sábado, maio 08, 2010
SEX & DRUGS & ROCK & ROLL (2010), de Mat Whitecross
Os últimos anos têm-nos brindado com um fenómeno, quase imperceptível, de biopics sobre alguns dos momentos e personalidades mais iconoclastas da discografia britânica dos anos 70 e 80 do século passado. 24 HOUR PARTY PEOPLE (2002, Michael Winterbottom) e CONTROL (2007, Anton Corbijn) foram os precursores deste "movimento cinematográfico" que conhecerá — se não ficar "enredado" nas malhas tecidas pelas políticas da distribuição comercial — cimentação com o agora destacado SEX & DRUGS & ROCK & ROLL, um relato, pessoal e artístico, de Ian Dury, vocalista e figura principal das bandas de culto Kilburn & the High Roads e The Blockheads.
Merecedor de um longo anglicismo como 'a larger than life self made man', Dury alimentou um estilo de vida absolutamente adequado ao frenesim e ilimitada criatividade deste biopic, que será tão apelativo para os fãs do músico britânico como a quem nunca ouviu falar no seu nome e respectivo legado.
A infância de Dury ficou marcada pela poliomielite contraída aos sete anos de idade, da qual resultou sequelas físicas (e psicológicas) irreparáveis. As dolorosas medidas terapêuticas e traumas provocados pela sua incapacidade motora forjaram uma personalidade instável, excêntrica e inspiradora. O advento do punk britânico serviu de catalisador ao ser anárquico e furioso que residia em Dury — subitamente, a sua sonoridade, sustentada em letras repletas de duplos sentidos e concertos inspirados nos mais bizarros musicais de revista, ganhou todo o sentido.
Embora o tema que empresta o título ao filme tenha sido banida pela BBC, «New Boots and Panties!!», o álbum de estreia de Ian Dury com os The Blockheads, tornou-se num êxito internacional e é unanimemente considerado como um dos artefactos musicais mais marcantes da sua época.
Mas não é a inquietude técnica que define SEX & DRUGS & ROCK & ROLL. Em Andy Serkis, actor inglês mais conhecido por ter emprestado a voz e diminuta compleição ao "computorizado" Gollum da trilogia O SENHOR DOS ANÉIS, o realizador Mat Whitecross não poderia ter encontrado melhor intérprete para transmitir o "demoníaco" carisma de Dury, assim como os aspectos mais censuráveis da personalidade do músico — obviamente, sex, drugs and rock 'n' roll. Num extraordinário e equilibrado tour de force, é possível testemunhar a história de um indivíduo acossado pela adversidade e infinitos fantasmas pessoais, incessante testador dos limites da tolerância de quem o amava e que, pelo seu talento inato e força de vontade, conquista a simpatia dos espectadores.
Destaque final para o formidável elenco secundário, sobretudo Olivia Williams no papel da esposa de Dury, Betty; Naomie Harris como Denise, uma groupie que se transformou na musa e eterna amante do cantor; Toby Jones encarnando uma figura autoritária que despoletaria o carácter rebelde do jovem Dury; e, em vários flashbacks do filme, Ray Winstone como o pai incapaz de lidar com a enfermidade do protagonista.
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1 comentário:
vou já ver :)
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