Breve resumo dos principais filmes visualizados esta semana:
. O DEUS DA CARNIFICINA
. TEXAS KILLING FIELDS
. MONEYBALL
. BELLFLOWER
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. O DEUS DA CARNIFICINA (2011), de Roman Polanski
Os Longstreet (John C. Reilly e Jodie Foster) e os Cowan (Christoph Waltz e Kate Winslet) reúnem-se civilizadamente para conversar a propósito duma cena de violência entre os dois filhos de onze anos. E, no decorrer de uma tarde, os dois casais revelam a sua verdadeira natureza.
Na sua génese, O DEUS DA CARNIFICINA era um projecto cinematográfico com todos os ingredientes para a concepção de um filme electrizante em todos os sentidos: elenco infalível, fonte literária mordaz e apurada e o background de Polanski na adaptação de peças de teatro (veja-se o impressionante mas sonegado pelo decorrer dos anos A NOITE DA VINGANÇA) e proficuidade narrativa em espaços exíguos (patenteado em REPULSA ou O INQUILINO).
Surpreendentemente, esta verborrágica demonstração de inumanidade urbana não ganha muito com a sua transposição para o grande ecrã, deixando-nos perante um filme pouco "cinemático". Em contrapartida, temos a exibição de talento por parte do elenco (sobretudo o inevitável Christoph Waltz, numa divertidíssima composição de white trash capitalista e incapaz de largar o telemóvel mesmo quando a discussão atinge níveis incendiados) e a nossa atenção irremediavelmente virada para a acutilância dos diálogos, os quais são a força motriz de um título capaz de reacender o debate sobre o carácter filmíco de algumas produções teatrais. Já agora, estejam atentos a mais um muito discreto cameo do próprio Roman Polanski...
. TEXAS KILLING FIELDS (2011), de Ami Canaan Mann
Nos pântanos de uma pequena localidade do Texas, um detective local (Sam Worthington) forma parceria com Brian Heigh (Jeffrey Dean Morgan), um polícia de Nova Iorque, para investigar e solucionar uma série de homicídios.
Primeiro filme de Ami Canaan Mann, filha do também realizador Michael Mann, é uma obra onde abundam os tiques de estreante e a influência genética de quem deseja seguir "trajectos paternais". E embora tenhamos a adequada atmosfera suja e húmida do sul do Texas, parecendo emular, a espaços, um episódio de TWIN PEAKS (e isso muito antes de percebermos que Sheryl Lee integra o elenco), o argumento é um caos de relações mal desenvolvidas e pontas soltas em demasia.
Indeciso entre um comentário sobre a anarquia inerente a qualquer investigação criminal no seio de uma comunidade suburbana conservadora e os esforços da justiça para a resolução de um caso particular de violência doméstica, TEXAS KILLING FIELDS sofre, acima de tudo, por não ter apostado na velha fórmula do "quanto mais simples melhor" — a sua "dimensão" afecta também as interpretações, não sendo possível destacar quem está, neste contexto, mais inspirado. Num filme pelo qual nutria expectativas elevadas, acaba por me "consolar" a probabilidade de, num futuro próximo, ser-nos disponibilizado o seu director's cut.
. MONEYBALL (2011), de Bennett Miller
A história de Billy Beane (Brad Pitt), director desportivo da equipa de beisebol Oakland A's, que procura compensar um orçamento reduzido para transferências de jogadores com a aplicação de análise estatística e informática para recrutar os melhores talentos disponíveis.
Título apropriado para fãs de Brad Pitt e/ou de beisebol (e estejam atentos para a sua presença nas principais atribuições de prémios que agora se avizinham), MONEYBALL é um daqueles exemplos flagrantes de filme sobre vitórias morais com um determinado enquadramento — neste caso, o desportivo — como pano de fundo sem nunca conseguir elevar-se da mediania sobrevalorizada.
Não sendo desprovido dos seus momentos distintos — o detalhar do método matemático para a constituição de uma equipa de beisebol vencedora ou a sugestão de como a neurose supersticiosa do general manager protagonista pode influenciar o desenlace de um jogo são pautados por um trabalho de montagem muito eficaz — e de uma interpretação segura (quem sabe, premiada) por parte de Brad Pitt, MONEYBALL sofre, acima de tudo, da "estranheza" que o seu assunto poderá encontrar fora dos EUA (frases como «He gets on base a lot» serão autênticos mistérios para mim até ao dia em que me inteirar das regras da modalidade...) e de uma metragem desnecessariamente longa. Todavia, recomenda-se a visualização.
. BELLFLOWER (2011), de
Evan Glodell
Dois amigos (Evan Glodell e Tyler Dawson) decidem concretizar um sonho de infância inspirado em MAD MAX: construir um carro apetrechado de lança-chamas e garantir, assim, a sua sobrevivência quando o "Apocalipse" acontecer. Entretanto, um deles apaixona-se e enceta numa viagem de traição, ódio e infidelidade com consequências extremas.
Encarem-no como uma "resolução de Ano Novo", mas passarei a dar, sem reservas, nota muito positiva a todo o filme que se revelar tão visualmente impressionante e semi-inovador quanto este BELLFLOWER, cuja estética aparenta soçobrar a vacuidade de uma história que explode (literalmente, aliás) na sua última meia-hora. Obra de intensa paixão, energia e carácter pessoal — note-se que o realizador também é aqui a personagem principal —, confunde deliberadamente o espectador através da sua narrativa não-linear, linhas temporais alternativas e ausência de motivações dos intervenientes para culminar numa das mais arrepiantes "dor de corno" a que assisti em tempos recentes.
Embora o argumento não esteja livre de falhas — e quando Glodell tiver um em seu poder que não as tenha, então veremos mesmo algo de realmente único —, o seu esquema cromático onde o amarelo-quente é predominante, o seu pragmatismo trágico digno de Michael Haneke e as suas referências pop tornam-no num projecto a não perder de vista. Mesmo que ainda não possua data prevista de estreia em Portugal...
domingo, janeiro 01, 2012
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