terça-feira, outubro 30, 2007

A Queda - Hitler e o Fim do Terceiro Reich (2005), de Oliver Hirschbiegel



Não deve existir tarefa mais delicada do que retratar, artísticamente, a figura de Adolf Hitler. Entendido como a maior encarnação do mal e de intolerância alguma vez registada na história da Humanidade, torna-se, logo à partida, intricado construir uma imagem do fundador do Nazismo sem ignorar todas as opiniões geradas a partir de 60 anos de (des)construção histórica da personalidade.

Uma das primeiras tentativas de o fazer foi num filme de 1973, com Alec Guiness como protagonista, intitulado HITLER - OS ÚLTIMOS DEZ DIAS. Considerado pela crítica como a melhor interpretação de Guiness, é também apontado como historicamente incorrecto, embora se esforce em mostrar Hitler como um ser humano, possuidor de emoções comuns a qualquer outro indivíduo.



Talvez pelo tom moderado que o Cinema sempre dispensou a Hitler, este A QUEDA revela-se um projecto ganho por esmiuçar, fria e incondicionalmente, não só a derrota de um líder, como a total decadência de um regime político. Incapaz de reconhecer a falência militar alemã face ao cerco a Berlim imposto pelo exército russo, rodeado de oficiais leais mas receosos, desertores e incrédulos numa reviravolta da situação e encarcerado num bunker mal iluminado, Bruno Ganz, no papel principal, executa um autêntico tour de force convencendo-nos de que Hitler era um indivíduo com visões e comportamentos realmente condenáveis, debilitado fisicamente, mas capaz de demonstrar afecto, apreço e misericórdia.

Baseado nos relatos de quem acompanhou, intimamente, os últimos dias de Hitler e sobreviveu para partilhar o que assistiu (nomeadamente, Traudl Junge, secretária pessoal do ditador e co-protagonista em A QUEDA), o filme demonstra todos os momentos debatidos e realçados pela História sobre aquela última semana do Nazismo, desde os lendários (a celebração do matrimónio entre Hitler e Eva Braun é um momento quase cómico) até aos melindrosos (o suicídio forçado dos filhos de Joseph Goebbels, induzidos pela própria mãe).



No cômputo geral, A QUEDA tem como mérito principal o facto de não querer fazer de Adolf Hitler um mero "boneco", a quem possamos colar rótulos ou adjectivos. Procurou-se, apenas, elaborar um retrato real de alguém que ultrapassa a nossa compreensão. Surgiram, na época da sua estreia, críticas negativas sobre o filme querer "humanizar" o ditador. Hitler era, para o bem ou para o mal, humano, e A QUEDA almeja extrair a aura de mitologia que (ainda) pende sobre ele.

A QUEDA é um filme de visualização recomendada, digno de projecção nas salas de aula de História e, para os mais indecisos, a ser encarado como um documentário histórico.

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