Breve resumo dos filmes visualizados esta semana.
OS DOIS DA (NOVA) VAGA (2010), de Emmanuel Laurent
Como o título indica, o filme centra-se quase exclusivamente nas figuras e percursos de Jean-Luc Godard e François Truffaut, fazendo-o de modo quase exaustivo: dos seus primórdios enquanto críticos apaixonados por um estilo literário de análise fílmica até à sua célere ascensão a favoritos da crítica, a sucessiva permuta de argumentos e projectos, os seus perfis biográficos e, por fim, as razões que originaram a cisão criativa e pessoal dos dois autores.
Mais didáctico que enciclopédico, constitui uma interessante abordagem à Nouvelle Vague, plenamente capaz de cativar iniciados e veteranos no tema. Lamenta-se, contudo, que Emmanuel Laurent não tenha tocado nas influências recebidas (Claude Chabrol ou Henri Langlois) e transmitidas (Louis Malle, Agnès Varda ou Alain Resnais) por Godard e Truffaut. A crónica da Nouvelle Vague revela-se incompleta em OS DOIS DA (NOVA) VAGA, tornando-o, assim, num título secundário para a compreensão do movimento
WAITING FOR 'SUPERMAN' (2010), de Davis Guggenheim
Enquanto acompanha um grupo de crianças prometedoras cujo meio social inibe, em vez de encorajar, sucesso escolar, WAITING FOR 'SUPERMAN' empreende uma completa análise do ensino público norte-americano.
Das "fábricas de desistências" até aos "fossos académicos", somos confrontados com a dissecação metódica de um sistema caduco, onde o fracasso das várias políticas adoptadas podem ser resumidas a burocracia, lobbying, aleatoriedade e estereótipo. Factores que poderiam muito bem aplicar-se à Educação de muitos países, aqui bem analisados e geradores de reflexão. Tanto que lhe perdoamos o sentimentalismo do seu último terço — mas não aquele escusado e autêntico "televendas" que acompanha o genérico final...
AD0RATION (2008), de Atom Egoyan
Para um trabalho de Francês, Simon inventa a sua história familiar inspirando-se numa notícia sobre terrorismo, como forma de avaliar e colmatar as dúvidas que sente sobre o seu próprio passado. A controvérsia instala-se quando o jovem estudante decide partilhar essa fabricação com uma série de contactos na Internet.
Elegante fotografia, elíptica narrativa, sufocante melodrama. Puro Atom Egoyan, que aqui também retoma temáticas (tragédia, pecado, perda e expiação) e mecanismos (tecnologia quotidiana, um novo contexto a cada repetição de planos e o simbolismo que aparentes "ruídos de fundo" acarretam) recorrentes numa alegoria sobre os conflitos e intolerâncias que retiram significado ao termo Humanidade.
A FOGUEIRA DAS VAIDADES (1990), de Brian De Palma
Sherman McCoy, «Mestre do Universo" pelo seu sucesso enquanto corretor de bolsa em Wall Street, vê a sua vida descarrilar quando a sua amante, Maria Ruskin, atropela um rapaz negro em pleno Bronx. O caso é empolado pelo jornalista Peter Fallow, levando ao agitamento da opinião pública e tornando McCoy num joguete dos insaciáveis e oportunistas interesses de Nova Iorque.
Exemplo acabado de como, com a subtileza de um elefante numa loja de porcelanas e repleto de miscastings (o caso de Bruce Willis é deveras aviltante), se desfaz uma das melhores sátiras literárias dos anos 80. A moral do (óptimo) monólogo final de Morgan Freeman aplica-se perfeitamente a quem assinou esta infeliz adaptação. Vale, somente, como exemplo da admirável criatividade técnica — destaque para o perfeito plano de sequência que abre o filme — de Brian De Palma.
terça-feira, março 22, 2011
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