segunda-feira, julho 11, 2011

Críticas da Semana

Breve resumo dos principais filmes visualizados esta semana.

WELCOME TO THE DOLLHOUSE (1995), de Todd Solondz

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Dawn (Heather Matarazzo) tem onze anos e sente-se absolutamente incompreendida tanto na escola como na sua própria casa. Feia, descuidada e sem nenhuma perspectiva romântica, a adolescente tenta sobreviver num ambiente, por si só, inflamado e hostil.

Na sua primeira longa-metragem para cinema, Todd Solondz demonstra todo o seu favoritismo pelo estilhaçar do american way of life (que atingiu níveis de "sadismo" em obras posteriores, como HAPPINESS — FELICIDADE), desconstruindo a ilusão de que tudo é mais simples e mais larga na adolescência... sobretudo, se a mesma for vivida nos subúrbios dos EUA, que aqui representam, indiscutivelmente, o alvo favorito do cineasta. Com a poderosa interpretação de Heather Matarazzo (actriz que merece maior reconhecimento) e o seu argumento mordaz, hilariante e incondicional, esta é uma autêntica jóia do cinema independente norte-americano dos anos 90. Muito recomendado.

VALHALLA RISING — DESTINO DE SANGUE (2009), de Nicolas Winding Refn

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Durante anos, um temível e silencioso guerreiro (Mads Mikkelsen) foi mantido prisioneiro e usado para combates a dinheiro por uma tribo celta pagã. Um dia, consegue escapar e decide acompanhar um exército de cristãos determinado a juntar-se às Cruzadas. Contudo, essa viagem fa-lo-à descobrir não só um Novo Mundo, mas também mais sobre si próprio.

No seu estilo brutal, etéreo e alucinatório, VALHALLA RISING será, pessoalmente, um dos melhores filmes que estreou nas salas portuguesas este ano: foge a qualquer género específico, recupera um certo soturno medieval próprio de Ingmar Bergman, Werner Herzog ou Vincent Ward, demonstra impecável trabalho formal (da fotografia à sonoplastia) e até se permite a exibir um descarado revisionismo histórico. Um filme que, apesar de escasso na caracterização das personagens ou em mensagens (se é que pretende transmitir alguma) relevantes, nem tão cedo sairá da memória do espectador. Cinema impressionante e de grande qualidade.

CARANCHO — ABUTRES (2010), de Pablo Trapero

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Na Argentina, mais de 8000 pessoas morrem, todos os anos, vítimas de acidentes de viação. Por trás dessa estatística, floresce um negócio de apólices de seguro ilegais e constantes explorações de "buracos" legais. Sosa (Ricardo Darín) é um advogado que trabalha para uma dessas empresas, cujo destino alterar-se-à por completo quando conhece e apaixona-se por Luján (Martina Gusman), uma paramédica de Buenos Aires.

Drama violento e frontal na denúncia aos sistemas legal e de saúde argentinos, vive da forma estupenda como a atmosfera é encenada — CARANCHO desenrola-se, quase inteiramente, em claustrofóbicas cenas nocturnas — mas falha no lado humano do seu argumento. Não nos é permitido motivações, para além das imediatamente reveladas, que nos faça identificar com as personagens: a distância emocional é omnipresente e o final, frio e narrativamente económico, adivinha-se a meio. No entanto, esta é mais uma prova da vitalidade contemporânea do cinema argentino (lembram-se de O SEGREDO DOS SEUS OLHOS, no qual Darín também era protagonista?), fenómeno que merece toda a atenção.

TRANSFORMERS 3 (2011), de Michael Bay

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Com o curso universitário terminado, Sam (Shia LaBeouf) tenta encontrar um emprego. No entanto, essa tarefa é subitamente interrompida pelos Autobots, que voltam a precisar da sua ajuda para salvar a Terra dos diabólicos planos dos Decepticons, desta vez liderados por Shockwave, um dos maiores aliados de Megatron.

No campo do blockbuster, admito que já vi muito pior (o segundo filme desta saga é um exemplo acabado disso mesmo). TRANSFORMERS 3 até possui um início auspicioso, que criativamente aborda a teoria da conspiração e o revisionismo acerca dos principais feitos da exploração espacial. Contudo, enceta numa estética de metal retorcido e explosões em catadupa — tecnicamente está irrepreensível, mas este título já entrou no meu "manifesto anti-3D" — repetitiva e tremendamente cansativa, numa história que nem clímax tem.

ENRON: THE SMARTEST GUYS IN THE ROOM (2005), de Alex Gibney

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O retrato íntimo de um dos maiores escândalos financeiros de todos os tempos, no qual a Enron, então a sétima maior empresa dos EUA, efectivou durante anos práticas corruptas e fraudulentas, os seus executivos lucraram milhões de dólares e culminou na falência dos seus investidores e empregados.

Mais do que um documentário explicativo e cronológico, ENRON apresenta-se como "drama da vida real", destacando as fragilidades humanas dos intervenientes para provar que foram estas a causar a ruína de um contexto empresarial que tinha tudo para ser venturoso sem recurso a práticas criminosas. Com narração do sempre eficaz Peter Coyote e uma ilustrativa banda sonora (que vai desde o politicamente correcto "Capitalism" dos Oingo Boingo até ao irascível "God's Away On Business" de Tom Waits), é mais um título para a compreensão do actual estado de coisas. Como só o cinema documental consegue proporcionar.

6 comentários:

ANTONIO NAHUD disse...

Fico com CARANCHO...

Cumprimentos cinéfilos!

O Falcão Maltês

Dora disse...

Desconhecia este filme do Todd Solonz mas vou já tratar de o arranjar. Gosto muito dele. O "Happiness" é muito crú. Adoro.

Sam disse...

António: gostaste do filme?

Dora: recomendo muito! O HAPPINESS tem maior poder de choque, mas este é puro Solondz.

J. Luca disse...

Infelizmente, Valhalla Rising não chegou aos cinemas brasileiros. Uma pena, realmente. Considero-o um dos melhores filmes de 2010, sem sombra de dúvida

Dora disse...

Já vem a caminho :-)

Sam disse...

J. Luca: realmente, é uma pena que os cinéfilos brasileiros não possam desfrutar desta impressionante obra de cinema em grande ecrã...

Dora: depois diz o que achaste! :)

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