sexta-feira, outubro 31, 2008
3... EXTREMOS (2004), de Fruit Chan / Park Chan-wook / Takashi Miike
Para o cinéfilo que relaciona horror asiático com espectros de cabelos compridos, olhos ebúrneos e hábeis em assombrar variados meios de tecnologia moderna (conceitos enraizados pela força avassaladora com que o mercado ocidental absorve remakes de títulos como THE RING - O AVISO, THE GRUDGE - A MALDIÇÃO ou UMA CHAMADA PERDIDA), este 3... EXTREMOS proporcionará a total quebra desta convicção, confrontando-o também com um pungente "murro no estômago" pelas histórias aqui narradas.
O filme é composto por três contos, de 40 minutos cada, e assinados por três cineastas díspares em estilo e representantes do melhor da Sétima Arte asiática actual. A saber, Fruit Chan (de Hong Kong, que assinou o interessante HOLLYWOOD HONG-KONG), Park Chan-wook (da Coreia do Sul, responsável pelos magníficos OLDBOY e SYMPATHY FOR LADY VENGEANCE) e Takashi Miike (realizador japonês, autor de AUDITION e ICHI THE KILLER).
O primeiro segmento, de Fruit Chan e intitulado "Dumplings" (ou "bolinhos", numa tradução literal), é também o mais sinistro: uma ex-actriz de telenovelas (Miriam Yeung) procura recuperar a sua aparência jovem com a ajuda de uma mulher (Bai Ling) dedicada à prática de abortos ilegais, utilizando os "despojos" dessa actividade como ingrediente principal do seu elixir da eterna juventude.
Na segunda história, com o nome de "Cut", um realizador bem sucedido (Lee Byung-Hun) é subitamente aterrorizado por um psicótico figurante (Lim Won-Hee) dum antigo filme seu. O intruso ameaça cortar, de forma sistemática, os dedos da esposa pianista de Ryu, a menos que este aceda em assassinar uma criança, amarrada e amordaçada, no sofá de sua casa. Chan-wook emprega neste segmento um estilo visual arrojado e repleto de uma imaginação singularmente perversa, contudo o resultado final salda-se por um exercício oco e totalmente centrado num sádico "jogo do gato e do rato".
Por fim, Takashi Miike traz-nos "Box", centrado numa solitária romancista (Kyoko Hasegawa) que vive assombrada pelo fantasma da sua irmã gémea (falecida em criança fruto de um acidente bizarro quando as duas eram contorcionistas de circo) e pela persistente incerteza de se o evento terá tido intervenção danosa da própria novelista. O ambiente lírico e morno deste segmento representam um afastamento radical do habitual frenesim hiper-violento dos filmes de Miike — aliás, nem parece estarmos perante o realizador de OLDBOY, um dos títulos mais sangrentos que a actual década nos proporcionou...
Apesar da aterradora premissa de "Dumplings", detentor de um dos finais mais "encantadoramente" repulsivos de que há memória, este consegue ser o melhor dos três segmentos, o que acaba por penalizar as outras duas histórias, que em nenhuma ocasião conseguem aproximar-se daquele patamar de sublime horror.
3... EXTREMOS parecerá inofensivo para os fãs incansáveis do que foi denominado de New Asian Horror, mas a sua visualização é recomendada e não tenho dúvidas quanto ao seu potencial de óptima introdução ao género para o mais temeroso dos curiosos em conhecer este universo.
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3 comentários:
A ordem dos segmentos, ontem apresentada é a da versão portuguesa. Concordo que "Dumplings" é o melhor dos três e acho que funcionaria um pouco melhor na ordem da versão asiática: "Box", "Dumplings" e terminar com "Cut".
Nunca esquecer o sublime JSA, do genial Park Chan-wook
abraços
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