sábado, março 02, 2013

O Cinema dos Anos 2000: O Quarto do Filho, de Nanni Moretti




Cruel, imperdoável e despido de formalidades, a obra de Nanni Moretti venceu a Palma d’Ouro num ano cuja concorrência abrangeu laureados como Haneke, Luhrman, Godard, Lynch, Sokurov e o próprio Manoel de Oliveira.

Com esta intimista obra sobre uma família no limiar de uma vivência emocional devastadora, Moretti desafia as audiências com o eterno e infame "e se", procurando fazer dos seus personagens, veículos para mais um fascinante estudo sobre o comportamento humano numa situação socialmente irrascível. Este troar de repressões constrói, passo a passo, um ideal de família quando este parece perder todo e qualquer significado, auferindo de uma frieza contida, afogada numa ironia perversa e brutal. Sobra uma luta corrosiva contra um pesar diário e a eterna memória de um prego a selar o caixão de quem outrora proporcionou uma razão para viver. Aliado a movimentos de câmara calculistas, planos mundanamente compostos, um argumento impenetrável e interpretações notáveis, Moretti oferece uma sobriedade que gela o sangue, um trabalho de um filósofo que encara o cinema como a vida.

O QUARTO DO FILHO é discutivelmente a melhor película do realizador italiano, mas indiscutivelmente uma das melhores da década.

por Filipe Coutinho (Cinema is my Life).


Elenco
Nanni Moretti (Giovanni Sermonti), Laura Morante (Paola Sermonti), Jasmine Trinca (Irene Sermonti), Giuseppe Sanfelice (Andrea Sermonti), Sofia Vigliar (Arianna), Renato Scarpa (director), Roberto Nobile (padre), Paolo De Vita (pai de Luciano).


Palmarés
. Festival de Cannes: Palma de Ouro, Prémio FIPRESCI
. Prémios da Academia Europeia: Melhor Realizador, Melhor Actor (Nanni Moretti), Melhor Actriz (Laura Morante)


Sobre Nanni Moretti

Íntimo e independente, Nanni Moretti, enquanto actor, argumentista e realizador, tem criado comoventes, incisivos e divertidos retratos de vida, filtrados através de uma singular visão do mundo. Da sua filmografia, e enquanto realizador, destacam-se ECCE BOMBO (1978), LA MESSA È FINITA (1985), PALOMBELLA ROSSA (1989), CARO DIÁRIO (1993, Melhor Realizador no Festival de Cannes), IL CAIMANO (2006) e HABEMUS PAPA (2011).



2 comentários:

Jorge Teixeira disse...

Ora aí está um cineasta que preciso de descobrir mais, urgentemente. Belo texto, de resto como nos habituou o Filipe.

Cumprimentos,
Jorge Teixeira
Caminho Largo

Rafael Barbosa disse...

Tal e qual como o Jorge, tenho mesmo que me embrenhar neste realizador.
Bela iniciativa que aqui inicias :)

Cumprimentos,
Rafael Santos
Memento mori

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