sexta-feira, fevereiro 24, 2012
Em contagem decrescente para os Óscares...
... e a dois dias da cerimónia, é altura de invocar os filmes e os nomes que a Academia "esqueceu" nas nomeações da sua 84ª edição.
É difícil recordar outro ano com tantas notáveis omissões como o relativo à cerimónia do próximo Domingo. Portanto, não custa muito ao Keyzer Soze listar os especiais casos de:
DRIVE — RISCO DUPLO, para Melhor Filme
Entre o retrato de um anti-herói com reminiscências de TAXI DRIVER (e o filme de Scorsese foi candidato à principal estatueta da cerimónia de 1976) e a pura e intensa estética narrativa do Século XXI, Nicolas Winding Refn concebeu um dos principais fenómenos de culto cinematográfico do ano transacto — estatuto que a Academia teima em não pôr à prova face aos títulos habitualmente oscarizáveis.
TAKE SHELTER, para Melhor Filme
A Academia sempre foi um paradigma de aversão a filmes de índole pessimista, e a nova "vítima" dessa realidade é este retrato da provável degeneração mental de um indivíduo e implacável metáfora ao espírito da Humanidade contemporânea. Não obstante a apreciação crítica e prémios dedicados ao cinema indie norte-americano recebidos, TAKE SHELTER estará absolutamente ausente, no próximo Domingo, do Kodak Theater.
Michael Fassbender, por VERGONHA, para Melhor Actor Principal
Fassbender entra literalmente de corpo e alma na pele de Brandon, um homem de sucesso viciado em sexo. Sem qualquer pudor, é extraordinária a entrega do actor, mostrando na perfeição a necessidade de prazer (onde não faltam as cenas de sexo e masturbação ou a nudez frontal do protagonista), e, ao mesmo tempo, o desespero que o invade ao deparar-se com a dificuldade em lidar com a "doença", a vergonha que sente e a quase total incapacidade de fazer algo para a ultrapassar. *
Michael Shannon, por TAKE SHELTER, para Melhor Actor Principal
Ninguém personifica melhor a imagem do "vulcão adormecido" como Shannon, ou não fosse ele um dos mais intensos actores a pulular, actualmente, por produções independentes e séries de televisão norte-americanas. Capaz de transportar o espírito inteiro de um filme sobre os seus ombros — as considerações feitas acima sobre TAKE SHELTER poderiam muito bem ser-lhe atribuídas —, a sua composição que balança, admiravelmente, pura contenção e violento clamor, era digna de reconhecimento pela Academia.
Tilda Swinton, por TEMOS DE FALAR SOBRE KEVIN, para Melhor Actriz Principal
Lembram-se do surpreendente Óscar recebido por Swinton, em 2008, pela sua mediana performance no ainda mais mediano MICHAEL CLAYTON? Afinal, parece ter-se tratado de uma estatueta tão prematura que até é capaz de vedar a presença de uma das interpretações mais assombrosas, inesquecíveis e psicologicamente ambíguas de 2011 do "lote" de nomeadas para Actriz Principal...
Elizabeth Olsen, por MARTHA MARCY MAY MARLENE, para Melhor Actriz Principal
...e a igual ausência de Olsen, responsável pelo primeiro papel principal com maiores índices de desordem, inquietação e devastação psicológica dos últimos anos, prova que a Academia não está receptiva a actores/actrizes capazes de transmitir traumas com um simples olhar, preferindo dar primazia à androginia via caracterização (Glenn Close) ou expressa por tatuagens e piercings (Rooney Mara).
Albert Brooks, por DRIVE — RISCO DUPLO, para Melhor Actor Secundário
Todas as apostas, prémios e elogios de crítica indicavam que estávamos perante o principal concorrente de Christopher Plummer, o vencedor "anunciado" nesta categoria por ASSIM É O AMOR. A ausência do gangster mais sádico e marcante de 2011 assume-se como um dos maiores choques que a Academia proporcionou nos últimos tempos, mas vale-nos o bom humor do actor para consolar as nossas "mágoas cinéfilas"...
Corey Stoll, por MEIA-NOITE EM PARIS, para Melhor Actor Secundário
Praticamente sonegado de todas as atribuições de prémios, a Academia ganharia (e muito!) em capacidade de surpreender caso nomeasse esta brilhante e sincera versão de Ernest Hemingway, que encerra todo o génio criativo, inquietação pessoal e fúria de viver que associamos ao escritor norte-americano. Há monólogos que, por si só, deveriam conceder indicação automática a um actor...
ONCE UPON A TIME IN ANATOLIA, para Melhor Filme Estrangeiro
Nuri Bilge Ceylan captura o existencialismo do argumento através da exibição da natureza, simultaneamente irreal e mundana, em que o filme se contextualiza e numa subtil "explicação" das personagens. Um dos trabalhos mais complexos e brilhantes produzidos em língua não-inglesa que merecia, no mínimo, divulgação por intermédio de uma indicação ao Óscar.
SENNA, para Melhor Documentário
Há critérios e regras da Academia que, por mais explicações que leia, não explicam a ausência de um dos documentários mais fascinantes e absorventes do ano transacto. Exemplo vivo do poder e dinamismo dramático das imagens de arquivo, elaborado com o ritmo e emoção de um épico histórico, uma história de motores, máquinas e política desportiva que revela a espantosa humanidade de Ayrton Senna.
Dario Marianelli, por JANE EYRE, para Melhor Banda Sonora
Embora o seu nome já não seja desconhecido entre quem acompanha as cerimónias de entrega dos ÓScares — arrecadou uma estatueta pela sua composição para EXPIAÇÃO —, Marianelli apresentou uma das partituras mais adequadas ao espírito de um clássico vitoriano da literatura, capturando todo o seu carácter gótico e romântico. Tudo isto e a audição do melhor solo de violino desde A LISTA DE SCHINDLER justificavam a nomeação.
E as vossas opiniões? São, como sempre, muito bem-vindas.
[* agradecimento especial à Inês Moreira Santos, do Espalha-Factos, por esta apreciação.]
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6 comentários:
Vejo aqui várias nomeações esquecidas, infelizmente :/ Enfim, força Malick!
http://onarradorsubjectivo.blogspot.com/
Narrador, estás à vontade para as indicar :)
O Michael Fassbender em Shame e o Viggo Mortensen em A Dangerous Method são das mais óbvias, é pena porque gosto muito dos dois :/
Michael Fassbender, Michael Shannon e a BSO de Jane Eyre! que crime..
Concordo com todas as faltas que aqui apontas (de entre as que já vi). Como já deves imaginar, juntava-lhes o Gosling, pelo Drive.
De resto, foi um prazer dar-te a mãozinha com o Fassbender que tanto merecia a nomeação para melhor actor.
Cumprimentos cinéfilos,
Inês
O Narrador, realmente estive a cogitar referir o A Dangerous Method neste post...
Inês, muito obrigado pela tua preciosa ajuda! Havia que fazer a justiça ao Michael Fassbender por quem viu mesmo o SHAME :)
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