segunda-feira, março 18, 2013

O Cinema dos Anos 2000: Donnie Darko, de Richard Kelly




Se a definição de "cinema total" pudesse ser definitivamente articulada, DONNIE DARKO seria o principal título dos anos 2000 a ilustrar esse conceito. Numa amálgama de referências culturais — de David Lynch a John Hughes, de REGRESSO AO FUTURO (1985, Robert Zemeckis) a RUSHMORE — GOSTAM TODOS DA MESMA (1998, Wes Anderson), de Philip K. Dick a Graham Greene —, o primeiro filme de Richard Kelly constitui-se como um dos mais revigorantes e subversivos frescos cinematográficos sobre adolescência, identificação pessoal e cultural e folclore norte-americano, do qual se podem extrair os mais variados significados que nunca se cingem apenas a uma época (em particular, o final dos anos 80) ou ao seu protagonista epónimo.

No início, há o anúncio de um fim do mundo, que ocorrerá dentro de «28 dias, 6 horas, 42 minutos, 12 segundos». Estas são as palavras do coelho gigante que povoa as alucinações de Donnie Darko (Jake Gyllenhaal), jovem habitante de Middlesex, no estado da Virginia, com aparentes problemas mentais, cujas acções influenciam o presente e futuro daqueles com quem se relaciona durante o filme. Entre "filosofias das viagens no tempo" e romance juvenil, DONNIE DARKO é um invulgar e explosivo triunfo técnico de imagens, ideias e referências, mas com ênfase total no lado humano da sua narrativa. Seja no colorido retrato de uma típica família americana — problemática mas capaz de alguma normalidade — ou na descrição de uma sociedade enlevada pelos excessos da política, fama e expansão financeira, todas as motivações das personagens residem na capacidade de encontrar o seu lugar neste mundo (e, preferencialmente, no próximo também).

Se a descrição do argumento de DONNIE DARKO não parece distingui-lo de outros dramas românticos contemporâneos, é a sensibilidade de Richard Kelly, simultaneamente popular e autoral, que converte o filme em algo de obrigatório. Mesmo as noções mais cabotinas e pessimistas — "será que todas as criaturas vivas morrem sozinhas?" — são sujeitas a uma brilhante reformulação através das imagens e palavras do seu realizador-argumentista, muito provavelmente um dos poucos nomes a quem se pode invocar o estatuto de cineasta inteiramente inspirado no e para o Século XXI.

Esta é apenas uma interpretação. Todas as restantes vivem na imaginação e assombro dos cinéfilos que se cruzam com DONNIE DARKO.

por Samuel Andrade.

Elenco
. Jake Gyllenhaal (Donnie Darko), Jena Malone (Gretchen Ross), Mary McDonnell (Rose Darko), Holmes Osborne (Eddie Darko), Katharine Ross (Dra. Lilian Thurman), Maggie Gyllenhaal (Elizabeth Darko), James Duval (Frank Anderson), Drew Barrymore (Karen Pomeroy), Patrick Swayze (Jim Cunningham), Noah Wyle (Dr. Kenneth Monnitoff), Beth Grant (Kitty Farmer)


Palmarés
. Festival Internacional de Cinema de Sitges: Melhor Argumento (Richard Kelly)


Sobre Richard Kelly

Com uma filmografia de apenas três filmes, o entusiasmo de Richard Kelly por viagens no tempo, existencialismo e espiritualidade é recorrente. Para além de DONNIE DARKO, assinou SOUTHLAND TALES (2006) e PRESENTE DE MORTE (2009), ambos recebidos friamente pela crítica e público. Contudo, é um dos nomes mais revigorantes da nova geração de realizadores norte-americanos.



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