sábado, maio 18, 2013

O Cinema dos Anos 2000: O Regresso, de Andrei Zvyagintsev




Depois de uma longa e inexplicável ausência, o pai dos jovens Andrey e Ivan regressa a casa (uma moradia envelhecida e soturna, a qual indica, só por si, os tempos difíceis vividos por esta família), parecendo não querer perder muito tempo em reatar os laços afectivos com a sua prole. O primeiro passo configura-se na viagem que os três empreendem com o propósito de irem pescar. Aos poucos, a alegre perspectiva, para os dois irmãos, de uma experiência emocionante esvanece-se perante o gradual comportamento estranho e agressivo do pai e, tal como a natureza da ilha escolhida para a pescaria, o ambiente entre eles torna-se primal, hostil e violento.

O REGRESSO, impressionante primeira obra de Andrei Zvyagintsev, permite-se à multiplicação de leituras da história, mensagem e sentimentos encerrados no filme. Mas não obstante a interpretação que se lhe quiser conferir, e a importância da figura paterna nesta narrativa, as atenções de O REGRESSO estão focadas em Ivan e Andrey. Mais precisamente, no modo como os jovens reagem, lidam e maturam com uma crise "filial" gerada pela aparição e comportamento do pai, e do desespero advindo de um irrefutável colmatar, com tormenta, desilusão e impetuosidade, ao défice de influência paternal nas suas vidas.

Para os jovens protagonistas (Vladimir Garin e Ivan Dobronravov, em duas magníficas interpretações que vão muito para além de instinto juvenil), a única manifestação evidente do carácter do pai surge perto do fim, num momento de genuíno altruísmo que poderia ser descrito como amor incondicional. Se essa atitude empresta-lhe, ou não, méritos de redenção, eis uma das muitas ambiguidades do filme, favorecendo o convite que nos é endereçado, por Zvyagintsev, para o debate e reflexão, convertendo O REGRESSO num dos filmes europeus mais provocantes dos anos 2000.

por Samuel Andrade.

Elenco
. Vladimir Garin (Andrei), Ivan Dobronravov (Ivan), Konstantin Lavronenko (Pai), Natalia Vdovina (Mãe)


Palmarés
. Prémios da Academia Europeia: Revelação do Ano (Andrei Zvyagintsev)
. Festival de Veneza: Leão de Ouro (Andrei Zvyagintsev), Prémio SIGNIS (Andrei Zvyagintsev), Prémio 'CinemAvvenire' (Andrei Zvyagintsev), Prémio Luigi De Laurentiis ((Andrei Zvyagintsev, Dmitri Lesnevsky), Prémio Sergio Trasatti (Andrei Zvyagintsev)
. Festival Internacional de Gijón: Prémio Especial do Júri (Andrei Zvyagintsev), Melhor Actor (ex-aequo Vladimir Garin, Konstantin Lavronenko, Ivan Dobronravov), Melhor Argumento (Vladimir Moiseenko, Aleksandr Novototskiy-Vlasov)



2 comentários:

Rafael Barbosa disse...

Merecido destaque. Um grande filme com belíssimos planos. Identifico-me um pouco na temática nele tratada. Já agora, viste o "Elena" do mesmo realizador? Claramente inferior na minha opinião, mas ainda assim um bom filme.

Cumprimentos,
Rafael Santos
Memento mori

Sam disse...

Rafael, o trabalho visual deste O REGRESSO é, igualmente, outro ponto alto.

Sim, conheço o ELENA, também gosto muito e há crítica do mesmo aqui no blog: http://sozekeyser.blogspot.pt/2012/03/criticas-da-semana_18.html#elena

Obrigado pelo comentário!

Cumps cinéfilos.

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