terça-feira, março 26, 2013

O Cinema dos Anos 2000: Vidas Privadas, de Todd Field




Através de uma história aparentemente inofensiva, Todd Field cria um drama cruel, onde as revelações são lentas, as emoções turbulentas e não há grande catarse ou final feliz — só feridas abertas, bem vincadas e vidas arrasadas, transformadas de um dia para o outro no seguimento de uma enorme tragédia. Uma tragédia bem familiar e por isso mais temível ainda, que poderia acontecer a qualquer um de nós. Uma situação tão confrontante, que catalisa e impulsiona o filme, mexendo com ele de forma bela e complexa, que transparece o ecrã e nos faz também nós sentir a mudança. Uma mudança permanente, definitiva.

VIDAS PRIVADAS fala de amor e saudade, de luto e remorso, de ódio, rancor e vingança. No fundo, o filme fala sobre sobrevivência. Não de um ponto de vista primitivo, real, mas sim em relação à forma de estar no mundo, como se a vida destas personagens dependesse disso, da necessidade em voltar a um normal que conheciam anteriormente e ao qual não há ponto de retorno. Esta é a história deste casal, de Matt e Ruth e da penosa e dolorosa adaptação que a sua relação e o seu mundo vão ter que sofrer. Duas brilhantes interpretações de Sissy Spacek e Tom Wilkinson, que connosco partilham tudo o que sentem e pensam. Emoções tão profundas e internalizadas e ao mesmo tempo tão facilmente acessíveis, mal escondidas por debaixo da superfície aparentemente estoica e firme, duas personagens imperfeitas e reais, gente boa, trabalhadora e gentil, simplesmente a viver a sua vida dia após dia.

Um dos dramas mais fascinantes do início do século XXI e seguramente um dos melhores da década, VIDAS PRIVADAS reúne todas as qualidades do cinema independente norte americano — excelente elenco, com muitos actores talentosos subaproveitados pela indústria (como a fabulosa Marisa Tomei), bons valores de produção e um argumento desafiador, fugindo às fórmulas convencionais, tudo a baixo custo — e tem em Field um timoneiro com uma seriedade e certeza pouco comuns num realizador-argumentista à frente do seu primeiro filme. Um caso sério de sucesso, confirmado pela aclamação crítica, pela receita de bilheteira surpreendentemente estrondosa (36 milhões de lucro só nos Estados Unidos da América!) e as cinco nomeações aos Óscars, de visualização obrigatória.

por Jorge Rodrigues (Dial P For Popcorn).

Elenco
. Tom Wilkinson (Matt Fowler), Sissy Spacek (Ruth Fowler), Nick Stahl (Frank Fowler), Marisa Tomei (Natalie Strout), William Mapother (Richard Strout), Celia Weston (Katie Grinnel), Karen Allen (Marla Keyes)


Palmarés
. Globos de Ouro: Melhor Actriz — Drama (Sissy Spacek)
. Festival de Sundance: Prémio Especial do Júri — Drama (Tom Wilkinson e Sissy Spacek)
. Independent Spirit Awards: Melhor Primeira Obra (Todd Field), Melhor Actor (Tom Wilkinson), Melhor Actriz (Sissy Spacek)
. Satellite Awards: Melhor Filme — Drama, Melhor Actriz — Drama (Sissy Spacek), Melhor Argumento Adaptado (Robert Festinger e Todd Field)
. National Board of Review: Melhor Realizador (Todd Field), Melhor Argumento (Robert Festinger e Todd Field)


Sobre Sissy Spacek

De influência e legado inegáveis para todas as actrizes contemporâneas, Sissy Spacek revelou versatilidade e pujança artísticas inclusivamente durante os anos 2000, apresentando interpretações memoráveis em títulos como BADLANDS — NOIVOS SANGRENTOS (1973, Terrence Malick), CARRIE (1976, Brian De Palma), A FILHA DO MINEIRO (1980, Michael Apted, Oscar de Melhor Actriz), CRIMES DO CORAÇÃO (1986, Bruce Beresford) e JFK (1991, Oliver Stone).



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