terça-feira, abril 19, 2011

12 HOMENS EM FÚRIA (1957), de Sidney Lumet



Foi com enorme prazer que revi, ontem à noite, 12 HOMENS EM FÚRIA, o primeiro filme de Sidney Lumet e uma excelente introdução para o estilo, temático e estético, que o cineasta norte-americano desenvolveria durante meio século de carreira: magistral direcção de actores, enérgica narrativa e realismo social. Três aspectos devidamente explorados em 12 HOMENS EM FÚRIA, um drama de tribunal que não apresenta uma única sequência na sala de audiências (excepção feita para a breve introdução). Ao invés, centra a sua acção numa pequena sala para jurados de um tribunal de Nova Iorque, durante o "dia mais quente do ano", onde doze homens decidirão o destino de um jovem hispano-americano acusado de ter assassinado o pai.

Desde cedo, existe no grupo a sensação de que o veredicto unânime de culpado, e respectiva sentença de morte, será alcançado sem demoras nem controvérsias. No entanto, será o jurado n.º 8 (Henry Fonda) a levantar as suas objecções a tal desfecho, obrigando à revisão dos testemunhos e provas levadas a tribunal contra o réu e demonstrando que, afinal de contas, existe uma dúvida razoável (ou reasonable doubt, um princípio fundamental para a maioria dos sistemas legais) em torno do caso. «Estamos a falar de uma vida humana», afirma a personagem de Fonda. «Não podemos decidir isso em cinco minutos. E se estivermos errados?» Será este o ponto de partida para a ruptura entre o júri, onde cada um exporá preconceitos e fraquezas pessoais.



Segundo qualquer definição, estamos perante um filme "palavroso" em que a acção decorre a um nível mais intelectual do que de situações. É neste aspecto que Lumet revela-se um cineasta mais virtuoso do que se poderia esperar para o género de argumento apresentado. 12 HOMENS EM FÚRIA patenteia uma fenomenal direcção de fotografia que, com o desenrolar dos factos, torna-se mais expressionista e artificial.

Pormenores como a posição de câmara (a início, num ponto mais elevado em relação ao ponto de vista das personagens até ao domínio do contra-picado no final), o recurso a objectivas de grande distância focal conforme nos aproximamos do veredicto de inocente (dando a aparência de que as paredes "se aproximam" dos actores) e uma iluminação simbólica (note-se como a face do reticente jurado n.º 3, irredutível em atribuir a reasonable doubt ao réu mesmo quando todos os outros já o fizeram, está permanentemente obscurecida nas cenas finais) acompanham os sentimentos psicológicos do grupo e influenciam a nossa apreensão da narrativa.



A realização de Sidney Lumet e o inteligente argumento de Reginald Rose recusam preocupar-se na descoberta de quem realmente cometeu o homicídio, nem procura discernir se o jovem hispano-americano é ou não o culpado. 12 HOMENS EM FÚRIA descreve como a percepção lógica dos factos desenterra sempre a verdade mais significativa. E acaba por ser esse o tema do filme: os obstáculos e os meios que um indivíduo pode encontrar para encontrar a verdade, assim como a ausência de paz de espírito quando encaramos a incerteza.

Um clássico absoluto do cinema realista norte-americano, definido pelas personalidades, backgrounds, profissões, preconceitos e tiques emocionais de doze jurados, merecedor de uma audiência muito mais significativa do que as duas dezenas de espectadores que ontem marcaram presença na sala do 9500 Cineclube.

3 comentários:

Álvaro Martins disse...

Acho que é unânimamente considerado o melhor filme do Lumet, e eu sou um deles mas ponho muito perto o Dog Day Afternoon e o Serpico. Faltam-me ver alguns dele, nomeadamente o último dele e o Equus que já me falaram muito bem dele.

Luís Azevedo disse...

Acho que esta deve ser muito provavelmente uma das melhores obras de estreia de um realizador. Está verdadeiramente excelente e, é sempre uma pena um filme destes não ter sempre sala cheia...
PS Não me lembro de ao longo do filme alguma vez se ter identificado o réu como hispânico. Julgo ser visível que se trata de alguém de etnia diferente, mas nunca ser dito qual.
Cumps

Sam disse...

@Álvaro, o último dele é um genuíno "canto de cisne"...

@Luís, realmente, a etnia do réu nunca é mencionada durante o filme; contudo, a maioria das sinopses indicam-no como hispano-americano.

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