sábado, agosto 18, 2012

LA VIDA ÚTIL (2010), de Federico Veiroj



Jorge (Jorge Jellinek) fica destroçado quando o encerramento da Cinemateca Uruguaya, onde trabalha há mais de 25 anos, se torna iminente. Após décadas de conviver com a selecção, apresentação e projecção de películas, programar retrospectivas e desempenhar as tarefas de manutenção daquele espaço, Jorge não conhece outra existência diferente. No momento da saída, decide vaguear por Montevideu e tornar-se no protagonista do seu próprio filme — sinopse adaptada do site Mubi.com.



Elogio à cinefilia e aos que pretendem manter os padrões clássicos da Sétima Arte numa era onde a obsessão por multiplexes apologistas do digital é quase sufocante, Federico Veiroj utiliza a figura de uma Cinemateca decadente, financeiramente insustentável e povoada por indivíduos desencantados — entre eles, Manuel Martínez Carrilo, o verdadeiro e enigmático director da Cinemateca Uruguaya que aqui interpreta a sua pessoa — como metáfora para o estado de milhares de esforçadas instituições culturais mundiais e, por conseguinte, da própria preservação da Arte e Cultura, sejam elas clássicas ou modernas.

LA VIDA ÚTIL ressoará mais junto do público fervorosamente cinéfilo — a pequena história de amor sugerida pelo filme possui, no seu cerne, detalhes de uma comédia romântica produzida na era anterior ao sonoro (uma sensação potenciada pelo sombrio e granulado preto-e-branco a que Veiroj recorre) —, sendo extremamente realista na pormenorização das várias tarefas inerentes ao funcionamento de uma cinemateca. Entre várias e óbvias razões, a projecção deste título na nossa Cinemateca Portuguesa faria todo o sentido...







No entanto, existe aqui uma mensagem subjacente, quase tão importante como a observação das dificuldades de uma instituição de divulgação e preservação cinematográfica. Nomeadamente, a de que o Cinema, enquanto ocupação profissional ou simples paixão cinéfila, pode ocupar uma fatia importante da nossa vida. Mas há sempre vida — embora menos saborosa — para além das imagens projectadas num grande ecrã.

Recomenda-se, e muito, a descoberta desta pequena pérola do cinema sul-americano.

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