sábado, abril 07, 2007

300 (2007), de Zack Snyder



300 será, porventura, o filme que ditará os moldes dos épicos históricos a serem produzidos nos anos vindouros: visceral, directo e, em última instância, absolutamente emocional. Na verdade, ansiava por um épico, no sentido efectivo do termo, há já algum tempo. GLADIADOR (2000) reacendeu a chama do género no início dos anos 2000, 300 é o seu "parente próximo" para o que sobra da actual década.

Não obstante a fantasia que inebria o filme, e de toda a "parafernália" digital que o adorna, 300 não deixa de ser Cinema do princípio ao fim: a comprová-lo, está o facto de este ser um filme feito para se ver, apenas e sempre, em grande ecrã. A semi-lendária narrativa da Batalha das Termópilas, onde um pequeno reduto de soldados de Esparta (os 300 do título) resistiram — até ao último homem — na defesa da sua pátria, ao numeroso e possante exército da Pérsia, é aqui apresentada como símbolo de coragem e honra, mas, acima de tudo, exalta as capacidades humanas quando o verbo "resignar" não figura no vocabulário de um conjunto de indivíduos. Posto de outra forma, 300 é um filme que, narrativamente falando, se sobrepõe à simples exibição do conflito — a priori, temi que o fosse —, preferindo construir um eficaz grupo de personagens bem definidas nos seus motivos e acções. Isto, num filme de acção desmedida, é louvável.



A primeira menção honrosa vai para Frank Miller, o autor da banda desenhada em que o filme se baseia. 300, na sua versão cinematográfica, afigura-se como a transposição ipsis verbis do desenho para o grande ecrã — à semelhança do que sucedera em SIN CITY - A CIDADE DO PECADO (2005), obra igualmente extraída da bibliografia do mesmo desenhador. Ao "fugir" à mera lição de História, a introdução do surreal neste episódio da Antiga Grécia conserva o teor lendário que a Batalha das Termópilas ostenta, enaltecendo, deste modo, as gigantescas contrariedades suportadas pelo exército espartano.

O segundo grande trunfo de 300 é, inevitavelmente, o empenho dedicado ao trabalho visual da película. O cinema digital veio para ficar (já o dissera antes e ninguém se atreve a questioná-lo) e 300 permanecerá como um dos títulos seminais no seu contributo para a indústria [representa, por exemplo, o que IMORTAL (2004) tentou cumprir].



Para além desta mistura de lendas e efeitos visuais, existe espaço de destaque para os "actores de carne e osso", os quais não são meros adereços da acção. Gerald Butler [O FANTASMA DA ÓPERA (2004)], na pele do Rei Leónidas, distingue-se não só pela sua presença física — impressionante o trabalho de exercício corpóreo a que se submeteu a maioria do elenco masculino — como também pelo seu convincente retrato de um líder preparado para a pior das ameaças. Lena Headley [OS IRMÃOS GRIMM (2005)], enquanto rainha de Esparta, retoma a figura da mulher determinada a personificar, por vezes tragicamente, um ideal assumido por poucos. A participação do brasileiro Rodrigo Santoro, no papel do rei Xerxes da Pérsia, possui mais pujança visual do que qualquer outra personagem em 300, sem que tal lhe retire o valor memorável de uma performance, ainda que curta, do "antagonista", e longe do aspecto de sex-symbol latino que caracteriza as suas presenças em produções norte-americanas.

Para finalizar, 300 é um filme fabricado para agradar a gregos e troianos. Se houver quem não aguente o artificialismo que o submerge, a eficiência de um argumento bem contado continuará a satisfazer o público mais ávido dos conteúdos cinematográficos "terra-a-terra". Pessoalmente, 300 ganha já destaque na lista dos filmes definitivos de 2007. No mínimo, no que toca a poder visual, são poucas as hipóteses de outro título o destronar...

1 comentário:

Anónimo disse...

Finalmente isto voltou a ter movimento! E ainda bem!!

Quanto ao 300... é simplesmente brutal! Concordo com tudo o que dizes! Excelente crítica!

Cumprimentos

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