sábado, agosto 07, 2010
O VISITANTE (2008), de Thomas McCarthy
Todos os anos, surgem dois ou três títulos que parecem existir com o único intuito de nomear um actor ou uma actriz ao Óscar em sacrifício de tudo o resto. Não pretendendo afirmar que tal "estratégia" seja negativa ou censurável, é premente realçar o risco de insatisfação que O VISITANTE poderá causar no espectador, nitidamente construído apenas como veículo para Richard Jenkins, um character actor por excelência e que tem aqui o papel definitivo da sua carreira. E adivinhem? Foi mesmo nomeado para o Óscar...
Walter Vale (Jenkins) é um professor universitário de Economia cujas memórias e desilusões do passado tornaram-no num indivíduo solitário e empedernido. Talvez precise de uma companhia permanente para conversar (a esposa faleceu há alguns anos e o único filho encontra-se emigrado em Londres) ou de algum desafio na sua vida. Estas duas necessidades parecem ficar colmatadas quando se dirige a Nova Iorque para apresentar um trabalho e encontra no seu apartamento Tarek e Zainab, um casal africano a viver ilegalmente nos EUA e a quem um oportunista alugou, ilegalmente, a casa de Walter.
Apesar da surpresa, Walter deixa-os ficar no apartamento até encontrarem outro sítio. Durante esse período, descobre que Tarek é um virtuoso intérprete de tambor e, ao mesmo tempo, uma paixão nunca explorada por ritmos africanos. E quando Tarek é detido e em risco de deportação para a Síria, o protagonista revela um espírito solidário que ele próprio ignorava, ao apoiar o emigrante para que este permaneça em solo norte-americano.
A interpretação de Richard Jenkins é um dos principais motivos para ver O VISITANTE. De início, estamos perante um homem incapaz de outra expressão que não seja a impassividade. O volume do seu discurso é sempre reduzido, os lábios nunca se contorcem num sorriso ou esgar de ira. A reviravolta na imagem de Walter, ao longo do filme, é absolutamente imperceptível pela excelente composição de Jenkins. Quando finalmente explode, quase nos faz estremecer (e a "suplicar" por mais personagens principais do actor).
Infelizmente, o restante não causa semelhante impressão. O estilo clássico aqui empregue — e que o realizador Thomas McCarthy já havia utilizado no interessante A ESTAÇÃO (2003) — resvala para uma tentativa de explorar o sentimento americano pós-11 de Setembro face a imigrantes oriundos da África muçulmana. Mas O VISITANTE aborda este tema de modo "estafado", dissipando todo o impacto humano a que o filme, na exposição do argumento, parecia querer dedicar-se.
Um mau filme? Seria exagerado considerá-lo assim. Falha, em demasia, no caminho que pretende seguir e, finalmente, no seu positivo usufruto.
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6 comentários:
Vi-o o ano passado e gostei mesmo muito.
Uma grata surpresa esse filme, muito por conta do Richard Jenkins que é um ator extraordinário!
Cultura na veia:
http://culturaexmachina.blogspot.com
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