quinta-feira, agosto 02, 2012

O CAVALEIRO DAS TREVAS RENASCE (2012), de Christopher Nolan





A coerência — seja ela visual, narrativa ou temática — de um filme nunca foi a minha principal preocupação quando chega o momento de o avaliar (na verdade, são diversos os títulos por mim considerados muito satisfatórios e que não primam por esse "princípio de equilíbrio"). O CAVALEIRO DAS TREVAS RENASCE, terceiro e derradeiro capítulo da saga de Christopher Nolan dedicada a Batman, ficará para a História como um dos exemplos mais confrangedores em termos daquilo a que se propõe e de falhar gritantemente na concretização de intenções, à partida, incoerentes. E, nesse caso, menos permeável à "condescendência"...

Uma vez mais, é-nos possível testemunhar o talento e eficácia inegáveis de Christopher Nolan na encenação de acção em grande escala, que não conhece aparentes limites "topográficos" ou urbanos e de elevado impacto emocional no espectador. Foi assim em O CAVALEIRO DAS TREVAS (2008) e A ORIGEM (2010), é-o, com grande efeito, também em O CAVALEIRO DAS TREVAS RENASCE. Desde o prólogo que introduz o vilão Bane até à revelação da ameaça que se abate sobre Gotham City num estádio de futebol americano, a ambiciosa magnitude da ilusão cinematográfica encontra em Nolan (se bem que continue a não saber contornar vários problemas na continuidade das sequências de acção) o seu melhor executante da actualidade.

Todavia, é evidente que o argumento deseja tornar-se idealista e mundano ao lado de toda a restante perturbação da paz e imagética fantástica. Abordando conceitos como vingança, justiça, a condição humana e desigualdades sócio-económicas, o apelo à reflexão é múltiplo, insistente e demasiado mas, ao fim de 164 minutos, não se afigura simples traçar conclusões. Há demasiados pontos de vista motivados por personagens em demasia; há défice narrativo em demasia a contrabalançar com uma economia de narrativa que não se mostra demasiado credível perante o tom de seriedade invocado; o herói é, de uma forma aparentemente inadvertida, demasiado ambíguo e o vilão demasiado olvidável — em total oposição ao Joker de Heath Ledger — quando os créditos finais começam a rolar. Há, e permitam-me insistir na redundância, "demasiados demasiados".

Dar continuidade ao nível qualitativo alcançado por O CAVALEIRO DAS TREVAS nunca seria fácil, e este filme prova-o ainda mais em todas as suas fragilidades. Tal não significa, porém, que se perderá a esperança nas habilidades de Christopher Nolan. Agora que encerrou a sua ligação a Batman, chegou a altura do cineasta de sair da caverna e explorar outros rumos.

2 comentários:

Loot disse...

Sem tirar nem por, acho que é exactamente por aí. em relação ao Bane achei-o formidável em termos de presença, de mal encarnado. Perde-se no final toda aquela faceta guerrilheiro e dar a cidade ao povo, seria mais interessante que se mantivesse, mesmo assim é talvez o que gostei mais do filme.

Bruno Cunha disse...

Concordo em grande parte. Superar o legado do Dark Knight iria ser difícil e nem foi no vilão que o último capítulo apresenta a sua maior falha...

Abraço
Frank and Hall's Stuff

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