segunda-feira, janeiro 12, 2009

O que é feito do sucesso de...

Philip Kaufman?



A carreira do cineasta Philip Kaufman preenche quatro décadas, composta por 12 longas-metragens e algum trabalho como argumentista em projectos de grande orçamento (por exemplo, foi ele quem engendrou o plot point de OS SALTEADORES DA ARCA PERDIDA).

No entanto, e apesar de nunca ter visto GOLDSTEIN (1965), a obra de estreia deste realizador nascido em Chicago e pela qual foi galardoado com um Prémio da Crítica em Cannes, nutro a "humilde" opinião de que o auge da sua criatividade se resume a três filmes, curiosamente estreados sequencialmente:

OS ELEITOS (1983)


Adaptado do épico histórico, sobre os primórdios da conquista do Espaço, por Tom Wolfe, debruça-se sobre a vida e obra dos homens cuja coragem permitiu esse grande feito da Humanidade. Nomeadamente, Chuck Yeager (interpretado por Sam Shepard), o primeiro indivíduo a voar mais rápido que o som, e os sete membros do Programa Mercury.



Kaufman alcança em OS ELEITOS uma corrente de feitos que, em mais de cem anos de Sétima Arte, poucos conseguiram repetir: construir um filme de três horas que decorre num ápice; dar uma lição de História sem nos apercebermos disso; e conceber algumas das sequências mais icónicas e plagiadas de sempre: a marcha, em câmara lenta, dos primeiros sete astronautas norte-americanos.

A INSUSTENTÁVEL LEVEZA DO SER (1988)


Um dos meus filmes de eleição da década de 80, Kaufman constrói uma narrativa psicologicamente delicada e de leve erotismo a partir de um romance considerado por muitos, incluindo o próprio Milan Kundera, como "infilmável". Aliado à profundidade das interpretações do trio de protagonistas (Daniel Day-Lewis, Juliette Binoche e Lena Olin) e com a magnífica direcção de fotografia assumida por Sven Nykvist (um colaborador regular de Ingmar Bergman e Woody Allen), este é um épico íntimo repleto de sagacidade e irrepreensível emoção.



A sensualidade aplicada por Kaufman a esta história de amor em tempos políticos conturbados - nomeadamente, a repressão soviética ao movimento que ficou conhecido como Primavera de Praga - serviu, sem dúvida, de tubo de ensaio ao estilo aplicado no seu filme seguinte...

HENRY & JUNE (1990)


Vagamente adaptado do diário da francesa Anaïs Nin, esta será, sem dúvida, a obra mais polémica na filmografia de Kaufman.



Para além do franco e directo erotismo de HENRY & JUNE, o seu conteúdo foi severamente criticado pela representação da própria Anaïs (encarnada pela "nossa" Maria de Medeiros), com direito a carta publicada no New York Times! Apesar disso, é impossível não ficarmos subjugados pelo ritmo intenso e metafórico de um triângulo amoroso enquadrado pela delicada paleta de Philippe Rousselot garantem uma experiência cinematográfica única.

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Desde então, Kaufman só voltou a aproximar-se da qualidade dos três projectos acima mencionados em QUILLS - AS PENAS DO DESEJO (2000), um jocoso e satírico retrato da vida do Marquês de Sade (interpretado por Geoffrey Rush, nomeado ao Óscar por este desempenho), que arrancou boas interpretações de Kate Winslet e Michael Caine.

Nos últimos tempos, o realizador "perdeu-se" numa tentativa de thriller policial chamado TWISTED - HOMICÍDIOS OCULTOS (2003), com Andy Garcia, Ashley Judd e Samuel L. Jackson e tem planeada a estreia, para o presente ano, de INTERRUPTED, um biopic do cineasta Nicholas Ray.

Eu sei que o talento reside em Philip Kaufman. Resta descobrir se o cineasta conseguirá retomar a qualidade que caracterizou uma parte significativa da sua carreira...

1 comentário:

José Quintela Soares disse...

Há casos assim.
Qualidade...mas efémera.
Vamos esperar por melhores dias.

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