sábado, novembro 03, 2007

Sunshine — Missão Solar (2007), de Danny Boyle



Um conto de suspense psicológico e ficção científica como pretexto para a análise da resistência humana num ambiente limitado é, por si só, uma premissa demasiado sedutora para descartar a espreitadela. SUNSHINE é a concretização desta sinopse e o regresso definitivo ao fulgor criativo de Danny Boyle, autor de dois títulos obrigatórios dos anos 90: PEQUENOS CRIMES ENTRE AMIGOS (1994) e TRAINSPOTTING (1996).

Sem especificar o contexto temporal da narrativa — conseguimos, apenas, perceber que decorre numa época de avançada exploração espacial —, nove cientistas formam a tripulação da Icarus II, com a missão de evitar o processo de decomposição do Sol, através de uma descarga explosiva apontada ao seu núcleo, evitando, assim, a extinção da Humanidade. Um empreendimento anterior, ou seja, a Icarus I, fracassou por motivos desconhecidos, o que reforça a insegurança entre os membros da nova operação. Receios totalmente justificados quando uma série de acidentes — avarias, erros humanos inesperados, mortes — colocam em risco o sucesso da missão, ao mesmo tempo que uma descoberta surpreendente esclarece os erros da primeira viagem.



Intransigente na minha vontade de não revelar pormenores sobre a "descoberta" supracitada, apenas direi que o surgimento deste elemento providencia a súbita transição do tom do filme. Quando julgávamos que apenas iríamos observar a ânsia de sobrevivência de nove indivíduos no centro do sistema solar, a ameaça para a missão torna-se palpável, imprimindo, a partir desse momento, ambiências evocativas de ALIEN - O 8º PASSAGEIRO (1979). E respondo não a quem julgar que vida extra-terrestre no Sol é um dos temas em SUNSHINE.

Para além do complexo mas intenso argumento de Alex Garland (colaborador habitual de Danny Boyle), o destaque de SUNSHINE pertence, indubitavelmente, à concepção visual claustrofóbica do filme. Apesar da reportada pesquisa efectuada junto de sumidades em navegação espacial, como a NASA, as referências a outros títulos é forçosa: desde o já referido ALIEN, passando por SOLARIS e 2001 - ODISSEIA NO ESPAÇO até a DAS BOOT, os cenários apertados e metálicos criam um efeitos de clausura sobre as personagens e a história, abrindo o caminho para a divagação acerca do progresso científico, ética e limites da racionalidade.



Danny Boyle sempre foi um realizador com as armas apontadas ao entretenimento do espectador, "vendendo o seu produto" fluidamente. É um artista que facilmente desenvolve um filme capaz de suscitar reacções físicas e evitando, nesse processo, cair em enormes ondas de emoções. Este SUNSHINE é um excelente exemplo dessa característica: a introdução do tal elemento ameaçador, bem perto do final, tem mais utilidade enquanto ingrediente de terror do que contribuição para os temas filosóficos em que o filme insistia.

Concluindo, e a moral em SUNSHINE? Poderemos sentir-nos incomodados por saber que esta reside na assumpção de que estas personagens estão mais interessadas em obter o êxito da missão do que na salvação das próprias vidas. "Serias capaz de cortar a garganta a alguém em prol da Humanidade?", questiona-se, temerosamente, a certo momento mas, no entanto, não existiria outro meio de colocar este filme entre os mais interessantes de 2007.

1 comentário:

Paulo disse...

Adorei este filme, assim como o Solaris, já para não falar no Cubo e o Hiper-cubo.

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