domingo, março 15, 2009

EXOTICA (1994), de Atom Egoyan



O 'Exotica' é um clube de striptease em Toronto, frequentado por cavalheiros que observam, sem direito a tocar, uma variedade de mulheres semi-nuas a dançar ao compasso de uma banda sonora rica e variada. A mais notória das entertainers do estabelecimento chama-se Christina (Mia Kirshner), que assume em palco o alter ego de uma jovem de liceu e anunciada por Eric (Elias Koteas), o DJ do clube e antigo amante de Christina, como um "objecto proibido de inocente desejo". A sua rotina, ao som de 'Everybody Knows' por Leonard Cohen, e o lento despir da sua camisola branca finalizam a ilusão de pureza corrompida.

Um dos cliente habituais do clube é Francis (Bruce Greenwood), auditor do governo e homem solitário que passa horas a dar dinheiro pelo privilégio de vislumbrar um constante private de Christina. A ligação entre os dois é mais profunda do que a habitual relação entre dançarina e cliente. Quando Francis murmura para Christina "Quem poderia magoar-te?", não conhecemos todas as camadas inerentes a estas palavras. Só em retrospectiva compreendemos, integralmente, o seu significado.

Paralelamente à história de Francis, acompanhamos a de Thomas (Don McKellar), proprietário de uma loja de animais homossexual e que gere uma lucrativa operação de contrabando. Introvertido e pouco desembaraçado, o destino confere-lhe a oferta de dois bilhetes para um espectáculo de ópera e o caminho certo para a fonte ilimitada de parceiros. Contudo, a satisfação do seu vazio emocional obrigará ao pagamento de um preço material extremamente alto, já que Francis, naquele momento a investigar o negócio de Thomas, descobre informações pouco legais, constituindo-se, assim, o elo dramático que ligará todas as narrativas expostas em EXOTICA.



Em algumas palavras, explicar todo o leque emocional proporcionado por EXOTICA salda-se numa experiência incapaz de fazer justiça à sua primazia visual e simbólica. Atom Egoyan [O FUTURO RADIOSO (1997), A VIAGEM DE FELÍCIA (1999)] cria uma obra cativante e desorientadora, onde todas as histórias paralelas só são compreendidas na sequência derradeira do filme, transformando, por completo, a nossa perspectiva de acontecimentos anteriores.

À primeira vista, EXOTICA parecerá tratar-se apenas de sexo e luxúria. Nada poderia estar mais longe da realidade. Sendo um facto que as sequências no clube de strip são filmadas de forma voluptuosa, a história de Egoyan procura explorar as mais profundas emoções humanas, intenção conduzida pela amargura e isolamento das personagens.



E aqui reside o tema de EXOTICA: cada indivíduo desta história lida, de forma diferente, com a perca de alguém, com enfoque em Francis e na sua relutância em enfrentar a tragédia que define o seu "presente". Os efeitos dessa resolução mostram-se devastadores, e por isso ele encontra na figura de Christina uma cortina que atenue a sua dor para um estado mais suportável. Se Francis assemelha-se, a priori, com um depravado voyeur de meia idade, até entendermos que o seu passado, de modo imprevisível e desconcertante, reduziu-o ao denominado "farrapo humano".

No que diz respeito às interpretações, não se presencia um único passo em falso. A calma intensidade de Bruce Greenwood, o sadismo latente de Elias Koteas e a nervosa timidez de Don McKellar imprimem uma fenomenal vitalidade às personagens criadas por Egoyan. Contudo, é Mia Kirshner, com a sua arrebatadora composição que só pode ser descrita como puro «Viagra cinematográfico« e encarnação de dor reprimida, que capta, irremediavelmente, a atenção do espectador. Abismal como esta canadiana ainda não alcançou voos maiores na Sétima Arte.

3 comentários:

Anónimo disse...

Sam,podias alterar o endereço dos meus blogs? Tive uns problemas com um conhecido meu, que literalmente apagou os meus estaminés.

Sendo assim o 35mm agora fica em:
www.em35mm.blogspot.com

o thesubsidal passa para:
www.discursobonito.blogspot.com

Cumprimentos e obrigado!

Maria Brandão disse...

Talvez por a sua imagem ter ficado muito "colada" à de Jenny em The L World. Ou por ser canadiana...

Ricardo Lopes Moura disse...

ainda me lembro de quando ninguém conhecia a mia para além de mim e fiquei a olhar para o primeiro episódio de 24 e ela se despiu num avião a muitos quilómetros do solo.

Vi Exotica no cinema Quarteto, em 1994. Adorei. Mas esqueceste-te de um pormenor imprescindível: a música de mychael danna.

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