sexta-feira, outubro 19, 2007

Ali (2001), de Michael Mann



De toda a filmografia de Michael Mann, o aspecto que mais rapidamente salta à vista é o seu gosto pelo preciosismo visual dos filmes que concebe. Não me refiro a truques de imagem espalhafatosos, mas sim ao vislumbre de um look único e quase imperceptível que, quando observado com maior atenção, é capaz de provocar aquele arrepiozinho na espinha do cinéfilo mais empedrenido — como eu.

Não admira, portanto, que este ALI permita uma interessante leitura cinematográfica subjacente ao tema histórico que aborda, ou seja, é o cuidadoso trabalho de composição visual do filme que narra a vida do boxeur norte-americano mais carismático e fleumático dos últimos 40 anos, personificado pela fabulosa interpretação de Will Smith, o qual se entregou, de corpo e alma, ao personagem.



Mohammad Ali, nascido Cassius Clay, é um defensor da liberdade de expressão, lutador pela igualdade de oportunidades entre raças e credos e um impecável atleta. Paralelamente, trata-se de um indivíduo que nunca escondeu as suas emoções perante a vida e a Humanidade — nas relações com as várias mulheres que cruzaram o seu caminho, com os amigos mais íntimos, com os seus principais rivais no ringue, com os media. Em todos estes casos, a sua personalidade permaneceu no centro das atenções.

E é deste espírito que o filme se alimenta. ALI descreve, visualmente, o seu protagonista e os diversos altos e baixos que viveu. O contexto político em que se envolveu também não escapa ao escrutínio de Mann, narrando a importância que personalidades como Malcolm X e Martin Luther King tiveram no desenvolvimento da sua vida.

Apesar da meticulosa retrospectiva histórica, ALI não é uma obra cansativa. As sequências dos combates mais mediáticos do boxeur respiram uma vitalidade — por vezes, transportam-nos para o centro dos lutadores — e o segmento da visita de Ali ao Zaire reveste-se, por alguns momentos, de contornos épicos, culminando no histórico duelo com George Foreman, sem dúvida o clímax do filme.



Contudo, mesmo nesta parte final, não escapamos ao simbolismo visual tão querido a Michael Mann, a qual é composta pela encenação verbatim dos registos fotográficos da altura.

O grande destaque desta perfeição visual vai para o director de fotografia Emmanuel Lubezki (responsável pela construção cinematográfica de títulos como A LENDA DO CAVALEIRO SEM CABEÇA e OS FILHOS DO HOMEM), respeitando a tradição de Mann em escolher, para os seus filmes, profissionais na área oriundos da Europa e América Latina. Lubezki infunde ALI de tons azuis metálicos e amarelos abrasadores, close-ups dramáticos e focagens inquietantes.

A palavra final terá que pertencer, inevitavelmente, a Will Smith, num desempenho infalível.

1 comentário:

Luís A. disse...

Um grande filme, sem dúvida de um grande senhor do cinema mundial. O que me impressiona mais nesta obra, é a pujança e requinte visual com que Michael Mann nos brinda, assim como a impressionante representação de Will Smith. Um destaque para aquele magnífico início com montagem paralela entre o concerto de sam cooke com o treino de Ali. Genial!

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