domingo, janeiro 09, 2011

Críticas da Semana

Breve resumo dos filmes visualizados esta semana.

OSCAR E LUCINDA (1997), de Gillian Armstrong



Em meados do Séc. XIX, os caminhos de Oscar, um pastor anglicano com obsessivo talento para o jogo, e Lucinda, uma jovem herdeira que nutre especial carinho por póquer, cruzam-se numa viagem com destino à Austrália. Ostracizados pela sociedade que os rodeia, os dois iniciam uma relação íntima, mas nunca abertamente carnal, motivada pelo seu comportamento "patológico" semelhante.

Adaptação fiel do romance de Peter Carey, o filme oferece uma crónica visualmente rica sobre regras sociais, desenvolvimento industrial, debate religioso, colonialismo e sexualidade reprimida. Ralph Fiennes, numa interpretação plena de nuances, e Cate Blanchett (no seu primeiro papel em Cinema), é convincente na pele de uma mulher determinada em vencer numa era predominantemente masculina, apesar da sua permanente expressão de menina "traquinas". Um dos títulos britânicos mais curiosos dos anos 90.

I'M STILL HERE (2010), de Casey Affleck



Em finais de 2008, Joaquin Phoenix anunciava o fim da sua carreira como actor para se dedicar ao hip-hop. Ganhou peso, deixou crescer barba e cabelo e gerou perplexidade com uma série de embaraçosas aparições mediáticas (uma entrevista a David Letterman foi convertida em antológico exemplo de suicídio público). A tudo isto, juntou-se a promessa do documentário que testemunharia o seu processo de reinvenção artística. Ou seja, este filme, prontamente revelado como mockumentary aquando da sua exibição no último Festival de Veneza.

No final, fica a sensação de que I'M STILL HERE é uma elaborada farsa sem o mínimo de propósito (se é que alguma vez existiu essa intenção) mas salva pela corajosa e voluntária "ruína pública" empreendida por Phoenix. Pena que o espectador fique sem perceber o que ganha ou perde com a experiência. Em suma, e para grande desapontamento pessoal, é totalmente evitável...

THE FIGHTER (2010), de David O. Russell



Inspirado na história verídica de 'Irish' Micky Ward, boxer oriundo de Massachussets que, após um longo e penoso anonimato, sagrar-se-ia campeão mundial. A dramatização dos factos centra-se nos principais combates que o protagonista enfrenta fora do ringue: uma família disfuncional, um meio social problemático e, sobretudo, a figura do seu meio-irmão mais velho, em tempos um promissor atleta que veio a sucumbir à toxicodependência.

Filmada de câmara ao ombro e registando os intervenientes à distância (os close-ups são quase inexistentes), a narrativa sofre pela incapacidade de nos fazer torcer por Micky. O final, que deveria ser de pujança dramática e triunfo, acaba por ser a mera e típica conclusão feliz. No entanto, THE FIGHTER é um óptimo filme de actores: Christian Bale, com o seu retrato de "caso perdido" que encontra redenção aliado a (mais uma) radical transformação física, e Melissa Leo, unindo maternidade e matriarcado de forma extremamente natural, são duas apostas seguras para os Óscares de interpretações secundárias.

UNCLE BOONMEE WHO CAN RECALL HIS PAST LIVES (2010), de Apichatpong Weerasethakul



Boonmee, a padecer de insuficiência renal aguda, resolve passar os seus últimos dias com os familiares mais próximas numa propriedade rural do norte da Tailândia. Inesperadamente, é visitado pelos espectros da mulher, a qual oferece-se para ajudar nos seus tratamentos médicos, e do filho, que regressa a casa sob a forma de um macaco-fantasma. Um dia, Boonmee decide embrenhar-se na floresta em busca de uma misteriosa caverna — provavelmente, o local de origem da sua primeira vida...

Vencedor da Palma de Ouro no último Festival de Cannes, é um drama alegórico e sobrenatural sobre a fragilidade e mortalidade humanas. Hipnoticamente filmado, onde o espectador é convidado mais a sentir — e a ficar positivamente siderado — do que a identificar-se com a história ou personagens, demonstra o incondicional apego à natureza, preocupações político-sociais e surrealismo inspirado nas tradições tailandesas próprios de Weerasethakul, que aqui produz a sua obra mais madura até à data e o melhor filme asiático deste início de década.

3 comentários:

DiogoF. disse...

Estou a preparar um post em que também vou fazer algumas pequenas críticas, mas ainda me faltam ver alguns filmes. Uma delas é a Uncle Boonmee, um filme que achei verdadeiramente aborrecido, sem grande graça na fotografia, sequer.

Abraço.

Sam disse...

O Uncle Boonmee deixou-me fascinado. Os filmes do Apichatpong deixam-me sempre assim. São gostos... :)

Estarei atento às tuas críticas.

Abraço.

J. Luca disse...

Puxa, uma pena que The Fighter não correspondeu as expectativas... ainda manterei as esperanças, mas depois as pessoas não entendem pq Rocky é um clássico! Abraços

www.midnightdrivein.blogspot.com

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