Breve resumo dos principais filmes visualizados esta semana.
MAP OF THE SOUNDS OF TOKYO (2009), de Isabel Coixet
Ryu (Rinko Kikuchi) é uma rapariga solitária cuja frágil compleição marca um poderoso contraste à vida dupla que alimenta: trabalha de noite num mercado de peixe mas o seu verdadeiro rendimento provém de assassinatos encomendados. A sua missão mais recente é David (Sergi López), um empresário espanhol radicado no Japão por quem se apaixonará.
Drama intimista, sensual e atmosférico (ou não fosse este um filme de Isabel Coixet), pretende abordar vários temas sem convencer em nenhum, culminando num final que tem tanto de inconsequente como de previsível. Salienta-se o inteligente sound design durante a primeira meia hora de filme, revelando indícios sórdidos que a narrativa confirmará posteriormente. Merece visualização apenas pela sua aprimorada execução técnica.
MARADONA (2008), de Emir Kusturica
A história, queda e "ressurreição" de Diego Armando Maradona são analisadas pela lente documental de Emir Kusturica. Desfrutando de um acesso inédito à privacidade do futebolista, o realizador sérvio traça uma viagem íntima e pessoal às memórias e crenças de um dos mais mediáticos desportistas de todos os tempos.
É um documentário à Kusturica. Mas elaborado por um desinspirado Emir Kusturica: a certa altura, não sabemos se o filme é sobre Maradona ou se representa uma súmula do próprio cineasta, o qual decide associar a personalidade exuberante e de fácil auto-elogio do futebolista à carreira que forjou. O carisma do argentino, para o bem e para o mal, mostra-se digno de realce, fornecendo-nos a esperança de surgir, no futuro, um biopic de Maradona digno desse estatuto.
48 (2010), de Susana Sousa Dias
Durante 96 minutos, as fotografias de quem foi detido e torturado pela PIDE ao longo de 48 anos de ditadura salazarista (daí o título do filme) ocupam o ecrã acompanhados da descrição dos próprios retratados, em trémulos voz-off, que invocam memórias traumáticas do que viveram entre as instalações da Rua António Maria Cardoso e a prisão de Caxias.
Se a composição formal de 48 parece escassa em cinema, é porque a sua visualização proporciona uma experiência mais psicológica do que sensorial. A associação das vozes àquelas "mugshots", expostas em ralentie e dissolves, estimula não só a nossa capacidade de interpretação pessoal como também um certo poder de sugestão (embora alguns dos testemunhos sejam inegavelmente explícitos) para a compreensão das emoções de cada entrevistado. Todavia, se o Cinema é por excelência a arte de envolver o espectador, então 48 será das obras portuguesas mais cinematográficas de 2011...
WITHNAIL E EU (1987), de Bruce Robinson
Em 1969, dois jovens e desafortunados actores partilham um apartamento decrépito no centro de Londres. Com o objectivo de obter descanso e, na melhor das hipóteses, nova perspectiva acerca das suas vidas, decidem passar um fim-de-semana numa cidade rural, cujo clima é tão frio quanto a hospitalidade que lhes é oferecida. Muita chuva, pouca comodidade e a visita surpresa do tio homossexual de Withnail (Richard E. Grant) garantirão que as "férias" serão tudo menos repousantes.
Hoje totalmente dominado por um vincado cariz romântico, o cinema de humor britânico originou na década de 80 autênticas preciosidades de culto, das quais O SENTIDO DA VIDA (1983, Terry Jones), UM PEIXE CHAMADO WANDA (1988, Charles Crichton) e este WITHNAIL E EU são exemplos maiores. O desespero e a ruína auto-infligidos para fins cómicos, a requintada sátira aos hábitos de socialização ingleses e um fabuloso scene-stealing show de Richard E. Grant asseguram-lhe o merecido culto que lhe é conferido.
BIUTIFUL (2010), de Alejandro González Iñárritu
Uxbal (Javier Bardem) esforça-se para conciliar a segurança da sua família, o amor que nutre pela esposa bipolar e de quem está separado e a procura de trabalho que evitará a deportação de um grupo de imigrantes ilegais no seio do perigoso submundo criminal de Barcelona. Entretanto, é-lhe diagnosticado um cancro mortal, enfermidade que ele tentará ocultar até ao fim.
Para Iñarritu, o mundo é lugar de atroz sofrimento onde ninguém, física e espiritualmente, sai vivo. No seu melhor filme desde AMOR CÃO (2000), sobressaem os habituais temas da amargura humana e social assentes numa rigorosa direcção de fotografia (a cargo do sempre fantástico Rodrigo Prieto) e na emocional sonoplastia. A principal novidade reside na injecção de um intrigante realismo mágico que, sobriamente, não esconde o drama principal do argumento nem o enorme desempenho de Javier Bardem: se dúvidas existissem de que este mundo é mesmo pequeno para o seu talento, BIUTIFUL dissipa-as por completo.
domingo, maio 01, 2011
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