#10: Confronto de Lendas (Parte 1 — Actores)
O que transformará alguém em "figura lendária da Sétima Arte"? O sucesso dos filmes que protagonizou? O seu carisma e/ou aspecto físico? A marca que o seu percurso artístico deixou em milhões de espectadores? Possivelmente todas estas hipóteses expliquem a razão de alguns actores possuírem uma mística que poucos alcançam. E não deixa de ser ainda mais memorável quando dois nomes desse restrito "grupo" partilham o grande ecrã no mesmo filme.
É esse exercício de cinefilia que o Keyzer Soze's Place tem o prazer apresentar, numa selecção de cinco (e obrigatória menção honrosa) sequências inesquecíveis. Para já, realçamos os confrontos de lendas masculinas — e fiquem atentos à versão no feminino desta incursão pela história do Cinema que será publicada em breve.
Menção Honrosa: Christopher Walken vs. Dennis Hopper em AMOR À QUEIMA-ROUPA (1993)
Uma peculiar teoria sobre a origem genética dos sicilianos serve de mote para esta sequência (brilhantemente escrita por Quentin Tarantino) que coloca frente a frente dois dos actores que melhor simbolizam o que é ser "cool" em Hollywood. Apesar de não esboçar o seu habitual "pézinho de dança", Christopher Walken está tremendamente ameaçador enquanto tortura a personagem de Dennis Hopper no sentido de aferir o paradeiro do protagonista de AMOR À QUEIMA-ROUPA. O desenlace adivinha-se a léguas mas não há hipóteses deste "confronto" não ficar registado na memória do espectador...
O momento-chave:
Coccotti (Walken): You know who I am, Mr. Worley?
Clifford Worley (Hopper): I give up. Who are you?
Coccotti: I'm the Anti-Christ. You got me in a vendetta kind of mood. You tell the angels in heaven you never seen evil so singularly personified as you did in the face of the man who killed you.
5. James Dean vs. Rock Hudson em O GIGANTE (1956)
Apesar da sua curta carreira, nenhum outro actor atingiu o patamar lendário de James Dean. Sempre a principal figura dos três filmes que protagonizou, e na pele de Jett Rink em O GIGANTE, espalhou a sua eterna aura de inadaptado ao enfrentar o impressionante físico de Bick Benedict (Rock Hudson) para anunciar que de mero capataz passará a ser um magnata do petróleo. Um indiscreto comentário à beleza de Leslie (Elizabeth Taylor) culminará no principal momento deste "confronto" — uma cena repetidamente ensaiada, tal como a rara fotografia acima publicada demonstra.
O momento-chave:
Jett Rink (Dean): My well came in big, so big, Bick and there's more down there and there's bigger wells. I'm rich, Bick. I'm a rich 'un. I'm a rich boy. Me, I'm gonna have more money than you ever thought you could have - you and all the rest of you stinkin' sons of ... Benedicts!
4. Charlton Heston vs. Orson Welles em A SEDE DO MAL (1958)
Duas figuras díspares nas suas vidas pessoal e artística, mas cujos nomes não podem ser ignorados para uma história concisa do Cinema, defrontam-se no clímax de A SEDE DO MAL, talvez um dos melhores noirs de sempre. Destaca-se a transformação física de ambos: Heston interpreta o mexicano Vargas (com bronzeado e tudo!); Welles, quase irreconhecível, empresta à sua famosa voz um arrastado sotaque americano na pele do capitão Quinlan. Quando o primeiro apresta-se a desmascarar a corrupção do polícia, somos testemunhas de um "confronto" sublinhado pelo chiaroscuro e sucessivos contrapicados que tornam a personagem de Welles ainda mais ameaçadora.
O momento-chave:
Quinlan (Welles): That wasn't no miss, Vargas. That was just to turn you 'round, so I don't have to shoot you in the back. Unless you'd rather run for it.
3. Al Pacino vs. Robert De Niro em HEAT — CIDADE SOB PRESSÃO (1995)
Fizeram carreira em títulos onde a violência, física e verbal, detinha proeminência. Mas quando Al Pacino e Robert De Niro partilham, pela primeira e antológica vez, a mesma cena, encontramos prudência, contenção e formalismo. Da mise-en-scène até ao diálogo trocado entre Pacino (o polícia Vincent Hanna) e De Niro (o ladrão hi-tech Neil McCauley), a tensão deste "conflito" é pautada pelos argumentos de cada um, assim como a troca de olhares simultaneamente benigna e intimidante. Talvez por este momento, HEAT — CIDADE SOB PRESSÃO é o melhor policial dos anos 90.
O momento-chave:
Vincent Hanna (Pacino): But I tell you, if it's between you and some poor bastard whose wife you're gonna turn into a widow, brother, you are going down.
Neil McCauley (De Niro): There is a flip side to that coin. What if you do got me boxed in and I gotta put you down? Cause no matter what, you will not get in my way. We've been face to face, yeah. But I will not hesitate. Not for a second.
2. Buster Keaton vs. Charles Chaplin em LUZES DA RIBALTA (1952)
O "confronto" de LUZES DA RIBALTA assinala o momento histórico em que dois dos nomes incontornáveis dos silent years partilharam a mesma sequência. Chaplin, o "rei da pantomina" e detractor do filme sonoro, resgatou Keaton, o "homem que nunca ria", do obscurantismo em que se encontrava. Neste bizarro tour de force musical — se o piano sofre uma estranha afinação, o violino também não ficará melhor tratado — os dois actores "roubam", desportiva e exemplarmente, o protagonismo da cena e o resultado final, para o espectador, não poderia ser outro do que a pura gargalhada desbragada...
O momento-chave:
As imagens falam por si.
1. George C. Scott vs. Peter Sellers em DR. ESTRANHOAMOR (1964)
George C. Scott queixou-se várias vezes do overacting que Stanley Kubrick lhe impôs; Peter Sellers construiu um Presidente dos EUA ingénuo e sempre indeciso. A química entre os actores originou sequências inesquecíveis na sala onde se decidia o futuro de um planeta à beira da aniquilação nuclear. O "confronto" de Scott e Sellers (dois nomes fundamentais para a compreensão do Cinema nos anos 60) ocupa o lugar cimeiro desta lista pelo seu imenso contributo à elevação de DR. ESTRANHOAMOR como uma das sátiras mais acutilantes sobre a loucura bélica da Humanidade.
O momento-chave:
President Merkin Muffley (Sellers): I will not go down in history as the greatest mass-murderer since Adolf Hitler.
General "Buck" Turgidson (Scott): Perhaps it might be better, Mr. President, if you were more concerned with the American People than with your image in the history books.
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