terça-feira, abril 25, 2006

INFILTRADO (2006), de Spike Lee



O mais recente joint de Spike Lee não tem sido apreciado positivamente nos mais variados círculos de crítica. Não pretendo ser "do contra", mas alguém consegue lembrar-se da última vez que Lee procurou divertir-nos tanto? Nem mesmo através das incursões exteriores aos ambientes habituais do cineasta — como VERÃO ESCALDANTE (1999) ou A 25ª HORA (2002) — escapamos à profunda análise sociológica, abordando temas como os conflitos raciais e as discrepâncias no seio urbano.

Estes temas estão presentes em INFILTRADO, isso é inegável, mas não são o mote do filme. Presenciamos aqui ao puro e duro heist movie, ou a tentativa do perfeito assalto a um banco, perpretado por Clive Owen (Dalton Russell, um criminoso que, e segundo as suas palavras, escolhe as suas palavras cuidadosamente e nunca se repete) e investigado por Denzel Washington (Keith Frazier, um negociador de reféns com preocupações familiares e ameaças dos Serviços Internos da Polícia). Após uma elaborada tomada de controlo do banco, as intenções dos assaltantes não são totalmente empreendidas pelas forças policiais e reféns, situação que perdura até ao clímax do filme. Para adensar as coisas, contamos com a presença de uma obscura personagem cujos poderes e contactos poderão limar as arestas políticas da situação (Jodie Foster), e um presidente de administração da instituição bancária (Christopher Plummer) com motivações que se alargam para lá do mero "assegurar o bem-estar dos funcionários".



É a partir desta situação que Spike Lee consegue "infiltrar" o seu dedo. Presenciamos desde a realidade político-social do pós-11 de Setembro, passando pelo sexismo e culminando no incontornável racismo latente da sociedade norte-americana, mas a narrativa nunca se desvia dos arredores do banco. Encontramos todos os elementos que já fazem parte do imaginário do filme de assalto. Mas a originalidade consegue extravasar o lugar-comum através do trabalho de câmara de Matthew Libatique e na montagem de Barry Alexander Brown (habitual colaborador de Lee desde MALCOLM X), mantendo-nos colados ao grande ecrã até bem perto do fim.

Concluindo, esta não será, de facto, a obra maior de Spike Lee. Talvez essa nunca terá sido a intenção primária. Contudo, acredito que o entretenimento proporcionado por INFILTRADO está acima da média, ombreando com obras denominadas de "filme de qualidade". Por que razão não há-de um realizador "sério" divertir-se de vez em quando? Para além disso, não nos podemos esquecer que este é o ano do "entretenimento austero". Afinal de contas, O CÓDIGO DA VINCI estreia já no próximo mês. Ponderando assim, Spike Lee até se encontra bem na moda...



1 comentário:

Anónimo disse...

No Brasil chegou com o título Um Plano Perfeito. Considero um dos melhores Spike Lee's, principalmente pela inversão na percepção do espectador que ele é capaz de fazer... Sinto-me um espectador ativo, participante, diante desse filme e isso não acontece sempre... SIm, tem também toda a discussão nada sociológica sobre multiculturalismo, preconceito e pós Era Bush... Abs.

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