), ou através do caracteristicamente sublime de UM LONGO DOMINGO DE NOIVADO (2004) e MICMACS À TIRE-LARIGOT (2009). Aventurou-se por Hollywood em 1997, embora sem conseguir triunfar, com ALIEN — O REGRESSO (1997).



5 comentários:

Anónimo disse...

Num mundo onde o cinismo e o desencanto parecem dominar, quando nos chega uma lição tão inocente de como a poesia e beleza coexistem connosco de um modo tão simples, não podemos deixar de ficar sensibilizados. Amelie (o filme e a personagem) faz isso como raras vezes vi.

Rafael Barbosa disse...

Um filme transcendente que preciso de rever urgentemente. Uma das melhores obras da década passada.

Cumprimentos,
Rafael Santos
Memento mori

norton disse...

Um dos meus favoritos de sempre.

João Campos disse...

Um filme extraordinário (também pela banda sonora de Yann Tiersen). Perdeu o Óscar de Melhor Filme Estrangeiro para um outro filme notável.

Anónimo disse...

Um dos meus filmes preferidos. Pela inocência e poesia com que o dia a dia é tratado. Uma lição de vida.

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