terça-feira, abril 16, 2013

O Cinema dos Anos 2000: O Pianista, de Roman Polanski




Roman Polanski deixou o mundo atordoado em 2002 com o seu perturbador e realista O PIANISTA. Vencedor de três Oscars das sete categorias onde esteve nomeado, a longa-metragem relata acontecimentos da Segunda Guerra Mundial pelo olhar de quem a vivenciou — não somente do pianista Wladyslaw Szpilman, mas também do próprio realizador que viveu, na primeira pessoa, alguns dos acontecimentos de O PIANISTA.

Este tom duplamente autobiográfico confere, desde logo, à obra de Polanski, uma aura que a distingue de outros filmes que relatam a mesma época histórica, criando uma proximidade e tocando profundamente a plateia. Ao mesmo tempo, o protagonista não poderia ser melhor — exemplarmente escolhido pelo realizador —, Adrien Brody tem um desempenho arrepiante, vestindo a pele, de corpo e alma, a uma personagem exigente, tanto física como psicologicamente. O actor é o rosto do sofrimento, da perda, do vazio de uma Polónia devastada, e, ao mesmo tempo, representa a força e coragem de quem luta, contra tudo o que o poderia fazer desistir.

O PIANISTA é um retrato de humanidade, que mostra, sem qualquer receio, as atrocidades de que o Homem é capaz, num paradoxo capaz de emocionar. A banda sonora, composta por Wojciech Kilar, faz adensar o ambiente de tragédia e desolação que se vive do início ao fim, mas, ao mesmo tempo, inunda O PIANISTA de sensações e de uma força sem igual. A música, essa, está sempre presente, mesmo à margem da banda sonora, na própria personagem de Wladyslaw Szpilman, que mesmo resignado ao silêncio faz ouvir o som das suas teclas invisíveis.

A realização de Polanski arrisca e, aliada à direcção de fotografia, de Pawel Edelman, proporciona cenas inesquecíveis, numa Polónia escura e gelada — as cores neutras abundam —, em ruínas, e onde a guerra e a morte espreitam por toda a parte. Um dos momentos mais tocantes da película — se é que se pode destacar apenas um — é quando Szpilman toca piano para um oficial alemão, numa sala escura, onde um único foco de luz espreita por entre as cortinas e ilumina a cabeça do pianista, num subtil prenúncio do que o espera no futuro.

Roman Polanski trouxe em O PIANISTA um dos mais marcantes filmes da primeira década do século XXI, que se tornará, inevitavelmente, parte da História da Sétima Arte. Envolvente, brutal e cruel, um fiel retrato de uma dura realidade escrita na História Mundial.

por Inês Moreira Santos (Hoje Vi(vi) Um Filme, editora de cinema do Espalha-Factos).

Elenco
. Adrien Brody (Władysław Szpilman), Thomas Kretschmann (Capitão Wilm Hosenfeld), Frank Finlay (Pai Szpilman), Maureen Lipman (Mãe Szpilman), Ronan Vibert (Andrzej Bogucki), Ruth Platt (Janina Bogucki), Emilia Fox (Dorota)


Palmarés
. Oscars da Academia: Melhor Realizador (Roman Polanski), Melhor Actor Principal (Adrien Brody), Melhor Argumento Adaptado (Ronald Harwood)
. BAFTA: Melhor Filme, Prémio David Lean — Melhor Realizador (Roman Polanski)
. Césares: Melhor Filme, Melhor Realizador (Roman Polanski), Melhor Actor (Adrien Brody), Melhor Fotografia (Pawel Edelman), Melhor Direcção Artística (Allan Starski), Melhor Banda Sonora (Wojciech Kilar), Melhor Som (Jean-Marie Blondel, Gérard Hardy, Dean Humphreys)
. Prémios da Academia Europeia: Melhor Fotografia (Pawel Edelman)
. Prémios Goya: Melhor Filme Europeu (Roman Polanski)
. Festival de Cannes: Palma de Ouro — Melhor Filme (Roman Polanski)
. Fotogramas de Plata: Melhor Filme Europeu (Roman Polanski)
. Prémios Sant Jordi: Melhor Filme Estrangeiro (Roman Polanski)
. National Society of Film Critics: Melhor Filme, Melhor Realizador (Roman Polanski), Melhor Actor (Adrien Brody), Melhor Argumento (Ronald Harwood)


Sobre Roman Polanski

Vagueando por géneros e temas diversos, numa abordagem narrativa pessimista, cruel e sombria (canalizada a partir das suas próprias amargas experiências enquanto jovem), Polanski tem imprimido uma marca única na Sétima Arte com títulos como A FACA NA ÁGUA (1962), REPULSA (1965), A SEMENTE DO DIABO (1968), CHINATOWN (1974), TESS (1979) e O ESCRITOR FANTASMA (2010). As tribulações da sua vida privada, desde o homicídio da sua então esposa Sharon Tate, em 1969, até às acusações de abuso sexual de uma menor, também fomentaram a popularidade de um artista procurado pela lei, mas desejado por admiradores de Cinema sempre perturbador.



3 comentários:

Inês Moreira Santos disse...

Foi mais uma vez um prazer colaborar com esta excelente iniciativa, Sam. Ainda por cima a falar sobre mais um dos meus filmes de eleição.

Cumprimentos cinéfilos :*

Sam disse...

Inês, mais uma vez, o meu profundo obrigado por teres aceite o convite.

E fico contente por teres sentido gosto em escrever acerca de O PIANISTA.

Cumps cinéfilos :*

Jorge Teixeira disse...

Grande filme, e a propósito, grande texto. Polanski tece aqui um dos seus melhores filmes, que merece com todo o mérito o destaque nesta iniciativa.

Cumprimentos,
Jorge Teixeira
Caminho Largo

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