domingo, março 01, 2009

5 Momentos Memoráveis

#2: LONG TAKE



Se existe técnica mais exaustiva durante a rodagem de um filme, é, sem dúvida, o plano-sequência.

Através da história da Sétima Arte, a observação de longos e audaciosos takes tem cativado cineastas e espectadores pelo seu fabuloso esforço técnico e impecável coreografia. Numa arte em que a justaposição de imagens está no cerne da sua forma de contar histórias, o plano-sequência é o equivalente cinematográfico ao «hole in one» no golfe: raro, intocável e muito difícil de alcançar.

Recorrendo, mais uma vez, à minha opinião pessoal, aqui ficam seis excelentes planos-sequência que, em cada revisão, conseguem sempre encantar-nos tal como se as víssemos pela primeira vez.

Menção Honrosa: KILL BILL: VOLUME 1 (2003), de Quentin Tarantino



Na preparação da cena mais dinâmica e, consequentemente, sangrenta da primeira parte da "análise" de Tarantino sobre vingança e redenção, o realizador proporciona uma vista geral da «House of Blue Leaves», num plano-sequência com duração de dois minutos e um óptimo exemplo de como usar a Steadicam acoplada a uma grua. (Para os melómanos, a banda que figura na cena é as The 5.6.7.8's e tocam o tema 'Woo Hoo').



5. OLHOS DA SERPENTE (1998), de Brian De Palma



Brian de Palma é o "rei" dos planos-sequência: de BLOW-OUT - EXPLOSÃO (1981), passando por MISSÃO: IMPOSSÍVEL (1996) e até em A DÁLIA NEGRA (2006), é sempre possível descortinar um exemplo desta técnica nos seus filmes. OLHOS DA SERPENTE, apesar da pobre recepção que mereceu aquando da sua estreia, ficou marcado por este aparente long take de 13 minutos... Aparente, porque na verdade existem 8 cortes dissimulados na sua duração. Conseguem descobri-los? (Por mais que tivesse procurado, só existem clips em Espanhol disponíveis na Internet).





4. OS FILHOS DO HOMEM (2006), de Alfonso Cuarón



Quando a imaginação do director de fotografia e a técnica state-of-the-art se combinam, o resultado é esta magnífica cena de acção decorrida, maioritariamente, no interior de um automóvel. Para a sua concretização, foi necessário conceber bancos reclináveis, uma câmara giratória e a inserção, através de efeitos visuais, do tejadilho da viatura. Tudo isto e ainda a fantástica temporização da acção no exterior contribuem para uma das sequências mais emocionantes deste excelente filme.



3. A SEDE DO MAL (1958), de Orson Welles



Sequência que marcou o destino desta obra-prima, é um legítimo panteão para a noção geral de Orson Welles enquanto cineasta inovador e destemido na concretização de imagens surpreendentes. Realmente filmado num único take, exigiu diversas e intermináveis repetições durante uma noite inteira. A última tentativa foi a que acabou por ser incluída na montagem final - numa altura em que os primeiros raios de sol já despontavam no horizonte. Esta sequência é, também, um excelente exemplo de como usar a técnica para um motivo específico (vejam o clip e entenderão).



2. OLDBOY (2003), de Chan-wook Park



Chan-wook Park é um dos realizadores mais activos e intensos do cinema asiático contemporâneo. Contudo, este OLDBOY será a sua obra mais reconhecida a nível mundial (mereceu o Grande Prémio do Júri no 57º Festival de Cannes) e esta sequência contribui para esse facto. Dois minutos e meio de impiedosa "tareia", filmada num único take que reclamou três dias de preparação e dezassete tentativas para ostentar a sua magnífica perfeição técnica.



1. PROFISSÃO: REPÓRTER (1975), de Michelangelo Antonioni



Esta ocupa o primeiro lugar pela sua complexa diversidade. Para a sua concretização técnica, a câmara foi estabilizada por giroscópios, deslocada através de um carril suspenso no tecto, a grade da janela teve de ser sorrateiramente aberta para permitir que um técnico, no exterior, assumisse a grua que controlava a objectiva. Depois, é impossível não ficarmos "hipnotizados" pelo simbolismo desta cena, na qual o destino final do protagonista, em vez de ser mostrada explicitamente, é "sugerida" pela lenta circulação da câmara. Constantemente estudada por cinéfilos e estudantes, afirmou o estatuto de autor atribuído a Michelangelo Antonioni. (Para uma compreensão detalhada sobre esta cena, aconselho o livro sobre o cineasta editado pela Taschen).



6 comentários:

Carlos Faria disse...

Este filme de Antonioni é todo ele uma obra-prima, mas este plano-sequência de facto encanta qualquer cinéfilo pela sua perfeição.
Não considero os filhos do homem um grande filme, mas o plano-sequência apresentado é de se tirar o chapéu.
O plano do oldboy referido é um pouco irrealista, mesmo tendo em conta o tipo de obra,embora tenha gostado do filme.

Unknown disse...

Post muito bom de facto. Parabéns.

Mas dos que referes continuaria a por o Oldboy em primeiro lugar. A sequência de luta é das mais belas que vi em toda a história do cinema.

Abraço

S.Soares disse...

Muito bom post, uma "aula" para qem gosta de cinema. Excelente trabalho neste blog. Parabéns! Obrigatório.

Ricardo Lopes Moura disse...

como é possível teres-te esquecido do início de The Player, de Robert Altman?

Sam disse...

Ricardo,

na verdade, não me esqueci. Mas como cingi-me ao gosto pessoal, considero os seis exemplos aqui referidos como os melhores.

Abraço

David Martins disse...

E agora fiquei com vontade de rever Os Filhos do Homem!

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