sábado, abril 13, 2013

O Cinema dos Anos 2000: Lilya Para Sempre, de Lukas Moodysson




LILYA PARA SEMPRE está longe de ser o melodrama comum. Se as provações experimentadas pela protagonista que empresta o nome ao título do filme podem afigurar-se como clichés (a jovem residente de um bairro social russo e filha não desejada que é abandonada, e mais tarde renegada, pela progenitora, tem de recorrer à prostituição para sobreviver, acabando vítima de uma rede europeia de tráfico sexual), mas a sensibilidade europeia, mística e pop de Moodysson convertem-no num objecto cinematográfico díspar e contundente.

O espectador percebe, logo a partir da primeira sequência (apresentada em extremo in media res), que a vida futura de Lilya (impressionante desempenho de Oksana Akinshina) não será venturosa: a ameaça do suicídio paira, desde o início, na composição de LILYA PARA SEMPRE, que narrará os eventos que a levarão àquele estado de espírito, colocando inexoravelmente o espectador segundo o — em alguns casos, literal — ponto de vista da personagem principal. Esse desconforto constante é intensificado pela noção de que Lilya não é um espírito resistente nem estóico, totalmente incapaz de controlar ou influenciar os incidentes em seu redor — e o único vestígio de altruísmo em Lilya é representado pela adopção (falhada) de Volodya, também ele adolescente, oriundo de uma família problemática e sem mostras de feliz provir.

Paralelamente ao drama pessoal do filme, trespassa em LILYA PARA SEMPRE uma profunda observação social de sabor neo-realista, numa óbvia chamada de atenção aos dilemas tecidos por uma Europa legalmente cada vez menos "fronteiriça". Nesse âmbito, é possível fazer o paralelismo com outro título europeu, dos anos 2000 (mas não abordado nesta iniciativa), dedicado ao tema: O SILÊNCIO DE LORNA (2008, Jean-Pierre e Luc Dardenne). Em ambos os casos, a exploração do infortúnio humano e a insensibilidade legislativa do "Velho Mundo" revelam-se inconciliáveis com a procura da felicidade das suas protagonistas femininas. Contudo, há sempre a esperança. Mesmo que essa réstia assuma a forma de um epílogo etéreo, gentil e filmado à "hora mágica" do dia.

por Samuel Andrade.

Elenco
. Oksana Akinshina (Lilja), Artyom Bogucharskiy (Volodya), Lyubov Agapova (Mãe de Lilja), Liliya Shinkaryova (Tia Anna), Elina Benenson (Natasha), Pavel Ponomaryov (Andrei)


Palmarés
. Festival Internacional de Gijón: Grande Prémio Astúrias (Lukas Moodysson), Melhor Actriz (Oksana Akinshina), Prémio Especial do Júri da Juventude (Lukas Moodysson)
. Festival Internacional de Estocolmo: Prémio Canal+ (Oksana Akinshina)


O Neo-Realismo dos Anos 2000

LILYA PARA SEMPRE demonstra um vincado estilo caracterizado pela atmosfera de autenticidade no seio de uma ficção narrativa. E os anos 2000 testemunharam a continuação e ascensão de cinematografias marcadas pelo neo-realismo. A Roménia — A MORTE DO SR. LAZARESCU (2005, Cristi Puiu; na imagem), 4 MESES, 3 SEMANAS E 2 DIAS (2007, Cristian Mungiu) —, a América do Sul — MACHUCA (2004, Andrés Wood), SEM NOME (2009, Cary Fukunaga) — e os próprios Estados Unidos da América — BALLAST (2008, Lance Hammer), WENDY & LUCY (2008, Kelly Reichardt) — são os principais representantes geográficos de um cinema socialmente interventivo e documental na última década.



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