quinta-feira, fevereiro 15, 2007

Memórias de Uma Gueixa (2005), de Rob Marshall



Existem filmes para os quais formulamos opinião, desde a primeira imagem do primeiro teaser, e dela não mais "fugimos". MEMÓRIAS DE UMA GUEIXA é um excelente exemplo disto mesmo: considerei-o, à partida, como um produto "delicodoce" e, visto o filme, essa convicção manteve-se. Inclusive, só ganhou maior vigor.

Adaptado do best-seller de Arthur Golden, MEMÓRIAS DE UMA GUEIXA foi um título que, durante vários anos, conheceu vários realizadores e percorreu um longo caminho até à certeza da sua concretização. Entre eles, ilustres como Steven Spielberg e Spike Jonze. Coube, enfim, a Rob Marshall [responsável pelo agradável e multi-oscarizado CHICAGO (2002)] transpô-lo para o grande ecrã, em tom semi-épico, do crescimento e preparação de uma cortesã japonesa (ou "gueixa"), desde a infância ao auge da sua profissão. Uma narrativa iluminada por um dos melhores trabalhos técnicos de 2005.

E MEMÓRIAS DE UMA GUEIXA comunica isso mesmo. Uma proeza cinematográfica, se avaliarmos um filme pelo seu resultado visual – esforço devidamente recompensado com três Óscares no ano passado (Fotografia, Direcção Artística e Guarda-Roupa). Paralelamente, embrenhamo-nos no mundo secreto das gueixas, com um profundo (mas, segundo alguns, distorcido) vislumbre da cultura nipónica dos meados do séc. XX. Na condição de supremo objecto feminino para os japoneses, a educação de uma gueixa – no presente caso, Sayuri (Zhang Ziyi) – é-nos apresentada através de um misto de emoção, mistério, rivalidade e sacralidade. A tradição aliada à sensualidade, a precisão cúmplice do resguardo, a competição entre gueixas como forma de afirmação pessoal, a submissão unida à capacidade de encantar um homem na rua com um simples e fugaz olhar.



MEMÓRIAS DE UMA GUEIXA funciona bem enquanto "testemunho" de uma sociedade exótica, por mais romantizado que se manifeste. E o filme conhece o seu auge na sequência da primeira apresentação ao público de Sayuri – uma cena de dança e música deveras hipnotizante, que só por si justifica o tempo que dispensamos a esta produção. Infelizmente, quase apetece-me sugerir que a película deveria ter conhecido aí o seu final. A partir daquela sequência, o filme arrasta-se em vários subplots, ou pretextos para desenvolver os diversos e necessários arcos das personagens principais.

Falando em personagens, destaque imprescindível para os performers, nomeadamente a protagonista Zhang Ziyi e, como sua rival, Gong Li [actriz igualmente notória em MIAMI VICE (2006)], ambas inabaláveis em desempenhos de puro antagonismo, tanto do ponto de vista conflitual como psicológico. Ken Watanabe, na pele de um dos mais profundos admiradores da "arte" de Sayuri, revela a sua firmeza artística patenteada, anteriormente, em O ÚLTIMO SAMURAI (2003) e, recentemente, em LETTERS OF IWO JIMA.



Contrastando com este universo cinematográfico "delicodoce", a obra só peca pelos seus referidos insucessos de natureza narrativa. Quase podemos especular que se insistiu na impressão, ao argumento, do mesmo tipo de destrezas visuais que povoam o filme. Talvez não teria sido negativo optar pela velha "regra de ouro" dos argumentistas: a simplicidade é amiga do êxito. No entanto, tal pormenor não estraga o prazer que é assistir a MEMÓRIAS DE UMA GUEIXA.

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