quarta-feira, janeiro 05, 2011

Críticas da Semana

Breve resumo dos filmes visualizados esta semana.

BURIED (2010), de Rodrigo Cortés



Durante 90 minutos, acompanhamos a agonia de Paul Conroy que nos surge, sempre e a princípio inexplicavelmente, fechado dentro de um caixão enterrado vários metros abaixo do solo. A sua única "companhia" é um telemóvel, ali colocado por perversos motivos de índole política, através do qual tem a possibilidade de contactar com o mundo exterior em busca de ajuda.

Puro exercício de estilo que testa a resistência do espectador numa narrativa confinada a um único e mal iluminado cenário, sobressai a mestria técnica patenteada (sobretudo, a direcção de fotografia, claustrofóbica mas extraordinariamente dinâmica) e um Ryan Reynolds com surpreendente capacidade dramática. O temor de sermos enterrados vivos está de regresso ao grande ecrã...

WINTER'S BONE (2010), de Debra Granik



Com 17 anos, Ree Dolly não tem uma vida pródiga em comodidades: para além de cuidar da mãe enferma e de dois irmãos menores, vê-se obrigada a saber do paradeiro do pai, um fabricante de metanfetamina foragido, quando descobre que ele apresentou a própria casa para uma fiança cujas condições nunca foram satisfeitas. Nesse processo, tem a sua primeira e crua experiência com as regras e interacções de poder de uma comunidade Ozark.

No meio rural, onde a natureza envolve, tudo se apresenta animalesco — o mesmo se pode dizer das personagens e situações de WINTER'S BONE, numa história de sobrevivência revestida de estudo social filmada em estado "bruto", onde a figura cinematográfica do redneck não aparece como criminoso empedernido nem objecto de humor. Jennifer Lawrence arrasa num desempenho em que só a intensidade do olhar lhe retira juventude e John Hawkes merece, definitivamente, uma nomeação a Oscar.

EASY A (2010), de Will Gluck



Olive, uma estudante com percurso quase invisível para colegas do sexo masculino, vê a reputação liceal modificar-se completamente quando uma mentira sobre a sua vida sexual ganha contornos de verdade inquestionável. Decide, então, tirar proveito da fama de rapariga promiscua, procurando subir no seu estatuto social e financeiro.

Comédia teen com momentos inspirados mas nunca memoráveis, consegue transmitir uma peculiar metáfora sobre o poder (de destruição) do boato. Emma Stone, omnipresente, torna interessante um argumento simples, fazendo lembrar, a espaços, uma jovem Kathleen Turner. Num elenco superpovoado, lamenta-se que não seja dado mais tempo de ecrã a alguns secundários, nomeadamente Amanda Bynes, Lisa Kudrow e Thomas Haden Church. E como é possível que Malcolm McDowell continue a desperdiçar-se desta maneira? A crise mostra-se assim tão severa?

NEVER LET ME GO (2010), de Mark Romanek



Kathy, Tommy e Ruth vivem num mundo e tempo muito semelhante ao nosso mas, simultaneamente, totalmente diferente. Desde a infância que lhes está reservado um destino atroz, o qual é encarado de forma quase resignada e altera-lhes a perspectiva acerca de amor e amizade.

Inspirado no romance homónimo de Kazuo Ishiguro, é um drama com toques de realidade alternativa (ou ficção científica?) que nunca envolve o espectador. Muito é explicado e denunciado desde o início e, como consequência, o interesse pelas personagens desvanece. Andrew Garfield (tal como em A REDE SOCIAL), pela sua "fuga" à contenção formal de todo o filme, é o nome a reter do elenco . Como já é hábito em Mark Romanek, NEVER LET ME GO tem a melhor fotografia de 2010 que nunca concorrerá a prémios.

7 comentários:

Jorge Rodrigues disse...

Bem, tenho alguns pontos que vou realçar que adorei nas tuas críticas:

- Emma Stone comparada a Kathleen Turner. Ainda lhe fizeste mais justiça que eu, que a vejo (ainda só) como uma digna sucessora da Anna Faris;

- NEVER LET ME GO não criar apego ao espectador. É bem verdade. Não tem sequer comparação com o livro. O problema principal, já o disse e repito (e vou mencionar na minha crónica depois) é que como quiseram seguir tanto o livro, acabaram por perder depois o tom de intimidade, de calor e pulso emocional que o livro tem naturalmente e que em filme tem que ser criado com alterações em relação ao texto literário. O que não foi feito. Concordo em absoluto com a fotografia.

- BURIED é, à falta de melhor palavra... interessante. Ryan Reynolds é que me surpreendeu imenso. Eu sempre lhe achei piada como actor mediano de comédia mas aqui ele subiu mesmo o nível.

- Jennifer Lawrence e John Hawkes. E eu juntaria Dale Dickey. Aliás, todo o elenco de WINTER'S BONE é excepcional. O filme, no seu todo, é brilhante, mas só porque resulta da soma de cada parte individual também ela brilhante. Tudo funciona na perfeição e nota-se depois no produto final. O filme que mais me surpreendeu em 2010.


Cumprimentos,

Jorge Rodrigues
Dial P For Popcorn

Sam disse...

Jorge,

Antes de mais, obrigado pelas tuas achegas aos "veredictos" :)

Não é que a Emma Stone seja uma nova Kathleen Turner, mas a voz e algumas expressões faciais da actriz suscitam-me a comparação.

E concordo com a tua opinião sobre o BURIED: é interessante, mas não fará história.

Fico à espera do teu texto sobre o NEVER LET ME GO!

Abraço!

Anónimo disse...

tenho muito interesse em ver o buried.
de resto, nunca gostei muito de romanek, one hour photo não gosto e os videoclips idem. winter's bone é um filme que poderei vir a ver no futuro, mas só quando passar na tvcine. belo apanhado dos quatro filmes, como estou a ver que tu te focas muito em estreias fico à espera do teu veredicto em relação ao tron por exemplo (caso tenhas boas memórias de infância do filme original tal como eu)

cumprimentos
estendal:
http://segundoestendal.blogs.sapo.pt/

Sam disse...

Diogo,

tem "calhado" escrever sobre filmes recentes, mas na próxima semana (como, espero, verás) terá um título mais antigo.

Claro que tenho óptimas recordações do TRON de 1982! Assim que vir esta sequela, é óbvio que destacarei.

Cumps cinéfilos.

Rui Baptista disse...

Em relação ao "Never Let Me Go", gostei tanto do trailer que quis ler o livro primeiro. Só me chegou hoje, pelo que ainda vai demorar algum tempo - até porque estão outros livros à frente :(

Sam disse...

Rui, antes de mais, desculpas por só agora dar feedback.

Nunca li o livro, contudo dizem que é mais "sedutor" que a sua adaptação cinematográfica.

Cumps cinéfilos.

Os Filmes de Frederico Daniel disse...

"Enterrado": 2*

Há anos que queria ver "Enterrado" e vi-o recentemente, mas foi uma grande desilusão.
A história de "Buried" é bastante aborrecida, tal como o seu desenrolar.

Cumprimentos, Frederico Daniel...

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