domingo, março 13, 2011

Críticas da Semana

Breve resumo dos filmes visualizados esta semana.

BIBLIOTHÈQUE PASCAL (2010), de Szabolcs Hajdu



Para recuperar a custódia da filha, Mona (Orsolya Török-Illyés) conta a sua história de vida a um assistente social. Segue-se uma furiosa e surreal descrição de eventos, desde pessoas capazes de projectar e aceder a sonhos até à viagem pelos meandros de um bordel londrino que satisfaz fantasias sexuais recriando episódios de clássicos literários (Lolita, Joana d'Arc, Desdémona, ...).

‎'Surreal Social': assim se poderia intitular este filme. Vagueando, por vezes desequilibradamente, entre géneros cinematográficos e citando filmografias alheias (Kusturica, Dardenne, Almodóvar...), Hajdu oferece uma abordagem fresca sobre as diferenças culturais e económicas de uma Europa supostamente unida. Uma curiosidade de primeiro grau a todos níveis e indício de que o cinema surrealista está vivo e recomenda-se.

FILME SOCIALISMO (2010), de Jean-Luc Godard



Um ensaio sobre a Europa e o mundo, dividido em três momentos: num cruzeiro onde se fundem e entrelaçam várias histórias de viajantes de todas as partes do mundo; o retrato de um conflito familiar onde os progenitores são postos à prova; e o momento em que o realizador expõe as suas ideias sobre a Europa e o mundo contemporâneo.

Para além da sua óbvia capacidade de suscitar debate, pode-se deitar um olhar subjectivo sobre o filme e dele nada retirar. Do ponto de vista técnico, não estamos perante nada de revolucionário: já Michael Haneke fez este tipo de experiência audiovisual nos anos 90 (O SÉTIMO CONTINENTE ou 71 FRAGMENTOS DE UMA CRONOLOGIA DO ACASO, só para citar dois exemplos flagrantes) com maior sucesso. A "narrativa", dividida entre a denúncia aos comportamentos de consumo da nossa era e a reflexão sobre o Século XX Europeu, pouco transmite. Em suma, uma longa dissertação de um indivíduo cada vez mais determinado em não comunicar com a sua plateia. Godard rende-se à indulgência reservada a autores do seu estatuto...

ENTRELAÇADOS (2010), de Nathan Greno e Byron Howard



Por causa das propriedades mágicas (sobretudo, a da eterna juventude) dos seus cabelos, Rapunzel foi raptada e aprisionada numa torre pela maléfica Mother Gothel. Com o passar dos anos, a curiosidade da protagonista em conhecer o mundo exterior cresce, mas sempre contrariada. A súbita presença do charmoso mas desastrado Flynn Rider, o mais notório criminoso do reino, abre-lhe inesperadas perspectivas de liberdade.

Ninguém acerta melhor com timings de comédia e emoção como a Disney. ENTRELAÇADOS é o mais recente exemplar dessa tradição: em toda a sua simplicidade narrativa e sem desejos de quebrar barreiras no que ao cinema de animação diz respeito, reinventa o eterno conto dos Irmãos Grimm com estilo e sagacidade. Que fique registado: Max, o cavalo, acaba de entrar para o "panteão" dos meus personagens favoritos da Disney.

INSIDE JOB — A VERDADE DA CRISE (2010), de Charles Ferguson



Documentário, narrado por Matt Damon, sobre os motivos que levou o planeta à crise económica e financeira actual.

Para quem (como eu) pouco compreendia acerca dos mecanismos inerentes ao "mercado dos derivativos" e como funciona o "controlo de riscos sistémicos", INSIDE JOB constitui fonte de informação bem documentada e exposta. A elevada possibilidade de suscitar sentimentos menos positivos no espectador, observador passivo de uma história de crime sem castigo, demonstra o seu poder enquanto peça de cinema não ficcional. Embora nutrisse predilecção pelo filme realizado por Banksy, INSIDE JOB mereceu o Óscar de Melhor Documentário recentemente arrecadado.

WASTE LAND (2010), de Lucy Walker



Vik Muniz, no auge de fortuna e popularidade internacionais enquanto artista plástico, decide conhecer em primeira mão o Jardim Gramacho, um dos maiores aterros sanitários do mundo, localizado no Rio de Janeiro. Durante dois anos, trava conhecimento com sete "catadores" de material reciclável e inspira-se nas suas vidas para uma exposição fotográfica solidária.

Abordando vários aspectos — do processo criativo de Muniz até à franca descrição da (inexistente?) condição social do "catador" — Lucy Walker não se concentra exclusivamente em nenhum deles mas logra expor, com sucesso, a essência de cada um. Assim, temos um documentário estética e visualmente impressionante (destaque para algumas imagens recolhidas no Jardim Gramacho), infundido da imortal mensagem «o teu destino é por ti escrito», mas que não evita situações de dramatismo fácil.

2 comentários:

Luís Azevedo disse...

Vou tentar ver Inside Job assim que possa. O filme do Banksy também estava excelente, mas foi uma pena os membros da Academia se terem "esquecido" do fantástico "Waiting for Superman", um dos melhores documentários de que tenho conhecimento.

Sam disse...

Luís,

também tenho imensa curiosidade em ver Waiting for Superman. Situação a resolver em breve...

Cumps cinéfilos.

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