sábado, janeiro 21, 2012

5 Momentos Memoráveis

#15: No Subtitles Required

O ARTISTA (estreia prevista, em Portugal, para 2 de Fevereiro), de Michel Hazanavicius, é um dos títulos do momento: para além de assumir largo favoritismo na corrida ao Óscar de Melhor Filme, comprova que crítica e plateias contemporâneas ainda são capazes de se renderem a uma história sobre a era do cinema mudo filmada ao estilo daquela mesma época: silencioso (apenas possui acompanhamento musical), a preto e branco e registado no aspect ratio dos anos 20.



Embora a produção cinematográfica nas últimas oito décadas tenha sido dominada pelo sonoro, é possível encontrar, nesse espaço de tempo, inúmeros e óptimos exemplos do quão dispensável os diálogos podem ser num filme. Os cinco momentos abaixo destacados (acompanhados da sempre obrigatória menção honrosa) revelam e partilham com o espectador factos e emoções sem recorrerem a qualquer oratória — e provam que o Cinema foi, é e será, primordialmente, uma arte visual.

MENÇÃO HONROSA: DUCK SOUP — OS GRANDES ALDRABÕES (1933), de Leo McCarey



Leo McCarey foi um dos poucos cineastas que soube trabalhar e elevar o talento cómico dos Irmãos Marx. E esta sequência, onde Harpo tenta esconder a sua identidade de Groucho imitando o reflexo deste num espelho, será das mais pragmáticas para a compreensão daquela colaboração. Em jeito de curiosidade, note-se que Harpo Marx recriou este número, anos mais tarde e com Lucille Ball, na série televisiva I LOVE LUCY.



5. 2001: ODISSEIA NO ESPAÇO (1968), de Stanley Kubrick



Célebre pela sua frugalidade de diálogos, a ficção-científica de Stanley Kubrick utiliza música, efeitos sonoros, imagética experimental e um fabuloso trabalho de montagem para unir as "pontas" de uma história sobre tecnologia, inteligência artificial e evolução humana. E, nesse âmbito, não haverá cena mais emblemática do que esta: a condensação de milhões de anos no espaço de um simples piscar de olhos...



4. THE PARTY (1968), de Blake Edwards



Peter Sellers tem lugar cativo no "panteão" que reúne o génio pantomímico de Charles Chaplin, Buster Keaton, Stan Laurel e Oliver Hardy. O melhor exemplo disso será esta sequência, de uma peculiar colaboração entre Sellers e Blake Edwards, onde um actor de origem indiana é capaz de transportar o "problema técnico" de um autoclismo até proporções inimagináveis. E sem murmurar uma única palavra...



3. DU RIFIFI CHEZ LES HOMMES (1955), de Jules Dassin



Neste clássico do cinema noir francês, Dassin dedica um quarto da sua duração a uma das sequências de assalto, do ponto de vista técnico, mais ambiciosas e brilhantes da história do Cinema — e fá-lo em quase absoluto silêncio. Pela ausência de elementos familiares como diálogo e/ou música, o suspense no espectador não só é intensificado como atinge níveis eficazes de desconforto. Brian DePalma, o "imitador" por excelência, homenagearia, quarenta anos depois, esta sequência em MISSÃO: IMPOSSÍVEL.





2. A MULHER QUE VIVEU DUAS VEZES (1958), de Alfred Hitchcock



No seu âmago, esta obra-prima de Hitchcock é uma história de obsessão, patente na face do detective Scottie (James Stewart) assim que observa, pela primeira vez, Madeleine (Kim Novak). O estilo visual desta sequência — pelos seus esquema cromático, movimentos de câmara e rigorosos enquadramentos, revela-se um prodígio de fotografia — antevê a "vertigem passional" do protagonista pela mulher de que ele está encarregue de seguir e vigiar pelas ruas de São Francisco. Puro cinema em minuto e meio de metragem.



1. BLOW-UP — HISTÓRIA DE UM FOTÓGRAFO (1966), de Michelangelo Antonioni



Ousada peça de cinema: uma sequência composta por nada mais do que um fotógrafo a ampliar secções de fotografias já de si ampliadas e a posterior descoberta de que a sua câmara registou mais do que um simples encontro amoroso, apenas ilustrada pela audição do vento a "suspirar" entre a folhagem do jardim em que as imagens foram tiradas. Embora o espectador seja guiado para o que deve encontrar, Antonioni exibe aqui (juntamente com a cena final de BLOW-UP) um dos momentos seminais no que toca ao poder da narração exclusivamente visual do Cinema.





4 comentários:

Inês Moreira Santos disse...

Acho que fizeste excelentes escolhas para exemplificar este post.

Distanciando-me um pouco dos teus exemplos e recorrendo a mais dois filmes deste ano, o próprio Drive ou o Essential Killing são bons exemplos de como uma imagem pode valer mais do que mil palavras.

Cumprimentos cinéfilos,

Inês

Sam disse...

Inês: obrigado. E os exemplos que dás são mais duas provas — e bastante recentes, por sinal! — de uma das principais intenções deste post: demonstrar que o Cinema é, sobretudo, uma arte visual, cujas emoções subjacentes a um filme podem ser transmitidas de forma não-verbal.

Cumps cinéfilos.

ArmPauloFerreira disse...

Post muito interessante. Apreciei bastante a escolhas de "2001" e sobretudo de "Vertigo". Well done!

Sam disse...

Obrigado, ArmPauloFer!

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