Breve resumo dos principais filmes visualizados esta semana:.
ZEITGEIST: MOVING FORWARD.
O ARTISTA.
MILLENNIUM 1 — OS HOMENS QUE ODEIAM AS MULHERES--//--
. ZEITGEIST: MOVING FORWARD (2011), de Peter Joseph

Criando um modelo de compreensão do actual paradigma social e do motivo pelo qual é fundamental sair do mesmo — juntamente com uma nova abordagem social, que apesar de radical, é ainda assim, prática —, procura-se encontrar uma resolução dos actuais problemas sociais que afligem o mundo.

Se tiverem duas horas e quarenta minutos da vossa vida para dispensar a este documentário, serão capazes de entender que esse tempo não só passará num ápice, como também proporcionará uma experiência elucidativa acerca das causas que forjaram o espectro da crise financeira mundial que todos os dias nos entra pela casa, culminando numa enumeração de "soluções" mais utópicas do que propriamente reformadoras.
Sem a visceralidade de Michael Moore nem a ironia de Errol Morris, ZEITGEIST: MOVING FORWARD aposta numa irreverência quase juvenil para atacar os "vícios" do sistema, recorrendo a diferentes estilos de animação para esquematizar a informação e valores transmitidos e — na que será a principal novidade deste género de documentário — uma abordagem a vicissitudes biológicas e antropológicas explicativas do actual estado da Humanidade. Não estamos perante algo que ficará rotulado como revolucionário, mas a sua qualidade de
eye-opening converte-o em algo de visualização urgente.
. O ARTISTA (2011), de Michel Hazanavicius

Hollywood, 1927. George Valentin (Jean Dujardin) é uma das maiores estrelas do cinema mudo. Certo dia, conhece Peppy Miller (Bérénice Bejo), uma jovem e ambiciosa figurante, por quem fica fascinado. Mas a chegada dos filmes sonoros marca o fim da carreira de George, e torna Peppy na nova grande estrela da indústria.

Como é possível gostar-se de um
pastiche? Até que ponto pode o artificialismo do Cinema se tornar no seu principal inimigo? E qual o propósito da integração do «
Love Theme» de
A MULHER QUE VIVEU DUAS VEZES (obra sonora e a cores) no acompanhamento musical de um filme mudo e a preto e branco? Estas e outras questões ressalvam a constatação de que O ARTISTA é uma homenagem intrincada ao cinema mudo americano, que almeja ignorar tudo o que de fascinante e memorável existia naquela era, focando-se numa miscelânea de cultura geral cinematográfica e melodrama previsível convenientemente reunidos para o converter num produto de imediato apelo popular e (como se verificou, esta semana, pelo anúncio das suas dez nomeações) muito oscarizável.
Ironia das ironias, e não obstante a sua "tríade" de inegáveis qualidades — a interpretação e charme de Jean Dujardin, que emula o poder de sedução de Rudolph Valentino com o percurso biográfico de John Gilbert; a competente realização de Hazanavicius; e o expressivo companheiro canino do protagonista —, faz-nos constatar que o encanto inerente ao filme mudo residia, precisamente, naquele seu "défice tecnológico". E não há apostas vanguardistas baseadas em métodos obsoletos capazes de anular o sentimento de embuste que se detecta no cerne de O ARTISTA. Para verificar homenagens contemporâneas, e mais bem conseguidas, ao Cinema dos anos 20, continuo a preferir
Guy Maddin. O qual também assina, de vez em quando, uma ou outra comédia musical...
. MILLENNIUM 1 — OS HOMENS QUE ODEIAM AS MULHERES (2011), de David Fincher

Mikael Blomkvist (Daniel Craig), jornalista recentemente caído em desgraça mediática, aceita o trabalho de desvendar o desaparecimento da sobrinha de Henrik Vanger (Christopher Plummer), o patriarca de uma poderosa família empresarial sueca. Com a ajuda de Lisbeth Salander (Rooney Mara),
hacker de alto nível com problemas de comportamento social, irão desvendar muitos segredos da família de Henrik, até então escondidos na penumbra.

A minha admitida desconfiança relativamente a
remakes não é segredo para quem acompanha este espaço com regularidade. E enquanto admirador da
primeira transposição ao Cinema dos livros de Stieg Larsson, a exigência em torno desta abordagem norte-americana à história era redobrada... e não saiu defraudada. Retomando temas e ambiências que preenchem a sua filmografia (crime e castigo, o sereno e o furioso, a amizade e a hostilidade) e demarcando-o de qualquer comparação com o filme sueco através da sua reconhecível
mise-en-scène, Fincher forja um produto inteiramente seu e, a espaços, mais próximo que a referida primeira adaptação das intenções da fonte literária — a qual é excelente, logo não havia como falhar.
Posto isto, é necessário e inevitável reservar a nossa atenção para a encarnação de Rooney Mara em Lisbeth Salander, uma das mais complexas personagens de ficção femininas do nosso tempo. Numa visível entrega de corpo e alma pela jovem actriz ao desafio colocado, faz-nos esquecer a (quase icónica) prestação de Noomi Rapace, através de certeiras
nuances do argumento que potenciam a androginia psicológica e antecipam, na sua caracterização, o passado conturbado de Lisbeth. O mundo ganha dois óptimos "descendentes cinematográficos" de uma saga literária de sucesso mas, tal como sucedia na adaptação europeia, ainda não foi desta que se transpôs para o grande ecrã as ansiedades sócio-políticas que selaram os últimos dias de Stieg Larsson — a primazia continua a ser dada ao
thriller, mas um pouco mais de ambição não seria, por estes lados, mal recebida.