sexta-feira, maio 24, 2013

O Cinema dos Anos 2000: American Splendor, de Shari Springer Berman e Robert Pulcini




Antes de os blogs e as redes sociais divagarem acerca das mágoas da Humanidade, já Harvey Pekar resmungava sozinho, em forma de crónica desenhada, sobre os incómodos proporcionados por colegas de trabalho, velhinhas nas filas para as caixas dos supermercados e as mulheres que nunca se apaixonaram por ele numa série de graphic novels intituladas 'American Splendor'. Com a colaboração de artistas firmados como Robert Crumb, Greg Budgett e Gerry Shamray, Pekar transformou amigos, namoradas e esposas em personagens maçadoras e indesejáveis. E quando as suas histórias, infundidas de tragédia e fatalismo, começaram a captar as atenções, ele decidiu colocar a sua fama modesta — e o pouco dinheiro que auferiu da mesma — no centro das suas narrativas.

Da mesma forma, AMERICAN SPLENDOR adapta convincentemente, do papel para o grande ecrã, toda a metaficção patente neste universo, onde a realidade e a imaginação entrecruzam-se no ataque cerrado ao american way of life que não se revela tão transcendental e sofisticado — e as graphic novels de Harvey Pekar eram tudo menos visualmente primorosas — como muito do cinema ou da publicidade quiseram revelar.

Esse pessimismo está profundamente encerrado na visão do mundo promovida pelo protagonista do filme, numa estrutura original que agrupa o biopic documental (os realizadores, Shari Springer Berman e Robert Pulcini, recorrem a imagens de arquivo para a exposição de algum do percurso profissional de Pekar) com banda desenhada e monólogo teatral, adornado pelo fulgurante protagonismo de Paul Giamatti — o actor desaparece na colecção de maneirismos da figura aqui invocada, capaz de heroicizar, paradoxalmente, este genuíno anti-herói com uma das personalidades mais irritáveis e desconcertantes do panorama artístico norte-americano dos anos 70 e 80.

por Samuel Andrade.

Elenco
. Paul Giamatti (Harvey Pekar), Hope Davis (Joyce Brabner), Judah Friedlander (Toby Radloff), James Urbaniak (Robert Crumb), Harvey Pekar (o próprio), Joyce Brabner (a própria), Toby Radloff (o próprio), Josh Hutcherson (Robin)


Palmarés
. Festival de Cannes: Prémio FIPRESCI — Un Certain Regard (Shari Springer Berman, Robert Pulcini)
. Festival de Sundance: Grande Prémio do Júri — Drama (Shari Springer Berman, Robert Pulcini)
. Festival Internacional de Toronto: Melhor Primeiro Filme (Shari Springer Berman, Robert Pulcini)
. Prémios Sant Jordi: Melhor Actor Estrangeiro (Paul Giamatti)
. National Board of Review: Melhor Revelação — Actor (Paul Giamatti), Menção Honrosa
. Círculo de Críticos de Los Angeles: Melhor Filme, Melhor Argumento (Shari Springer Berman, Robert Pulcini)
. Círculo de Críticos de Nova Iorque: Melhor Filme, Melhor Actriz (Hope Davis)
. Writers Guild of America: Melhor Argumento Adaptado (Shari Springer Berman, Robert Pulcini)



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