segunda-feira, julho 18, 2011

Críticas da Semana

Breve resumo dos principais filmes visualizados esta semana.

O CÓDIGO BASE (2011), de Duncan Jones



Numa missão que para ele era totalmente desconhecida, o Capitão Colter Stevens (Jake Gyllenhaal) apercebe-se de que faz parte de um programa experimental do governo, chamado O Código Base, que lhe vai permitir viver no corpo de outro homem durante os últimos oito minutos da sua vida.

No que será, provavelmente, um dos maiores retrocessos qualitativos dos últimos anos entre primeiro e segundo filmes, Duncan Jones (que em 2009 estreou-se com o muito interessante MOON — O OUTRO LADO DA LUA) assina aqui um thriller de ficção-científica cuja intrigante premissa — o início é tremendamente eficaz no estabelecimento de suspense — acaba por ficar enredada num protagonista a quem Gyllenhaal não empresta total convicção, em sub-plots pouco favoráveis ao ritmo e num terceiro acto que desafia as próprias ideias que o filme, a princípio, "designou" como temas. Ou um caso exemplar de como alguma ficção-científica, para seu bem, não deveria levar-se tanto a sério.

POST MORTEM (2010), de Pablo Larraín



Em 1973, durante os últimos dias da presidência de Salvador Allende, Mario (Alfredo Castro), empregado de uma morgue, apaixona-se por Nancy (Antonia Zegers), artista de cabaré. Quando as tropas de Pinochet tomam controlo do Chile, Mario perde o contacto com a mulher que ama, assiste em primeira mão às atrocidades cometidas sobre os opositores do novo regime e é chamado para registar oficialmente a autópsia do estadista deposto.

Outra fabulosa proposta recente e proveniente da América do Sul, onde o sufocante trabalho visual de Larraín sobrepõe-se ao rigoroso, frio e emocional retrato do povo chileno face aos acontecimentos que servem de cenário a POST MORTEM. Desde o primeiro plano — um engenhoso "ponto de vista" da parte inferior de um tanque a transitar por uma rua onde apenas se observam detritos — até à sua aterradora conclusão, somos testemunhas do esvaziar de alma do metafórico protagonista, como raramente o cinema conseguiu tornar tão palpável. Destaque obrigatório para Alfredo Castro, actor que preenche um ecrã apenas com o olhar. Muito recomendado.

RAPT (2009), de Lucas Belvaux



Stanislas Graff (Yvan Attal), poderoso e abastado homem de negócios, é raptado. Enquanto sucumbe à privação e ao sofrimento que lhe é imposto durante a sua prisão, sequestradores, polícia e administração da empresa por ele gerida negoceiam um resgate no valor de cinquenta milhões de euros.

Sólido mas não inteiramente exemplar, Belvaux concebe um thriller político com argumento bem construído, fotografia e montagem reminiscentes de uma obra de Costa Gravas e interpretações de qualidade — sobretudo Attal, que nos faz simpatizar por uma personagem de dúbio carácter e pela enorme personificação dos efeitos físicos e psicológicos causados por um cativeiro forçado — mas nunca o eleva aos patamares multifacetados que nomes como Hitchcock ou Polanski atingiriam com este material. Merece, no entanto, visualização.

ATTENBERG (2010), de Athina Rachel Tsangari



Numa pequena cidade industrial do litoral, Marina (Ariane Labed) mantém uma relação próxima com o pai (Vangelis Mourikis), a padecer de um cancro em fase terminal. As suas únicas experiências sexuais foram adquiridas com a amiga Bella (Evangelia Randou) e encontra nos documentários de David Attenborough uma forma de compreender a vida.

Comparar ATTENBERG ao magnífico CANINO (2010) é tentador e, pela sua proximidade geográfica, formal e temática, quase obrigatório. Contudo, Rachel Tsangari destaca-se de qualquer outra semelhança ao título supracitado pela irresistível atmosfera criada, na forma como filma os cenários urbanos e naturais deste particular "microcosmos" e, acima de tudo, pelos contornos filosóficos — a dualidade sexo versus morte e os dilemas da condição humana predominam — inerentes a este conto de amadurecimento pessoal. Concluímos que se assiste a um fenomenal e excitante renascimento do Cinema Grego (afinal, não vive só de Theo Angelopoulos...) e é motivo de regozijo que a crise naquele país seja "apenas" financeira e não criativa.

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