segunda-feira, setembro 03, 2007

A Rainha (2006), de Stephen Frears



No que a biografias diz respeito, existe sempre a tentação de se criar aquilo que alguns apelidam de faction, ou seja, a junção, no mesmo argumento, de facto (fact) com ficção (fiction). Estou em crer que, neste retrato íntimo e nem sempre risonho da monarquia mais poderosa da Europa, esse conceito foi (não obstante a extensa investigação levada a cabo pelo argumentista Peter Morgan) utilizado de forma a reflectir sobre o dilema eterno do conflito entre a tradição e a informalidade, o conservadorismo e a popularidade, o luto recolhido e a mediatização de emoções.

Tendo como pano de fundo a trágica morte da Princesa Diana, num túnel de Paris, em 1997, A RAINHA descreve o modo como a família real britânica lidou com o evento; liderada por Isabel II (Helen Mirren), o desejo que todos adoptam é o de não mostrar qualquer emoção publicamente, situação que perplexa e enraivece as milhares de pessoas que choram o desaparecimento da Princesa de Gales. Um recém-eleito Tony Blair (Michael Sheen) encarrega-se de convencer Sua Majestade a mudar de atitude e a sair do seu retiro protocolar...



A grande vencedora deste A RAINHA é, sem dúvida, Helen Mirren e a sua encarnação da figura que consente o título ao filme. Se mais haverá a referir sobre este multi-premiado papel, resta-me acrescentar que, após um percurso ao qual tenho prestado muita atenção nos últimos anos (fui espectador assíduo da série Prime Suspect), a actriz obtém aqui o seu definitivo reconhecimento de talento. A sua Isabel II é inteligente, competente, por vezes cómica e sempre comedidamente enfática. A semelhança física da actriz com a monarca também não escapa despercebida, obrigando-me, por vezes, a fazer um esforço suplementar para visualizar a face da autêntica rainha.

E, apesar de todo o destaque dado a Mirren, fiquei com a sensação final de que o filme pertence ao 'Tony Blair' de Sheen. A sua capacidade de incorporar tão eficazmente a personalidade quase faz-nos esquecer que estamos perante um actor, como ainda consegue imprimir ao indivíduo uma inesperada aura de nobreza (sobretudo, à luz de eventos históricos mais recentes), tornando-o, assim, no elemento mais primordial de todo o elenco.



Um bom filme? Sem dúvida. Historicamente correcto? Talvez. Algumas sequências não escondem a sombra da pura especulação, nomeadamente no que se refere aos motivos das personagens. Será Filipe, duque de Edimburgo e esposo de Isabel II, um homem mais preocupado em caçar do que cumprir deveres reais? Terá Carlos tentado aproveitar-se da morte de Diana para ganhar "pontos" na sua imagem pública? Se tal realmente aconteceu, não seria fácil sabe-lo e expô-lo num filme de ânimo leve. No entanto, são estes pormenores (a faction) que mantêm um filme na rota do sucesso...

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