quinta-feira, janeiro 24, 2008

O Comboio das 3 e 10 (2007), de James Mangold



A busca de um homem pela sua sanidade moral, rodeado por um mundo repleto de delito e corrupção, não é definitivamente um tema original no âmbito do western. Contudo, este remake do filme de 1957 realizado por Delmer Daves [cineasta semi-desconhecido que encontrou o seu auge ao dirigir Humphrey Bogart e Lauren Bacall em PRISIONEIROS DO PASSADO (1947)] e protagonizado por Glenn Ford, consegue transmitir um novo fôlego a esta abordagem, aparentemente consumida, do cowboy insubornável, ao mesmo tempo que merece a sua inclusão automática no recente movimento de ressurreição dos filmes do “Faroeste” das últimas duas décadas.

Para tal, James Mangold decidiu “alargar” a história. Desmarcando-se do tom do primeiro filme (que se concentrava maioritariamente no confronto verbal, num quarto de hotel, entre os dois protagonistas), aqui é-nos fornecido uma espécie de road movie que vai relatando, com sequências e paisagens impecavelmente filmadas, os esforços de Dan Evans (Christian Bale), veterano marcado fisicamente pela guerra civil americana e necessitado de dinheiro para fazer face a um longo período de seca, em manter a sua rectidão pessoal após aceitar o desafio de escoltar o célebre fora-da-lei Ben Wade (Russell Crowe) pelo longo deserto americano, a tempo de o fazer embarcar num comboio à hora e destino certos – ou seja, a carruagem das 3:10 para Yuma, prisão onde será consumada a pena de morte que lhe foi decretada.



Sem pretender denegrir o trabalho de Bale e Crowe, os dois protagonistas desempenham os seus papéis num eficaz “piloto automático”. Ambos estão fisicamente adequados aos propósitos que as suas personagens encerram, conseguindo manter acesa a “faísca” de conflito e incerteza que alimenta esta personificação do bem versus o mal até à última cena de 3:10 TO YUMA.

Como qualquer western que se preze, o tiroteio final ocupa também aqui honras de maior atenção. A sequência em causa é mais excitante, e por isso memorável, não pela construção da acção, mas sim pelo desfecho que, acredito piamente, irá surpreender até os bons conhecedores da película original.



Destaque final para os sub-aproveitamentos de Peter Fonda (apenas pertinente pelo seu passado em ambiências de westerns) e Gretchen Mol [a actriz que impressionou em THE NOTORIOUS BETTIE PAGE (2006)] está aqui reduzida à sofrida esposa de Dan Evans, incapaz de demonstrar outra emoção que não seja a esforçada resignação perante os infortúnios da vida e decisões arriscadas do esposo: nem se vislumbra o mínimo indício do que realmente move a sua personagem.

Pormenores de casting que, na análise geral, não retiram méritos a 3:10 TO YUMA – para mim, o melhor filme de James Mangold desde COPLAND — ZONA EXCLUSIVA, título produzido há dez anos atrás. Não obstante VIDA INTERROMPIDA (1999) ou WALK THE LINE (2005), teremos de esperar mais uma década para o ressurgimento qualitativo deste realizador?

1 comentário:

armando s. sousa disse...

É com gosto que digo, também, que este blog é excelente.

Logo que possível farei o link.

Quanto ao filme o comboio das 3 e 10, há muitos anos que não via um western tão bem conseguido.

Um abraço.

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