quinta-feira, fevereiro 22, 2007

SCOOP (2006), de Woody Allen



Costumo dizer que um ano sem a estreia do "filme de Woody Allen" é um ano incaracterístico. Felizmente, 2006 não foi assim. A comunidade cinéfila pôde desfrutar da nova criação do realizador norte-americano, nomeadamente esta comédia em tons de romance e mistério. E, novamente, somos brindados com hora e meia de cinema made in Woody Allen.

A principal nota que se extrai de SCOOP é que, embora Allen se destaque por conceber histórias originais, é indisfarçável o vislumbre, nos dias que correm, de alguma auto-homenagem às obras anteriores do cineasta sem, contudo, perder a sua frescura narrativa habitual. Veja-se, em 2005, o magnífico MATCH POINT, puro reflexo dessa obra maior que se intitula CRIMES E ESCAPADELAS (1989). No presente caso, Allen recorda, em parte, filmes como O AGENTE DA BROADWAY (1984) e O MISTERIOSO ASSASSÍNIO EM MANHATTAN (1993), duas narrações onde o crime e o humor eram ingredientes inseparáveis, construindo inegáveis referências aos film noir da década de 40 – sobretudo, PAGOS A DOBRAR (1944).



SCOOP (calão inglês para “notícia escandalosa”) é a história de Sondra Pransky (Scarlett Johansson), estudante de jornalismo americana a residir temporariamente em Londres, que obtém, por via sobrenatural, o seu primeiro e grande furo jornalístico, especificamente a identidade de um serial killer, cujos crimes continuam a confundir a polícia, a atrair a imprensa e a aterrorizar a opinião pública. Aliando-se a um vulgar ilusionista, Sid Waterman (o próprio Woody Allen) – que, em palco, utiliza o pseudónimo “O Grande Splendini” -, Sondra deduz que o autor desta onda de crimes é Peter Lyman (Hugh Jackman), o descendente de uma família aristocrata e milionária de Londres…

Relativamente à estrutura narrativa, e correndo o risco de parecer redundante, o filme exibe os mecanismos frequentes de Woody Allen: as reviravoltas do argumento, os episódios rocambolescos, os trocadilhos culturais, etc. Para além disso, está presente a maioria dos temas anteriormente abordados pelo autor, como a questão da sua ascendência judia ou o medo da morte – repare-se no pormenor do “barqueiro da morte”, concebido de forma curiosíssima.



Numa altura em que perdi a conta à quantidade de filmes já realizados por Woody Allen, cada estreia de uma obra sua é considerada evento de destaque. E, apesar de já não existir a capacidade de definir os rumos actuais do Cinema, não será desta que o cineasta norte-americano irá frustrar a sua indefectível legião de fãs. Para mais, Allen começa a tomar o gosto de “brincar” com os subtis truques visuais possibilitados pela mesa de montagem, na que será a principal novidade na filmografia recente do realizador.

Em última análise, SCOOP não é um filme tão incisivo e provocante quanto foi MATCH POINT. Onde este último era filosófico e cruel, SCOOP é leve e directo, sem abordagens morais de qualquer espécie. Estamos perante o conhecido produto “indolor” de Woody Allen, acompanhado das já referidas alusões à sua própria carreira. Com baterias apontadas (só) para os seus profundos admiradores – e eu sou um deles.

1 comentário:

C. disse...

Eu também! :)

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