terça-feira, maio 21, 2013

O Cinema dos Anos 2000: Belleville Rendez-Vous, de Sylvain Chomet




Os primeiros dez minutos de BELLEVILLE RENDEZ-VOUS representam uma das mais belas e originais sequências animadas dos anos 2000: inspirado no estilo de uma curta-metragem de Max Fleischer, três excêntricas idosas cantoras animam um clube nocturno, freneticamente embrenhadas a dançar e a cantar, debruçadas sobre o microfone, um jazz animado pela guitarra de (também representado no desenho) Django Reinhardt. Quando o número musical termina, apercebemo-nos de que assistíamos à animação dentro da animação, através do recuo da "câmara" de Sylvain Chomet, revelando a protagonista, Madame Souza, a observar esta estranha e deliciosa relíquia na televisão.

É com este género de charme que BELLEVILLE RENDEZ-VOUS encontra os seus maiores encantos e, consequentemente, estatuto de visualização obrigatória. Embora o desenvolvimento das personagens e da narrativa não sejam pontos fortes devidamente estabelecidos, o traço de Chomet é contagiante na concepção desta quase onírica atmosfera, de um tempo — e respectivo progresso — balizado mas nunca estático, do ritmo e da peculiar alegria de uma história sobre a Volta à França, velhinhas mal-humoradas e um enorme cão.

Provando tratar-se de um dos realizadores de cinema de animação mais completos da actualidade — capaz, até, de adaptar a estes meandros um argumento de Jacques Tati nunca filmado, lançado em 2010 com o título O MÁGICO —, Sylvain Chomet reverencia e testa os limites da animação convencional, convertendo BELLEVILLE RENDEZ-VOUS num ousado feito cinematográfico, simultaneamente moderno e tradicional.

por Samuel Andrade.

Elenco (vozes)
. Lina Boudreau (Rose Triplette), Mari-Lou Gauthier (Violette Triplette), Michèle Caucheteux (Blanche Triplette), Béatrice Bonifassi ( as Triplettes), Jean-Claude Donda (Comentador desportivo), Michel Robin (Champion)


Palmarés
. Césares: Melhor Banda Sonora (Benoît Charest)
. Círculo de Críticos de Nova Iorque: Melhor Filme Animado
. Círculo de Críticos de Los Angeles: Melhor Filme Animado, Melhor Banda Sonora (Benoît Charest)



1 comentário:

Rafael Barbosa disse...

É um filme fascinante. O que mais me atrai no filme é a crítica social que o Chomet consegue inserir nas suas imagens. Acabam por roçar o ridículo (no bom sentido). E a banda-sonora é notável. Bom destaque.

Cumprimentos,
Rafael Santos
Memento mori

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